Sorteio de obra
Já faz algum tempo que existem diferentes tentativas de articular esses dois campos do conhecimento. As tentativas mais numerosas e conhecidas provêm da psicologia clínica, sobretudo da prática de laudos que auxiliam os processos de decisões dos juízes, tais como guarda da criança, abusos e violência familiar, casos de drogadição ou de comportamentos considerados estranhos e muitos outros. Atualmente podemos considerar que a psicologia tem servido como uma ferramenta de facilitação do trabalho do poder judiciário.
Mas ainda resta desconhecido e inexplorado um enorme campo de conhecimento que abrange, em conjunto, essas duas áreas. Como professora de Psicologia aplicada ao Direito, pude perceber a necessidade de explicações de cunho psicológico para várias questões levantadas a partir da prática cotidiana do Direito. Percebi também que essas questões têm as concepções de justiça como uma espécie de fundamentação em comum. São questões como: a pobreza pode levar alguém a se tornar um delinquente? Por que as pessoas se demonstram sempre insatisfeitas com as decisões judiciais? Qual a finalidade das várias formas de punição penal? Cada pessoa tem uma compreensão do que é justo e do que é injusto? Ou existem concepções gerais daquilo que é justo ou injusto? Por que muitas leis nunca saem do papel? Por que é tão difícil fazer as pessoas cumprirem uma nova lei? Por que as leis têm que ser mudadas de tempos em tempos? Como lidar com as atitudes, opiniões, comportamentos e condutas das pessoas em relação à justiça?
Neste livro tenta-se responder a estas perguntas através das teorias da psicologia social sobre as concepções da justiça. Isto significa que a autora explorara as explicações psicológicas a respeito do pensamento e do comportamento das pessoas, quando estes envolvem a compreensão e o julgamento do que se considera socialmente justo.
No primeiro capítulo, a escritora apresenta as contribuições da psicologia americana que vão desembocar nas investigações sobre as concepções de justiça.
No segundo capítulo, apresenta-se as contribuições de um campo específico de pesquisas conhecido como "psicologia social da justiça" Este campo possui uma história própria e introduz questões de suma importância para a psicologia e para o direito. Esta história começa com o fim da II Guerra Mundial, com investigações científicas a respeito da justiça na distribuição de riquezas nos Estados Unidos da América.
No terceiro capítulo, é abordada ainda uma teoria americana conhecida como crença no mundo justo. Essa teoria tem sido un campo de investigação muito explorado em vários países do mundo. Ela esclarece a reação das pessoas frente às injustiças, bem como a interpretação que as pessoas fazem dos acontecimentos fortuitos ou infelizes da vida. Utiliza-se essa teoria como exemplo para introduzir os níveis de análise que a psicologia pode usar para explicar um fenômeno. Isto porque estes níveis de análise vão ajudar na compreensão dos aspectos das concepções de justiça que são universais e também daqueles aspectos que são regionais. Este capítulo traz uma consideração importante sobre a tendência que as pessoas têm de desvalorizar, ou mesmo de culpar, as vítimas de acontecimentos injustos.
No quarto capítulo, apresenta-se uma abordagem da psicologia social francesa sobre os processos psicossociais que interferem na dinâmica da promulgação e cumprimento das leis. Sobretudo, discute-se por que muitas leis enfrentam uma grande resistência da população, principalmente aquelas que pretendem modificar comportamentos já estabelecidos socialmente.
No quinto capítulo, é discutida a organização de alguns dos principais conceitos da psicologia social tais como as atitudes, opiniões, crenças, valores, normas, representações sociais e tematas. Esses conceitos vão mostrar como o pensamento social gera processos de definição daquilo que é considerado justo ou injusto. Como esses processos são dinâmicos, a sociedade está sempre modificando suas concepções de justiça a respeito de situações cotidianas específicas. Consequentemente, as leis são modificadas a fim de atender as mudanças sociais.
Para finalizar, no sexto capítulo a autora expõe a organização das concepções de justiça a partir de duas oposições temáticas. De um lado, a justiça e a injustiça, que dá significado às avaliações que as pessoas fazem das situações vividas e das condutas humanas. Mas, por outro lado, demonstra-se que isso se faz de maneira conjunta com a noção de igualdade e desigualdade. Essas quatro noções organizam as concepções de justiça do homem do século 21.
Sobre a autora :
Lila Spadoni é professora de Psicologia Aplicada ao Direito, na Faculdade de Direito do Centro Universitário UniEvangélica em Anápolis/GO. Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Goiás. Doutoranda em Psicologia na Université Sorbonne. Membro do laboratório de processos psicossociais da Universidade Católica de Goiás e do Laboratorie de Psychologie Environementale.
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Marisa J. Salvador, advogada de Monte Alto/SP
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