Solenidade
Vice-presidente do escritório Ferreira e Chagas Advogados paraninfa turma de Direito
O vice-presidente do escritório Ferreira e Chagas Advogados, Marcos Chagas, foi o paraninfo da turma de Direito da PUC/Minas, unidade de Betim, que concluiu o curso em dezembro último. Em seu discurso ele contou um pouco de sua história, quando ingressou na Faculdade de Direito. Disse que ali, aprendeu, com o saudoso mestre Jaime França, e que a distância entre professor e aluno não deve existir. "Aprendi que eu poderia ser ouvido, que poderia ser respeitado, que, como aluno, eu tinha voz! Fiz, ainda, uma sociedade, que já dura 20 anos…"
Veja abaixo a íntegra do discurso.
________
Quem sonhou
só vale se já sonhou demais...
Ó, nem o tempo, amigo,
Nem a força bruta
pode um sonho apagar!!” (Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
Ilustríssimo Sr. Diretor da Faculdade Mineira de Direito, Prof. Guilherme Colen.Ilustríssimos Professores homenageados, Marilene, Ronaly, Alexandre Miranda, Rodrigo, Sérgio Adolfo, e demais professores presentes.
Ilustríssimos funcionários homenageados.
Senhoras e Senhores Presentes.
Mães e pais dos formandos. É uma honra compartilhar com vocês esse momento.
Caros afilhados:
O escritor Paulo Coelho certo dia afirmou que “A felicidade às vezes é uma bênção, mas geralmente é uma conquista.”
Lembro-me bem de meus primeiros dias do curso de Direito, que cursei nesta casa, nos anos idos de 80 e 90.
Talvez descrente, mas curioso... aqui eu estava, no prédio 5...
um garoto que tinha acabado de fazer 18 anos, vindo de família boa (aliás, a minha é ótima rsss), modestamente, bem educado, apaixonado com judô e que já queria ser professor... naquela época, de Educação Física.
E, na fila de matrícula, de um curso superior que pretendi fazer para agradar a meu pai, comecei a gostar da ideia de frequentá-lo... Vi amigos do Colégio, outras pessoas simpáticos, uma linda moça, “feia” e sorridente, e, ali mesmo, naquela fila, foi entabulada a primeira festa da faculdade, já no primeiro sábado após o inicio das aulas.
Naquela primeira semana de aula, também, encontrei mais amigos. Um que sequer conhecia, mas que, pelo nome e aparência física, me fez a primeira deferência:
- Chagas?? Você é filho do Wilson???... E Você é inteligente igual a seu pai?
E, ali, aprendi, com o saudoso Mestre Jaime França, que a distância entre professor e aluno não deve existir. Aprendi que eu poderia ser ouvido, que poderia ser respeitado, que, como aluno, eu tinha voz!
Do curso, fiz amizades para a vida inteira: professores, dono da lanchonete, representantes do DA - os Professores Antônio Fabrício e Beto (não consigo falar Luiz Roberto...)-, representantes do DCE, colegas...
Fiz, ainda, uma sociedade, que já dura 20 anos, com o dono do sítio daquela primeira festa, do primeiro sábado, o Fernando.
Aprendi coisas importantes, outras nem tão importantes...
Começo pelas “nem tão importantes”...
Aprendi que o Direito era tão interessante quanto a Educação Física. Interessei-me pelo Direito Penal e, por conta do interesse, aprendi a matéria com certa facilidade.
Fui contemplado com uma Constituinte que, durante o meu curso, discutiu e promulgou a Constituição da República vigente, que normatizou a Dignidade da Pessoa Humana como garantia fundamental Constitucional.
Aprendi que o profissional do Direito, o magistrado, os Representantes do Ministério Público, os Serventuários da Justiça, Advogados Públicos, dentre outros, têm significativa importância na convivência em sociedade e são os responsáveis por fazer valer a “tal” da Dignidade da pessoa humana.
Outras coisas eu descobri... Como aluno, já apaixonado pelo Direito, passei a pesquisar o que significava a expressão “Dignidade da pessoa humana”.
Do preâmbulo da Constituição, anotei que essa servia para:
“instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias”.
Pesquisa daqui, conversa dali, encontrei diversos julgados, em assuntos polêmicos como: união homoafetiva e pesquisas em células tronco embrionárias, do ministro Carlos Ayres Britto, tratando sobre o assunto. Em um deles, citado pelo também ministro do STF, Celso de Mello, salientou:
“O luminoso voto proferido pelo eminente Ministro Carlos Britto permitirá a esses milhões de brasileiros, que hoje sofrem e que hoje se acham postos à margem da vida, o exercício concreto de um direito básico e inalienável que é o direito à busca da felicidade e também o direito de viver com dignidade, direito de que ninguém, absolutamente ninguém, pode ser privado”.
Mais recentemente, tramita pelo Congresso nacional, uma PEC da Felicidade, de autoria do senador Cristovam Buarque, que propõe a seguinte redação ao art. 6º da CR:
“são direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados".
