Meio século
A história do Supremo Tribunal Federal em Brasília
"Cabe-me, neste momento, a honra excepcional de inaugurar a sede do STF na nova capital da República dos Estados Unidos do Brasil. Honra que sobremodo me distingue, como magistrado e como brasileiro". Com essas palavras, o ministro Barros Barreto, então presidente da Corte, iniciou a sessão solene de inauguração da sede do STF na capital federal, às 9h30 do dia 21 de abril de 1960.
A cerimônia reuniu oito dos ministros atuantes no Tribunal à época – Barros Barreto, Lafayette de Andrada, Nelson Hungria, Cândido Mota Filho, Villas Bôas, Gonçalves de Oliveira, Sampaio Costa e Henrique D’Ávila. Também prestigiaram a solenidade diversas autoridades civis e militares, entre elas os presidentes do Tribunal Federal de Recursos (antigo Superior Tribunal de Justiça), ministro Afrânio Costa, do STM, general do Exército Alencar Araripe, e do TST, ministro Júlio Barata.
Ao ressaltar que a mudança da sede do STF para Brasília representava a instalação do "Pretório Excelso em lugar condigno para cumprir a sua nobre e augusta missão", o ministro Barros Barreto finalizou seu discurso com a seguinte declaração: "Neste planalto e nesta hora, em que, entre festejos e aplausos, se instala a Capital do País, espero venha a surgir uma nova era, a que tanto aspiramos, para os melhores destinos da nossa Pátria, era que se anuncia no arrojo e suntuosidade deste empreendimento de repercussão histórica, que é Brasília".
A transferência da sede para a nova capital federal também foi ressaltada pelo ministro Nelson Hungria. "Talvez a nossa Justiça seja ainda mais caprichada em qualidade do que aquela que distribuíamos na velha Capital. Aqui estaremos no eixo geográfico do Brasil e poderemos, por isso mesmo, realizar, na frase de Rui Barbosa, o ideal de Justiça como eixo do regime democrático-liberal que nos dirige".
Durante a sessão de inauguração da nova sede do STF, o ministro presidente, Barros Barreto, comunicou aos presentes que os prazos processuais estariam suspensos até a total instalação da capital. Dessa forma, a primeira sessão de julgamento no Plenário atual só ocorreu no dia 15 de junho de 1960.
Um pouco de história
Com 182 anos de existência, o STF foi denominado inicialmente "Supremo Tribunal de Justiça". Isso porque após a Proclamação da Independência, a Constituição de 1824 determinou que deveria existir na capital do Império, além do Tribunal de Relação, uma suprema corte, que mais tarde viria a se tornar o Supremo Tribunal Federal.
Ilustres juristas passaram pelo plenário do Supremo, que durante 51 anos – de 1909 a abril de 1960 – foi sediado no prédio da Avenida Rio Branco nº 241, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Nessa sede antiga foram julgados importantes casos, de repercussão e interesse nacional, como a extradição de Olga Benário, mulher do revolucionário Luís Carlos Prestes, durante o regime de Getúlio Vargas.
Com o anúncio da fundação de Brasília e a transferência da capital para o Planalto Central do país, veio à tona, entre os ministros do STF, a discussão sobre a necessidade de mudança da Suprema Corte brasileira para a nova cidade, que deveria passar a abrigar os representantes dos Três Poderes da República.
Depois de muito debate e do parecer favorável da comissão criada no Supremo para conduzir a transferência das instalações – presidida pelo ministro Nelson Hungria –, por 7 votos a 4, o Plenário aprovou a mudança, na última sessão administrativa realizada no Rio, em 13 de abril de 1960.
A escultura "A Justiça", de Alfredo Ceschiatti, em frente ao edifício do STF realça o atual complexo arquitetônico do Supremo Tribunal Federal, localizado na Praça dos Três Poderes, e cuja concepção é do arquiteto Oscar Niemeyer. Hoje, além do Edifício-Sede, a Corte ocupa também outros dois prédios, os Anexos I e II.
Com a mudança para um edifício com traços e estrutura modernos, o mobiliário da antiga sede do STF, no Rio de Janeiro, tornou-se inadequado ao estilo arquitetônico projetado por Niemeyer, e, dessa forma, passou a integrar o Museu do STF.
Em 2006, a então presidente, ministra Ellen Gracie, e o presidente do TRF da 2ª região, desembargador Frederico Gueiros, assinaram um contrato de comodato, por meio do qual os móveis desenhados pelo alemão Fritz Appel e confeccionados no início do século passado pela famosa Casa Leandro Martins, deixaram o museu do Tribunal e retornaram para o prédio original, hoje restaurado e sede do Centro Cultural Justiça Federal, na capital fluminense.
