Pílulas

Série Lava Jato

Entenda o caminhão de mensagens trocadas na força-tarefa da Lava Jato que está inundando a imprensa nestes dias.

10/2/2021

(Imagem: Arte Migalhas)

O caminhão de mensagens trocadas na força-tarefa da Lava Jato está inundando a imprensa nestes dias. São conversas de todo o tipo. O que importa ao leitor é, sobretudo, entender a sinopse para depois ir assistindo aos capítulos, os quais não têm ordem definida. É como uma série sem sequência. Pode-se ver o quinto episódio da terceira temporada, e depois ir ao 15º da temporada 1, sem que isso atrapalhe o entretenimento.

Elenco

Quanto ao âmago da história, nós - que tivemos o privilégio de ter acesso a quase todo o material - podemos resumi-la, a partir dos personagens, da seguinte forma: alguns procuradores corretos e ciosos do trabalho, outros deslumbrados e uns de duvidosa sanidade. Na PF, também há para todo o gosto. No alto dessa torre de babel, Moro, ou Russo, como preferirem. Aliás, o estratagema de dar codinome a um juiz indica que boa coisa não é. No melhor estilo Globo Repórter: quem é? como vive? o que pensa Sergio Fernando Moro? Ainda hoje, na próxima nota.

C’est le genre ennuyeux!

Depois de compulsar as conversas (a grande maioria ainda vai ser divulgada), o que se pode concluir é que Moro era um ambicioso e habilmente se utilizava dessa eclética turma. Com os comprometidos, falava dos processos. Com os deslumbrados, acenava com a fama. Com os doidivanas, batia palmas. Chamamos atenção dos leitores para alguns momentos em que esses tipos saltam aos olhos: (i) quando se divulga o áudio da presidente Dilma e (ii) no momento em que ele aceita ser ministro de Bolsonaro. Os corretos criticam, os doidos vibram, e os deslumbrados sonham com a fama.

Sonho de uma noite de verão

Como se disse, com habilidade ele embriagou a todos. E, ao final, ainda pulou fora do barco, ambicionando ser presidente da República, sonho que ainda deve acalentar. É essa conclusão de quem viu quase todo o material, e que acompanhou, pari passu, a operação. Mas há mais. Na próxima nota.

A vida como ela foi

As reminiscências desta migalha nos levam aos idos dos anos 80 e 90. Um dos saudosos integrantes do conselho editorial deste matutino, autor do nome deste site, era juiz de Direito, tendo sido antes delegado de Polícia e promotor de Justiça. Em sua casa, era comum a presença de outros magistrados, além de integrantes do parquet e advogados. Não faltava a uma festa. Eram almoços, jantares, viagens. Uma harmonia invejável, que se chamava na saudosa época de "família forense". Aí pergunta o leitor: falavam de processos? E a resposta vem em francês: jamais!

A vida como ela é

Façamos agora um giro no tempo e vamos aos últimos dois decênios (pulando 2020, pois a lembrança é só da pandemia). O atual conselho editorial deste informativo participou de um sem número de encontros e viagens entre juízes, desembargadores, ministros das Cortes superiores. Muitos deles em conjunto com advogados, integrantes do parquet, políticos e empresários. Alguém falou de processo? pergunta a leitora curiosa. E novamente a resposta é peremptória: não. Falou-se de política, futebol, literatura, música etc. Mas nenhum juiz, desembargador ou ministro comenta ou sugere o que fulano ou sicrano tem que fazer no processo. Aliás, não se toca no assunto jurisdicional. Isso que existia em Curitiba, não existe no cotidiano. É preciso que isso fique claro para todos. É muito importante que isso seja dito e redito, até para não tisnar nosso sistema de Justiça.

Epílogo

O que esse pessoal montou em Curitiba (será que foi só em Curitiba?), na ânsia de punir criminosos (e muitos podem ser mesmo), é um "mecanismo" que passa ao largo da lei. Mal ou bem comparando, o famigerado esquadrão da morte, nos fins de 1960, tinha objetivos semelhantes, qual seja, limpar a sociedade. Mas não se pode querer punir ilegais cometendo-se ilegalidades. Isso nos levaria à barbárie. E ter distintivo é justamente para se distinguir, e não para se igualar.

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