"60 mil candangos foram necessários para desbastar, cavar, estaquear, cortar, serrar, pregar, soldar, empurrar, cimentar, aplainar, polir, erguer as brancas empenas...
- Ah, as empenas brancas! -
- Como penas brancas...
- Ah, as grandes estruturas!
- Tão leves, tão puras..."
(Sinfonia da Alvorada. Música: Antonio Carlos Jobim/ Poesia: Vinicius de Moraes)
Era dia 21 de abril de 1960 e o sol forte com o céu azul não poderiam aparecer em melhor hora. Juscelino Kubitschek inaugurava a cidade de Brasília. A história da capital Federal, que completa 58 anos nesta semana, endossa as palavras de Vinicius de Moraes em Sinfonia da Alvorada.
De fato, "foi necessário muito mais que engenho, tenacidade e invenção" para construir Brasília. Assista ao vídeo:
Desde 1817 já se falava da interiorização da capital do Brasil. O jornalista Hipólito José da Costa, em seus artigos publicados no Correio Braziliense defendia como a interiorização seria benéfica para o país:
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A construção de Brasília foi simbólica para o Brasil em muitos aspectos: ela significou o desenvolvimento nacional e chancelou, de vez, a marca de um país que estava pronto para a modernidade.
Mesmo sendo uma cidade nova, o projeto da mudança da capital do Brasil para o interior já estava previsto na primeira Constituição Republicana, datada de 1891. O seu artigo terceiro previa: "Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal".
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O governo de JK estava empenhado em mudar a imagem do país. A crescente industrialização e o desbravamento do interior desmontavam, aos poucos, uma economia essencialmente agrária, assentada na monocultura exportadora, e em arcaicos padrões de produção e de organização social.
Até então, os olhos dos brasileiros estavam voltados para o litoral, onde se localizavam as principais cidades. Mudar a capital para o interior também seria uma maneira de apaziguar os ânimos em momento de efervescência política, já que o Brasil interiorano ainda era, majoritariamente, desconhecido e pouco habitado.
A menina dos olhos de JK ficou pronta em 1960, após um apertado cronograma de trabalho, e colocou um ponto final ao projeto que perdurava longos anos. Brasília foi quase que um poema da arquitetura moderna, isso porque o arquiteto Oscar Niemeyer e o urbanista Lúcio Costa fizeram questão de deixar os Três Poderes devidamente bem acomodados com tudo o que a modernidade da época previa.
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(Fonte: Jornal O Globo, 1960)
No dia da inauguração de Brasília ocorreu também a instalação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os mais de mil quilômetros de distância do Rio de Janeiro deixavam claro que os destinos da política e do Poder Judiciário eram outros. Milhares de funcionários públicos, autarquias e empresas foram transferidas para o novo centro do poder.
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JK, claro, estava presente no Palácio do Congresso para a inauguração. O então presidente declarou que, sob a proteção de Deus, dava por inaugurada a cidade de Brasília, agora capital do Brasil.
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Novos ares para o STF
"Cabe-me, neste momento, a honra excepcional de inaugurar a sede do Supremo Tribunal Federal na nova capital da República dos Estados Unidos do Brasil. Honra que sobremodo me distingue, como magistrado e como brasileiro."
As palavras são de Barros Barreto, então presidente da Suprema Corte brasileira no dia da sessão solene de inauguração da sede do STF na capital Federal, às 9h30 do dia 21 de abril de 1960. Devidamente togados, os outros ministros da época discursaram sobre o simbolismo do começo de uma nova era com a mudança da sede do STF para Brasília.
(Fonte: Jornal Luta Democrática, 1960)
A transferência da sede para a nova capital Federal também foi ressaltada pelo ministro Nelson Hungria. "Talvez a nossa Justiça seja ainda mais caprichada em qualidade do que aquela que distribuíamos na velha Capital. Aqui estaremos no eixo geográfico do Brasil e poderemos, por isso mesmo, realizar, na frase de Rui Barbosa, o ideal de Justiça como eixo do regime democrático-liberal que nos dirige".
Entretanto, mesmo inaugurada em abril, os ministros só estreariam a nova casa meses depois, no dia 15 de junho, quando foi feita a total instalação do Supremo. Enquanto isso, os prazos processuais foram suspensos.
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(Fonte: Correio da Manhã, 1961)
Nestes 58 anos, Brasília computou uma população com mais de 3 milhões de habitantes, fazendo parte da 3ª região mais populosa do país. O projeto de Lúcio Costa foi exitoso: ao mesmo tempo em que se encontra uma cidade monumental, símbolo do progresso e modernidade para o país, Brasília também é uma cidade habitacional.
É dessa cidade feita sob medida que saem os nortes do país.