Ou seja, entre tantos termos difíceis, verifiquei que o que a Constituição queria dizer é que nós, Brasileiros, tínhamos, e temos, o direito de ser...
FELIZES!!!
E resolvi sonhar, sonhar demais, em fazer do meu curso o caminho para ser Feliz!
Escolhi a única profissão privada constante da CR, aquela que é indispensável à administração da justiça. Escolhi que queria ser Advogado. Isso já no segundo período do curso.
Dali, comecei a minha conquista. Fui conquistando a confiança e amizade do então jovem professor de Direito Penal, que acabara de chegar na faculdade, Hermes Guerrero.
Conquistei a confiança de outros professores, conquistei a vaga de primeiro monitor do Direito da PUC Minas e, com ela, a possibilidade de proferir palestra, neste auditório, ainda como estudante, com presenças ilustres. Conquistei um estágio no qual fiquei por quase três anos, conquistei o grau de bacharel em Direito e a inscrição junto à OAB.
Com a possibilidade de advogar, conquistei o meu Escritório. A primeira sala, era guarnecida com móveis emprestados, telefone alugado, tudo muito simples. E com a Advocacia, conquistei mais felicidade.
Se faltava alguma coisa, não sabia... mas continuei conquistando. Conquistei títulos e a possibilidade de ser docente no lugar que considero a minha casa...
Estou falando, falando, contando a história de vida de um garoto, que se transformou em advogado e professor de Direito e ainda não fiz o que deveria fazer: agradecer a deferência.
Ser escolhido paraninfo dessa turma, confesso, não me causou surpresa. Acredito que a escolha foi recíproca. Sempre tive, com vocês, carinho especial.
Antes mesmo que vocês me escolhessem, eu escolhi ser o padrinho da turma, escolha feita desde os primeiros dias de nossa convivência. Desde o primeiro Churrasco, do qual participei.
Ser padrinho, entretanto, exige responsabilidade. Uma delas é a de fazer o discurso (que até agora não comecei... )
Uso, então, a oportunidade, para contar-lhes um segredo:
Dizer o que aprendi de mais importante e dar alguns conselhos de padrinho.
Primeiro, dizer que quando agradeço as oportunidades que a “Vida me deu”, para mim, Vida se chama Família!!! Recebi, e recebo, de meus avós, de meus pais, de meus irmãos, tios, tias, agregados, de minha mulher e meus filhos, todo o ensinamento, aconselhamento e estrutura emocional que tenho para seguir adiante, herança que ninguém me tira. Nada sou sem eles.
Agradeçam a suas famílias também!!
Segundo... do twitter (Einstein), que também é cultura, li que “o único lugar que sucesso vem antes de trabalho é no dicionário”.
Dos bancos da faculdade, construí a parte da minha vida que me coube. Sobre o alicerce da educação que recebi dos meus pais, construí, com um colega de turma, uma sociedade de advogados que hoje sustenta mais de 300 famílias. A Advocacia é o meu sonho realizado. É a minha história de sucesso, que veio depois de muito trabalho.
Mas o sucesso vem... transformem seus sonhos em desejo, pois o Universo inteiro conspira para um desejo realizar-se. (Paulo Coelho)
Desejem, com responsabilidade - pois os desejos realizam-se-, que tudo dará certo.
Acreditem sim, na Justiça. Mas na Justiça do bem, do certo, da lealdade, da boa-fé.
E o mais importante...
Acreditem no Amor, componente da dignidade da pessoa humana, descoberta que atribuo a meu amigo Hebert Chimicatti.
Nas profissões que exercerão, é fundamental que vocês se interessem pelos sentimentos, pelo bem estar, pelas concepções de vida das pessoas que serão destinatárias do seu trabalho.
E é fundamental que vocês amem e sejam amados.
Amem a vida, amem seu trabalho, amem sua família, amem seus amigos.
Ter razão é bom, mas o que diferencia o homem da máquina é a emoção!
Parafraseando, Lô borges e Márcio Borges...
Corram à frente do Sol, Batam na porta mas, antes de entrar, Revejam a vida inteira...
Pensem em tudo que é possível falar... sinais do bem, desejos vitais...
Falem da cor dos temporais, do Céu azul, das flores de Abril..
Lembrem-se de que se vocês quiserem transformar um ribeirão em braço de mar, vocês vão ter que aprender aonde nasce a fonte do ser...
Um dia, descobrirão que isso quer dizer amor, e que o amor é a estrada de fazer um sonho acontecer...
E, lembrem-se, sempre, que dentre as mais variadas formas de amar, na poesia de Mário Quintana, está a amizade que, para ele, “...é o amor que nunca morre”.
Deixo, para vocês, meus afilhados, as minhas lembranças, as minhas histórias, os casos contados na sala de aula, enfim, o meu legado que, humildemente, espero que lhes sirvam como um incentivo para seguir adiante.
E que fique a dica... Não esperem a bênção da felicidade... conquistem-na, é mais fácil!
Contem sempre com o Marquinho, padrinho e amigo, que tem por vocês um profundo carinho!
Boas Conquistas!
_________