Charge polêmica estampou a capa do jornal O Globo, do Estado do RJ, na última quarta-feira, 20. Assinada por Chico Caruso, a charge reproduz uma clássica cena de filmes de faroeste, com um pistoleiro parado na porta do saloon, e uma série de políticos amedrontados atrás, com o seguinte diálogo:
"– E esse aí, é mocinho ou bandido? – Pior: é advogado!"
A publicação foi duramente criticada por entidades e advogados.
Em texto publicado no Facebook, o deputado Federal Wadih Damous, ex-presidente da OAB/RJ, manifestou sua insatisfação diante da atitude, afirmando que a charge afronta e desrespeita os advogados. Veja a íntegra.
O puxa saco e a advocacia
A charge assinada por Chico Caruso, no jornal O Globo, ultrapassou a todos os limites do achincalhe. A tal charge afronta e desrespeita uma categoria profissional que possui uma honrada folha de serviços prestados ao país. E não a tratemos como mera piada de mau gosto. Trata-se, na verdade, de um ataque ao Estado de Direito e aos princípios dele decorrentes, como o devido processo legal, a presunção de inocência e o direito à defesa. Já não basta a criminalização geral de tudo e de todos. Agora, tentam desqualificar até o advogado de defesa. A charge jornalística sempre foi um poderoso e democrático instrumento de crítica política. Com Chico Caruso, foi rebaixada a uma espécie de extensão da linha editorial do jornal. Ou seja, instrumento do puxa saquismo. Esses são os tempos bicudos em que vivemos, onde imperam a mediocridade e a selvageria do senso comum. Espero que a OAB, de imediato, se manifeste na defesa da advocacia agredida.
Em resposta, a OAB/RJ devolveu com a mesma moeda: divulgou charge afirmando que advogados brasileiros lutaram muito para garantir o direito de defesa e à liberdade, "inclusive a de se dizer tolices".
O Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro publicou nota em repúdio à charge.
O Sindicato dos Advogados repudia o tom de deboche e quase linchamento para com os advogados contido na charge da 1ª página de O Globo de 20/01/2016. O pretenso tom humorístico da charge expõe, na verdade, uma visão antidemocrática e autoritária do jornal para com o fundamental exercício da profissão de advogado.
A impressão que o jornal nos dá é que, com o desenho, busca uma vingança contra o manifesto de dezenas de advogados, recentemente divulgado, em que é criticado, como o próprio manifesto diz, "o regime de supressão episódica de direitos e garantias na operação Lava jato".
Antes de ser contra ou a favor ao manifesto, esse Sindicato apoia o direito de os advogados exprimirem suas contrariedades à forma como aquela operação vem sendo feita pela PF, Ministério Público e respectiva vara federal. Afinal, todas as pessoas tem o direito ao contraditório em um país cujas instituições estejam funcionando.
Todas as entidades representativas dos advogados têm que se manifestar, de maneira firme, contra esta atitude do jornal que desqualifica, gravemente, a advocacia.
O Globo parece desconhecer o artigo 133 da Constituição Federal, que diz: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.
Utilizando um pouco a mensagem da própria charge, em seu trabalho, o advogado não é nem o mocinho e nem o bandido – é algo muito maior: é o defensor da legalidade e do estado de direito em nosso país, como reza a própria Constituição.
Atenciosamente,
Álvaro Quintão – presidente do Sindicato dos Advogados do Estado do Rio de Janeiro