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Lyda: há 25 anos ela perdeu a vida porque trabalhava na OAB

26/8/2005

Lyda: há 25 anos ela perdeu a vida porque trabalhava na OAB

Presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil quando uma carta-bomba matou a chefe da secretaria da entidade, dona Lyda Monteiro da Silva, há exatos 25 anos, o jurista Eduardo Seabra Fagundes lembra a data de 27 de agosto de 1980 como um momento particularmente trágico - para o País, para a Ordem, para os que lutavam pela democracia e para familiares da vítima. Na sua opinião, a carta-bomba foi “um ato insano, nada mais nada menos que uma reação à combatividade e ao desassombro com que a OAB agia em defesa, sobretudo, do restabelecimento da ordem democrática, que já há muitos anos havia sido atingida por um golpe militar”.

Após lembrar os tempos da ditadura militar, Seabra Fagundes faz uma análise das dificuldades enfrentadas pelo País atualmente, quando atravessa uma grave crise gerada por denúncias de corrupção no governo e na qual vê resquícios daquele passado sombrio. Ele faz votos de que o Brasil “jamais se deixe novamente submeter a períodos tão sombrios como aqueles que vivemos naquela época - certos de que o regime democrático, por pior que seja, por maiores que sejam as suas mazelas, será sempre melhor, muito melhor que um regime de exceção”. E lamenta que o Estado até hoje não tenha encontrado e punido os responsáveis pelo atentado que matou dona Lyda, “que, afinal de contas, perdeu a vida exclusivamente porque trabalhava numa entidade que defendia os princípios tão caros aos advogados, quais sejam os da liberdade, da ordem, do respeito aos direitos humanos e tudo o mais”.

A seguir, a íntegra do depoimento do ex-presidente nacional da OAB e atual membro honorário vitalício do Conselho Federal da entidade, Eduardo Seabra Fagundes, por ocasião dos 25 anos da morte de dona Lyda:

“Nesta data em que nós, necessariamente, precisamos lembrar do atentado em 1980, na sede da OAB/RJ, no qual dona Lyda Monteiro da Silva perdeu a vida, temos primeiro que lastimar que os órgãos competentes do Estado jamais tenham conseguido pôr as mãos nos responsáveis por esse ataque tão covarde, tão nefasto à vida da instituição, e à normalidade da vida democrática do País. Também não podemos deixar de recordar a importância que a Ordem teve naquele momento - como está tendo agora na atualidade - para a defesa da ordem democrática, para preservação do regime democrático, da ordem jurídica e da boa administração pública. Na verdade, aquele ato insano foi nada mais nada menos que uma reação à combatividade e ao desassombro com que a OAB agia em defesa, sobretudo, do restabelecimento da ordem democrática, que já há muitos anos havia sido atingida por um golpe militar. Então, em primeiro lugar, temos de dedicar um preito de reconhecimento e de saudade à dona Lyda que, afinal, inocente, terminou perdendo a vida de forma trágica, cruel, extremamente dolorosa, como dolorosos foram os momentos que se seguiram ao atentado. Nós temos nesse momento de voltar nossa lembrança para dona Lyda que, afinal de contas, perdeu a vida exclusivamente porque trabalhava numa entidade que defendia os princípios tão caros aos advogados, quais sejam os da liberdade, da ordem, do respeito aos direitos humanos e tudo o mais. Então, é um momento que deve ser lembrado para que o Brasil, que atualmente atravessa tantas vicissitudes, jamais se deixe novamente submeter-se a períodos tão sombrios como aqueles que vivemos naquela época - certos de que o regime democrático, por pior que seja, por maiores que sejam as suas mazelas, será sempre melhor, muito melhor que um regime de exceção. Quem sabe esses momentos que estamos vivendo agora, tão conturbados na vida pública nacional, tão marcados por atos de improbidade, falta de respeito às mais comezinhas obrigações dos homens públicos, talvez sejam ainda um resultado daqueles anos vividos sob o regime militar. Talvez as novas lideranças não se formaram como deviam ter se formado, com liberdade, com segurança, e a vida nacional ficou um pouco marcada por esse período de exceção e está produzindo agora alguns dos seus efeitos. De forma que é duplamente significativa essa data para a OAB: primeiro, pela que ela sofreu; segundo, pelo que ela representa”.

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