Entre suas tantas contribuições, entretanto, uma se destacou amplamente em detrimento das demais, em termos de importância ao país e à humanidade: a luta implacável pelo fim da escravidão.
"O abolicionista é o advogado gratuito de duas classes sociais que, de outra forma, não teriam meios de reivindicar os seus direitos, nem consciência deles. Essas classes são: os escravos e os ingênuos."
O político
"A pátria varia em cada homem."
(O abolicionismo, 1883)
Formado em Ciências Sociais e Jurídicas na Faculdade de Direito do Recife, Joaquim Nabuco foi eleito deputado geral pela província de Pernambuco em 1879, passando no ano seguinte a participar do parlamento. O fato marcou o início de sua campanha em favor da abolição, que logo se tornou causa nacional.
Poucos anos depois, em 1880, Nabuco deu outro importante passo nesta direção, ao organizar e instalar em sua casa a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. A atitude teria sido um desafio à elite conservadora da época, que considerava a escravidão uma instituição indispensável ao desenvolvimento do Brasil.
Com a movimentação no sentido de aprofundar as discussões a respeito da questão, as divergências entre Nabuco e seu partido arraigaram, fato que tornou inviável a sua reeleição. Derrotado nas eleições para a Câmara dos Deputados, como representante dos abolicionistas, ele partiu para a Europa, em 1882.
Foi lá, em 1883, que Joaquim Nabuco produziu e publicou uma de suas obras mais emblemática em prol da causa, o livro "O Abolicionismo".
O escritor
"Os partidos desaparecem, mas a ideia, o movimento, a aspiração são eternos."
(O abolicionismo, 1883)
No prefácio da obra, Nabuco comemora o fato de, no país, à época, já existir uma consciência nacional em formação, que ia introduzindo a dignidade humana na legislação brasileira e para a qual a escravidão, apesar de hereditária, "é uma verdadeira mancha de Caím".
Essa consciência, segundo o autor, resultaria da mistura de duas correntes diversas: o arrependimento dos descendentes de senhores, e a afinidade de sofrimento dos herdeiros de escravos.
"Não tenho, portanto, medo de que o presente volume não encontre o acolhimento que eu espero por parte de um número bastante considerável de compatriotas meus, a saber: os que sentem a dor do escravo como se fora a própria, e ainda mais, como parte de uma dor maior – a do Brasil, ultrajado e humilhado; os que têm a altivez de pensar – e a coragem de aceitar as consequências desse pensamento – que a pátria, como mãe, quando não existe para os mais dignos; aqueles para quem a escravidão, degradação sistemática da natureza humana por interesses mercenários e egoístas, se não é infamante para o homem educado e feliz que a inflige, não pode sê-lo para o ente desfigurado e oprimido que a sofre; por fim, os que conhecem as influências sobre o nosso país daquela instituição no passado e, no presente, o seu custo ruinoso, e preveem os efeitos da sua continuação indefinida."
No texto, Joaquim Nabuco afirma que se sentiria recompensado, se as sementes "da liberdade, direito e justiça, que estas páginas contêm, derem uma boa colheita no solo ainda virgem da nova geração"; se o livro concorresse, unindo em uma só legião os abolicionistas brasileiros, para apressar, ainda que seja de uma hora, "o dia em que vejamos a Independência completada da Abolição, e o Brasil elevado à dignidade de país livre".
O abolicionista
"A escravidão é sempre um erro"
(O abolicionismo, 1883)
O escritor afirmava na obra que o nosso caráter, o nosso temperamento, a nossa organização toda, física, intelectual e moral, achava-se "terrivelmente afetada pelas influências com que a escravidão passou trezentos anos a permear a sociedade brasileira".
Neste contexto, segundo Nabuco, a animação dos abolicionistas seria para o escravo como o desejo, "o sonho dourado da sua pobre mãe, recordação indelével de infância dos que foram criados no cativeiro"; era como "as palavras que lhe murmuram ao ouvido os seus companheiros mais resignados, para dar-lhe coragem".
"Os escravos, em geral, não sabem ler, não precisam, porém, de soletrar a palavra liberdade para sentir a dureza da sua condição."
Joaquim Nabuco escancarava aos olhos da sociedade conservadora: "A escravidão não é um contrato de locação de serviços que imponha ao que se obrigou certo número de deveres definido para com o locatário. É a posse, o domínio, o sequestro de um homem".
"A escravidão não é uma opressão ou constrangimento que se limite aos pontos em que ela é visível; ela espraia-se por toda parte; ela está onde vós estais; em nossas ruas, em nossas casas, no ar que respiramos, na criança que nasce, na planta que brota do chão."
O escritor defendia que nenhum país pode subir um degrau na escada da civilização e da consciência moral se não tiver com que desapropriar a sua imoralidade e o seu atraso. "A pátria deve proteção igual a todos os seus filhos e não pode enjeitar nenhum."
O idealizador
"A influência da escravidão não se desenraiza num dia."
(O abolicionismo, 1883)
No ano seguinte, Nabuco começa a atuar incisivamente em prol do projeto de lei de libertação dos sexagenários. Em 1888, teve uma audiência particular com o papa Leão XIII e relatou a luta pelo abolicionismo no Brasil.
Em março de 1888, o Gabinete João Alfredo assume o governo com o propósito deliberado de abolir a escravatura no Brasil. Nabuco, apesar do Gabinete ser conservador, o apoiou e deu uma grande contribuição à aprovação da Lei Áurea.
"Se a escravidão está morta, se não há nada que a possa ressuscitar e se por outro lado o que vem atrás dela é a abundância e a fertilidade, é preciso abreviar o mais possível o terrível interregno que estamos atravessando da escravidão para a liberdade."