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Grifes da advocacia deixam o centro em São Paulo

1/8/2006


De mudança


Confira abaixo a íntegra da matéria "Grifes da advocacia deixam o centro - Empresas de renome fecham escritórios na região e mudam-se para bairros mais próximos dos clientes", publicada no jornal O Estado de S. Paulo de hoje (1/8/06 – página C8) .

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Grifes da advocacia deixam o centro


Empresas de renome fecham escritórios na região e mudam-se para bairros mais próximos dos clientes

Reduto tradicional de advogados, o centro de São Paulo está perdendo alguns de seus principais símbolos. Dos quatro maiores escritórios de advocacia do País - três estavam ali há décadas -, um já se mudou, outros dois estão de malas prontas para sair no próximo mês e o quarto foi e voltou. Todos deixam um pé no local, com pequenas unidades, mas as sedes acompanham o fluxo do dinheiro. A conveniência venceu a tradição.

A saída das grandes bancas sinaliza uma possível debandada de outros escritórios de renome. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que comemorou ontem seu aniversário em Brasília, planeja voltar à advocacia em janeiro num escritório na Avenida Brigadeiro Faria Lima. Antes, ficava na Avenida Liberdade. Os antigos sócios, titulares do Ráo, Cavalcanti & Pacheco Advogados, serão vizinhos. "As vantagens do centro acabaram e as desvantagens são muitas", disse Luiz Fernando Pacheco, um dos ex-sócios do ministro.

Segundo ele, prédios do Judiciário freqüentados pelos criminalistas também mudaram de endereço. "O Fórum Criminal da Justiça Estadual é na Barra Funda e a Justiça Federal, de primeira e segunda instâncias, na região da Avenida Paulista. Há 12 anos fala-se em revitalização, mas não sai do papel."

Se o centro deixou de ser o pólo empresarial da cidade a partir dos anos 80, com o crescimento da Paulista, agora é a vez de as Avenidas Faria Lima e Luís Carlos Berrini ganharem espaço. "Queremos ficar perto dos clientes", disse Moshe Sendacz, sócio do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, que deixará a Rua da Consolação rumo à Faria Lima em setembro.

Pelo mesmo motivo, o Pinheiro Neto Advogados mudou-se em junho para o prédio do extinto Banco Santos, na Marginal do Pinheiros. O Tozzini, Freire, Teixeira e Silva Advogados, localizado no Vale do Anhangabaú, vai para a Rua Borges Lagoa, na Vila Mariana. Volta ao bairro onde foi criado, para ficar mais próximo dos clientes.

O quarto grande escritório, Demarest & Almeida Advogados, acompanha essa transição há alguns anos. Em 1995, mudou-se do centro para a Alameda Campinas; em 2001, foi para o Centro Cultural Ohtake, em Pinheiros. Por fim, em 2004, abriu uma pequena unidade na Rua Líbero Badaró.

Desde a década de 1990, as maiores bancas reduziram o trabalho de intermediação das disputas judiciais e ampliaram a atuação em consultorias e negociação de contratos milionários. Assim, é preferível estar perto dos clientes, e não dos fóruns. O filão tão parecido explica por que as três grifes resolveram sair de lá ao mesmo tempo: enquanto todos estavam lá, havia um certo equilíbrio; se um só saísse, pareceria que os outros ficariam para trás.

O advogado José Luis de Salles Freire, sócio do Tozzini, explicou que decidiu mudar agora por conta da retomada da economia, que havia esfriado a partir de 11 de setembro de 2001 e começou a melhorar no ano passado. Como os escritórios trabalham diretamente com investimentos estrangeiros e compra e venda de empresas, a economia dita o ritmo de expansão.

Saudosismo

"Fazer reforma não compensaria. O prédio é antigo. Seria como colocar motor novo em carro velho", disse Alexandre Bertoldi, sócio do Pinheiro Neto. Há também o problema do trânsito. "A gente cobra por hora, não dá para perder tempo no trânsito", brincou Sendacz.

Os sócios estão entusiasmados com as novas sedes, mas não escondem um certo saudosismo. Não é à toa: fizeram faculdade no centro, estagiaram e arrumaram o primeiro emprego na região e acabaram por se instalar ali. "Vamos manter carinho pelo centro", disse Sendacz, cujo escritório adotou a pracinha em frente do prédio.

Apesar da saída das três grifes, o centro vai guardar referências da tradição. A maioria dos escritórios de pequeno e médio porte continuará lá. Segundo a OAB-SP, são 1.322 sociedades de advogados na região.

A característica do centro é a multifuncionalidade. O importante é que tenha um pouco de tudo, não tudo de alguma coisa", disse o presidente da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida, para quem a saída das grifes não preocupa. "Além dos escritórios de advocacia, há serviços e 30% da área ocupada pelo sistema financeiro ainda está aqui." É a resistência à debandada.

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Perto das Arcadas, o reduto dos bacharéis


Vizinho da Faculdade de Direito, Itamarati reúne o mundo jurídico

Depois das eleições para a presidência da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), há uma tradição: vencedores e perdedores se encontram no Restaurante Itamarati, na Rua José Bonifácio, bem perto da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. A euforia da comemoração ou a tristeza da derrota vêm a público em cima das mesas. "Quem ganha e quem perde sobe na mesa. Muita gente já caiu", diverte-se o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Indagado se já levou um desses tombos, saiu pela tangente: "Quase".

O restaurante é o principal ponto de encontro de advogados, promotores, juízes e professores de Direito da USP no centro de São Paulo. "É impossível ir ao Itamarati e não encontrar alguém conhecido. Se você não quer ver e ser visto no mundo jurídico, não vá até lá", avisa o secretário municipal dos Negócios Jurídicos, Luiz Antônio Guimarães Marrey. "A clientela é constante, os garçons sabem nossos pratos preferidos."

O circuito jurídico nas redondezas é rico porque se adaptou à presença maciça de profissionais do direito. "Pelo menos 50% dos nossos freqüentadores são advogados ou clientes dos escritórios próximos", disse Carlos Alberto Messias, um dos proprietários do Café Girondino, outro point dos bacharéis em direito, na Rua Boa Vista. Antes de o escritório Pinheiro Neto Advogados se mudar para o antigo prédio do Banco Santos, o especialista em direito ambiental Werner Grau Neto era um dos clientes mais fiéis. "Tinha vezes em que vinha de manhã, à tarde e à noite", lembrou um dos donos do café.

Os dois acabaram se tornando amigos e, para homenagear o advogado, o Girondino colocou seu nome em um prato que ele costumava pedir: espaguete na manteiga com ovo frito e pedacinhos de bacon. "Apesar de estar meio distante agora, ele ainda aparece, de vez em quando, para bater papo", revelou Messias.

O tributarista Raul Haidar lembra-se de um cliente ter fechado um contrato de R$ 90 milhões no Restaurante Walter Mancini. "Esses lugares estão muito próximos da gente e fazem parte do nosso dia-a-dia."

No centro, advogados também são vistos no Casserole, no Arouche, na Cantina do Piero, na Rua Roberto Simonsen, e no restaurante da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F).

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