Para os brasileiros, acostumadíssimos ao caráter popular do futebol, é difícil associá-lo à imagem de esnobe até bem pouco tempo ostentada pelo esporte nos EUA.
“Nos EUA, o futebol era um clube especial a que somente uma autodesignada elite conhecia. Ver alguém vestindo uma camisa de futebol significava identificá-lo como membro de no mínimo algo underground”, explicou Scott Chandler, 27, analista administrativo. Não à toa, uma recente torcida organizada para a seleção nacional de futebol escolheu o nome American Outlaws, algo como Os fora da lei americanos.
“Agora que eles têm a chance de transformar essa grande prática mundial em um passatempo norte-americano, deveriam se comportar como os fãs europeus fazem, e arriscarem-se a se padronizar e se tornarem pretensiosos, como pessoas que discorrem sobre os diferentes solos de cultivo de uvas e diferentes safras enquanto tomam vinho? Ou existe algum potencial e feliz caminho para que incorporem as tradições europeias como um fã norte-americano?”
Um dos grandes incômodos expressos pelo artigo é a adoção, pelos novos torcedores de futebol nos EUA, do vocabulário próprio do esporte, deixando de lado expressões ligadas a suas raízes culturais. Pouco a pouco, o esporte tem passado de soccer a football; o espaço determinado pelas quatro linhas vem deixando de ser field para ser reconhecido como pitch; e a partida vem sendo denominada match,em lugar de game. Até a menção à vestimenta dos jogadores, antes feita com a palavra jerseys, algo como “malhas”, expressão pouco ouvida para designar uniforme de futebol em outras plagas, tem sido feita usualmente com a palavra kit.
“As pessoas dizem, ‘Oh, você é tão elitista,’ mas 99 por cento do mundo chama-o de football, então eu também o estou chamando de football,” disse à repórter Nick Starck, 31, que conta ter aprendido sobre o esporte como a maioria dos fãs recentes, assistindo a jogos europeus pela televisão.
Outro costume importado pelos norte-americanos é o uso de cachecóis de lã com o nome dos times no pescoço; para desespero da repórter, os adereços eram vistos em profusão no último jogo, mesmo sob o calor da Flórida.
Questionado, o estudante de enfermagem Kevin O’Brian, 28, reconheceu: “Tudo isso é novo para nós, então é óbvio que estamos imitando outros”. Mas sobre a terminologia, defendeu o seu ponto de vista: “(...) eu diria que chamá-lo [o campo] de pitch não é pretensioso, e sim respeitoso. Me parece pouco sincero chamá-lo de campo de soccer”.
A recente contratação do alemão Jürgen Klinsmann como técnico da seleção norte-americana parece alinhar-se à percepção dos novos torcedores – há algo divertido a ser aprendido com o resto do mundo.
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