O objetivo da recomposição do antigo plenário em sua forma e local originais é ampliar a divulgação da história judiciária brasileira, permitindo o acesso ao ambiente onde atuaram grandes nomes da magistratura brasileira, como Nelson Hungria, Pedro Lessa e Luiz Gallotti, entre outros.
No local, foram realizados julgamentos históricos, como o do HC 3536, por meio do qual o senador e advogado Rui Barbosa contestou a proibição pelo chefe de polícia da época de publicação de um discurso no jornal O Imparcial, que criticava a decisão do governo de prorrogar o estado de sítio por mais seis meses.
Exposição
Em meio às comemorações dos 50 anos de funcionamento do Supremo em Brasília, a Secretaria de Documentação da Corte, por meio da Coordenadoria de Gestão Documental e Memória Institucional, lança no dia 21 de abril uma exposição sobre a evolução do Tribunal neste meio século.
A mostra, que será disposta no Espaço Cultural Ministro Menezes Direito – localizado no túnel de acesso entre o Edifício-Sede e o Anexo I – contará com cerca de 40 fotos, plantas e maquetes do atual edifício, além de mostrar momentos que antecederam à inauguração do prédio na capital. Também serão expostos quadros com todas as composições plenárias desde 1960 até 2010.
Presidentes do STF em Brasília
Desde o dia 21 de abril de 1960, quando o prédio do STF foi instalado em Brasília, em meio ao Planalto Central, 27 ministros já ocuparam a cadeira da Presidência, sendo um deles uma mulher: a ministra Ellen Gracie (2006-2008).
O primeiro presidente da Corte em Brasília foi o ministro Frederico de Barros Barreto, que coordenou a sessão inaugural no dia em que Juscelino Kubitschek entregava ao Brasil sua nova capital. Ele foi acompanhado por outros sete ministros, sendo dois substitutos. Outros três faltaram à sessão.
No entanto, na prática, o Supremo continuou funcionando temporariamente no Rio de Janeiro até que toda a estrutura fosse transferida para o Distrito Federal. No dia 13 de abril ocorreu a última sessão no prédio da Avenida Rio Branco, na capital fluminense, e a partir de então o Supremo entrou em férias forenses. A reabertura foi em 15 de junho, quando aconteceu, de fato, a primeira sessão plenária em Brasília e os prazos processuais voltaram a ser contados.
Nesses 50 anos, à presidência da Corte foram indicados 13 ministros por presidentes militares e 14 após a retomada da democracia, em janeiro de 1985. Ao todo, 57 ministros foram nomeados para ocupar uma cadeira no STF.
Antiguidade
Nem todos os ministros chegam à presidência do Supremo. Nas eleições, atualmente feitas a cada dois anos, é respeitado o critério de antiguidade – por tradição, tem prioridade o ministro que entrou há mais tempo na Corte e ainda não foi presidente.
Muitos se aposentam antes de chegarem ao topo da lista de mais antigos. Será o caso, neste ano, do ministro Eros Grau, que completará 70 anos e será aposentado compulsoriamente sendo o quarto mais moderno do STF.
Atualmente, dos onze ministros, quatro já foram presidentes (Celso de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie e Gilmar Mendes). Em 23/4, o ministro Cezar Peluso assumirá como o 53º presidente desde 1829 para mandato de dois anos.
Em regra, o presidente é sempre eleito por seus pares em Plenário, por voto secreto.
Veja a lista completa dos presidentes do Supremo desde a instalação da Corte em Brasília (clique aqui) :
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Barros Barreto (1960-1962)
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Lafayette de Andrada (1962-1963)
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Ribeiro da Costa (1963-1966)
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Luiz Gallotti (1966-1968)
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Gonçalves de Oliveira (1968-1969)
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Oswaldo Trigueiro (1969-1971)
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Aliomar Baleeiro (1971-1973)
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Eloy da Rocha (1973-1975)
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Djaci Falcão (1975-1977)
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Thompson Flores (1977-1979)
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Antônio Neder (1979-1981)
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Xavier de Albuquerque (1981-1983)
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Cordeiro Guerra (1983-1985)
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Moreira Alves (1985-1987)
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Rafael Mayer (1987-1989)
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Néri da Silveira (1989-1991)
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Aldir Passarinho (1991)
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Sydney Sanches (1991-1993)
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Octávio Gallotti (1993-1995)
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Sepúlveda Pertence (1995-1997)
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Celso de Mello (1997-1999)
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Carlos Velloso (1999-2001)
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Marco Aurélio (2001-2003)
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Maurício Corrêa (2003-2004)
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Nelson Jobim (2004-2006)
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Ellen Gracie (2006-2008)
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Gilmar Mendes (2008-2010)
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