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Paulo Bomfim – um poeta para o homem do Direito

Ao descrever um universo possível e buscá-lo pela escritura, Paulo Bomfim aproxima-se do raciocínio jurídico, que trata o ser com olhos fixos no dever ser

24/11/2014

"Tudo aquilo que não volta mais / Em nós reside silenciosamente."

Nascido em São Paulo aos 30 de setembro de 1926, Paulo Bomfim conviveu desde cedo com as artes, tendo sido o ambiente familiar em que viveu fundamental à descoberta de sua vocação. O pai, médico, era homem bastante culto e a mãe, além de tocar violão, também cantava. Desde muito pequeno, viu acontecer em sua casa saraus a que compareciam escritores e artistas conceituados como Vicente de Carvalho, Guilherme de Almeida, Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Shopia Tassinari, as pianistas Guiomar Novaes e Magdalena Tagliaferro, entre outros.

Foi aluno da velha e sempre nova Academia de Direito do Largo S. Francisco, mas optou por não terminar o curso jurídico, a fim de se dedicar ao jornalismo. Começou a carreira no Correio Paulistano, em 1945, e logo em seguida passou ao Diário de São Paulo, a convite de Assis Chateaubriand, onde assinou por uma década a coluna “Luz e sombra”. Em paralelo, escrevia “Notas Paulistas” para o jornal carioca Diário de Notícias.

Foi diretor de Relações Públicas da Fundação Cásper Líbero e produziu diversos programas para TV. Na Rádio Gazeta, apresentou os programas "Hora do Livro" e "Gazeta é Notícia". Foi curador da Fundação Padre Anchieta e presidente do Conselho Estadual de Cultura de São Paulo. Há muitos lustros, é funcionário do TJ/SP.

Vasta obra

Seu primeiro livro de poemas, Antônio Triste, lançado em 1946, com ilustrações de Tarsila do Amaral e prefácio de Guilherme de Almeida, recebeu o Prêmio Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 1947.

Sua obra poética é vasta: Transfiguração (1951); Relógio de Sol e Cantigas, musicadas por Dinorah de Carvalho, Camargo Guarnieri, Theodoro Nogueira, Sérgio Vasconcelos, Oswaldo Lacerda e outros (1952); Cantiga de Desencontro, Poema do Silêncio, Sinfonia Branca (1954); Armorial, ilustrado por Clóvis Graciano (1956); Quinze Anos de Poesia e Poema da Descoberta (1958); Sonetos (1959), O Colecionador de Minutos, Ramo de Rumos (1961), Antologia Poética (1962), Sonetos da Vida e da Morte (1963), Tempo Reverso (1964), Canções (1966), Calendário (1968), Poemas Escolhidos (1974), Praia de Sonetos (1981), com ilustrações de Celina Lima Verde, Sonetos do Caminho (1983), Súdito da Noite (1992).

Em 2000 e 2001 publicou os livros de contos e crônicas Aquele Menino e O Caminheiro. Em 2006, O Colecionador de Contos. Em 2004, o roteiro lírico Tecido de lembranças e em 2006, por ocasião de seu aniversário de 80 anos, Janeiros de meu São Paulo.

Suas obras foram traduzidas para o alemão, o francês, o inglês, o italiano e o espanhol.

A História como matéria poética

Se necessário fosse resumir o poeta Paulo Bomfim, “príncipe dos poetas”, conhecedor profundo da História paulista, “o mais autêntico bandeirante”, nas bem escolhidas palavras do atual presidente do TJ/SP, Renato Nalini, os versos usados como epígrafe para este texto fariam boa figura. A poesia de Paulo Bomfim trabalha a consciência da História, a grande História que imprime em cada indivíduo um pouco de suas marcas, ainda que de maneira desigual. Para o poeta, o homem traz inscrito em si um pouco de seus antepassados:

“Nossos mortos estão presentes em nós. Somos sua carne e seu espírito. No mistério da hereditariedade o passado se faz futuro.”

Ter ciência da História é também saber que tudo passa - amores, dores, sonhos, escuridão, tudo é vida que segue seu curso, inexoravelmente. Ao poeta não escapa a fugacidade do tempo:

“Por ser divino o agora não regressa.”

Judiciário paulista como "família espiritual"

Funcionário antigo do Tribunal de Justiça paulista, Paulo Bomfim começou auxiliando o juiz de menores Aldo de Assis Dias. Ao longo dos anos, ocupou vários outros cargos: assessor especial da presidência, secretário de cerimonial, relações públicas e, desde o início da gestão do presidente José Renato Nalini, chefe de gabinete. Para o poeta, o TJ é verdadeira "família espiritual": "Ir ao tribunal é ver minha gente", arremata.

Paulo Bomfim é o único homenageado no TJ/SP que, em vida, recebeu uma sala com o seu nome. Com efeito, inaugurado em 2009, o “Espaço Cultural Poeta Paulo Bomfim” abriga o seu acervo pessoal (medalhas, livros, honrarias e cópia de seu retrato feito pela artista Anita Malfatti). Há, ainda, peças, utensílios e uniformes que pertenceram aos combatentes da Revolução Constitucionalista de 32.

O sonho e o dever ser

A poética bomfiniana reveste-se de estrelas, nuvens, porvires, imaginação, pois “Toda a trajetória do artista gira em torno da procura do divino." Aqui se aproxima, mais uma vez, do homem do Direito, que labuta diariamente com o ser, mas tem olhos postos no dever ser. E se criar leis é colocar metas para uma disciplina da convivência, fazer poesia para Paulo Bomfim é também aprimorar-se, já que “Lentamente vamos nos transformando naquilo que escrevemos” e, afinal,

“Só poeticamente conseguiremos explicar o mundo.”

______________

Apresentação de José Renato Nalini.

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