Migalhas Quentes

Recebida queixa-crime contra desembargador por ofensas a advogada

Decisão da Corte Especial do STJ foi por 6x3.

23/9/2019

A Corte Especial do STJ recebeu parcialmente queixa-crime contra o desembargador Tutmés Airan, presidente do TJ/AL. Ele foi acusado pela advogada Adriana Mangabeira Wanderley de ofendê-la em áudio no WhatsApp em grupo com jornalistas. O placar final foi 6x3 pelo recebimento parcial da queixa.

A advogada narrou que, por ter denunciado o magistrado no CNJ alegando conduta inadequada em processo, foi alvo de palavras ofensivas por parte deste, que em grupo no WhatsApp, chamou-a de “vagabunda”, “desonesta”, “sacana”, “folha corrida”, entre outros termos.

O subprocurador-Geral da República Luciano Mariz Maia, na condição de custos legis, opinou pelo recebimento parcial da denúncia, por difamação e injúria, mas não por calúnia: “Ele reconhece que proferiu as palavras, que divulgou em grupo do WhatsApp para jornalista.”

O advogado Nabor Bulhões, patrocinando a defesa do desembargador, explicou que a causídica "imputou o mais grave risco que se pode imputar a um desembargador", a corrupção, e que tal deu azo à "campanha terrível e difamatória contra o desembargador". Conforme a defesa, não houve o animus de ofender nas palavras proferidas, pois o desembargador apenas "defendeu a dignidade pessoal e da instituição judiciária a que serve".

Renúncia tácita

O relator, ministro Mauro Campbell, considerou a ofensa ao princípio da indivisibilidade previsto no CPP, com renúncia tácita ao direito de queixa, uma vez que a querelante narrou na inicial exclusivamente a disseminação das notícias jornalísticas.

O fato descrito na queixa-crime diz respeito à divulgação por meio de publicações impressas e eletrônicas das ofensas que teriam sido imputadas pelo querelado por áudio de mensagens instantâneas. No entanto, [a inicial] só inclui o autor das mensagens tidas como injuriosas, deixando de incluir os responsáveis pela divulgação.”

Para Campbell, essa informação era de conhecimento da querelante, já que juntou aos autos as publicações, e, portanto, decretou a extinção da punibilidade por renúncia tácita ao direito de queixa. O voto do relator foi acompanhado pelos ministros Benedito Gonçalves e Joel Parcionik.

Gravidade

O primeiro a divergir foi o ministro Napoleão Nunes, que ponderou acerca da gravidade das ofensas proferidas pelo desembargador.

Todas as palavras humanas têm sentido em seu contexto. No contexto nordestino, a palavra vagabunda é algo extremamente ofensivo, tão ofensivo quanto chamar o juiz de corrupto. É extremamente ofensivo à honra, dignidade e decoro, seja advogada ou não. Peço vênia ao relator para receber a queixa-crime da querelante quanto à difamação e injúria e nisso sigo o parecer do douto Ministério Público. Ainda que a querelante tivesse adotado atitudes agressivas, a reação dele não poderia ser essa não. Ele poderia, deveria processá-la.

A ministra Maria Thereza destacou que “seria uma providência extremamente dificultosa” exigir que a autora trouxesse para a ação todas as pessoas que receberam o comentário.

O ministro Raul Araújo concluiu estarem presentes as práticas de difamação e injúria em concurso formal. Também o ministro Kukina, ao seguir a divergência, afirmou que há suficiente justa causa para o recebimento da inicial com relação à difamação e injúria. E afastou a observância do princípio da indivisibilidade porque entende que o vazamento, tendo ocorrido no âmbito das redes sociais, já se mostra suficiente a respaldar a propositura da demanda privada.

Por sua vez, a ministra Nancy Andrighi afirmou: “Tenho que as palavras que foram ditas são de gravidade imensa.” Última a votar, a ministra Laurita Vaz, ao seguir a divergência, disse que há elementos suficientes para recebimento parcial da queixa-crime.

Os termos imputados à querelante são extremamente graves e creio também que não há como reconhecer a renúncia ao direito de queixa. Como ela poderia chamar tantas pessoas à lide?

Uma segunda ação da querelante contra o querelado foi rejeitada por decisão unânime.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

STJ recebe queixa-crime de injúria de Jean Wyllys contra desembargadora do TJ/RJ

15/5/2019
Migalhas Quentes

Queixa-crime de juiz contra desembargadora por supostas ofensas em decisão é rejeitada

15/8/2018
Migalhas Quentes

Corte Especial rejeita queixa-crime de advogado contra desembargador

26/11/2013

Notícias Mais Lidas

PF prende envolvidos em plano para matar Lula, Alckmin e Moraes

19/11/2024

Moraes torna pública decisão contra militares que tramaram sua morte

19/11/2024

CNJ aprova teleperícia e laudo eletrônico para agilizar casos do INSS

20/11/2024

TRT-15 mantém condenação aos Correios por burnout de advogado

18/11/2024

Em Júri, promotora acusa advogados de seguirem "código da bandidagem"

19/11/2024

Artigos Mais Lidos

ITBI na integralização de bens imóveis e sua importância para o planejamento patrimonial

19/11/2024

Cláusulas restritivas nas doações de imóveis

19/11/2024

Estabilidade dos servidores públicos: O que é e vai ou não acabar?

19/11/2024

Quais cuidados devo observar ao comprar um negócio?

19/11/2024

A relativização do princípio da legalidade tributária na temática da sub-rogação no Funrural – ADIn 4395

19/11/2024