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Professor de Harvard palestra no STF sobre ética pública e democracia

O filósofo Michael Sandel participou de conferência nesta tarde no Supremo.

5/12/2016

O professor Michael Sandel, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, participou de conferência no STF nesta segunda-feira, 5. Sandel falsou sobre “Ética Pública e Democracia”, na sala de sessões da 1ª turma, a convite do ministro Luís Roberto Barroso.

Ao abordar o momento atual da democracia, não só no Brasil, mas no mundo, o professor afirmou que há "imensa raiva e frustração" entre os cidadãos, que estão incomodados com o modo que as instituições democráticas estão funcionando. De acordo com ele, "as pessoas não acreditam que os políticos e os partidos se interessam de verdade por elas".

"Há uma imensa raiva da população pelo modo como as instituições democráticas estão funcionando. Uma frustração com o sistema político. Decepção com o fracasso do discurso público.”

Destacando a diferença dessa insatisfação no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa, Michael Sandel citou a eleição de Donald Trump e a votação para a saída do Reino Unido da União Europeia. Segundo ele, a imprensa não previu Brexit e Trump, o que reflete o desencontro entre os grupos dominantes e a frustração da população. "Não devemos desprezar o voto no populismo."

Em relação ao mundo, o professor pontua que no Brasil há diferenças e similaridades. “A insatisfação parece ser igual. Já o movimento nativista parece menos acentuado."

“Sempre que eu venho ao Brasil eu sou impactado. Ainda que pareça que há uma crise após a outra, eu sou impactado pela energia positiva e pelo ativismo social que esses momentos de desafio parecem mobilizar.”

Durante a palestra, Michael Sandel contou sobre sua participação no programa “Caldeirão do Huck”, da rede Globo. No programa, o professor debateu com cidadãos de diversas regiões do Brasil sobre ética e o “jeitinho brasileiro”. Foram abordados assuntos relacionados à moralidade de avisar aos amigos onde está armada uma blitz, pagar alguém para passar o seu carro por ela e outros artifícios para burlar a lei. Também se debateu sobre “furar fila”, pirataria, dentro outros.

Muitos cidadãos estão zangados com os políticos corruptos. Porém, podem não ter observado exemplos em suas próprias vidas, em pequena escala, padrões de comportamento e hábitos, que são espécies de microcorrupções."

O professor fez um paralelo entre casos político/jurídicos do Brasil e dos EUA, como o de Nixon (presidente norte-americano que renunciou ao mandato após o Caso Watergate) e a Lava Jato. Ouça o áudio:

O escândalo de Watergate revelou que homens do Comitê Eleitoral de Richard Nixon pagaram para que fossem instaladas escutas no Comitê do Partido Democrata, na época em que Nixon disputava a reeleição à presidência com o candidato democrata George McGovern, em 1972. As investigações identificaram em fitas gravadas que o presidente sabia das operações ilegais e que tentou atrapalhar as investigações

O professor Sandel contou que o juiz do caso Watergate, que sentenciou os arrombadores do Comitê Nacional Democrata, desconfiou desde o início que havia algo a mais no assalto ao Comitê e fez pressão para que os arrombadores contassem o que estava por trás do crime. “O juiz usou tática da pressão para forçar a verdade (...) e se tornou um herói americano.”

“O juiz deu penas muito duras aos arrombadores, dizendo que iria reduzi-las se eles revelassem quem teria contratado eles. Algumas pessoas disseram que era coação, porem logo após, houve uma sentença preliminar, e depois os arrombadores confessaram que tinham cometido perjúrio, que tinham sido pagos por figurões, e ao mesmo tempo o Washington Post descobriu a verdade, e o juiz e a imprensa começaram revelar toda a história.”

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