Pílulas

Análise sobre indicação ao STF

Há mais coisas entre a cogitação e a indicação do que sonha nossa vã filosofia.

1/10/2020

Migalhas amanhecidas

Nº 4.843 - 4 de maio de 2020: "Causa e efeito - Iremos assistir, nas próximas semanas, a um circunstancial aumento na popularidade do presidente da República. Diz-se circunstancial porque ele será fruto dos R$ 600 que estão sendo dados a mais de 40 milhões de almas. É preciso que isso fique bem claro, não se podendo creditar a um real 'apoio popular', sobretudo concordância com os despautérios. O perigo, no caso, é o próprio presidente cair na fantasia de que é amado, e que tem o povo a seu lado, para fazer o que quiser."

Dito e feito

A nota acima foi escrita no início de maio. Seis meses depois, a "profecia" migalheira está sendo cumprida.

Esmigalhando

Feito o nariz de cera nas duas notas acima, é bem o momento agora de deitar olhos para a nova "indicação" no Judiciário. Há mais coisas, migalheiro, entre o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal do que sonha sua vã filosofia. Vejamos por partes, como diria Jack:

1 - Causou espanto em todos, não só o conteúdo, como a forma como Bolsonaro está indicando o sucessor à cadeira do ministro Celso de Mello. Aliás, caso o presidente não tenha visto, o decano continua ocupando o assento. Eis, então, o primeiro motivo de estranhamento: não há vaga. Dir-se-á, no entanto, que a vaga é iminente. Tudo bem, passemos, então, por esse primeiro obstáculo que é de quem, como o presidente, não liga para manuais de boas maneiras.

2 - O segundo estranhamento é que, conhecendo Brasília, Bolsonaro sabe que não se deixa um candidato na "chuva" por tantos dias. Dir-se-á, porém, que o presidente é imprevisível. Isso é certo. Imprevisível sim, mas não bobo.

3 - É preciso recordar que Bolsonaro aprendeu como poucos a domar a mídia. Com seu estilo amalucado, ele parava pela manhã no cercadinho do Alvorada, disparava meia dúzia de impropérios, e a imprensa ficava o dia inteiro repercutindo a fala. Não raro, ao anoitecer, ele parava novamente e desdizia o que tinha dito. E, com isso, a imprensa ficava igual barata tonta.

4 - Pois bem, dito isso, é preciso lembrar que o pule de dez para o Supremo era Jorge Antonio de Oliveira Francisco (OAB/DF 42.012), o homem da "cozinha" do Planalto. De modo que, tão logo o ministro Celso anunciou que iria antecipar a saída para o dia 13, os jornalistas começaram a revirar a vida pregressa do favorito. Ainda não tinha saído nada que o desdourasse, mas ninguém duvide, algo estava sendo germinado.

5 - O anúncio, ontem, de que Bolsonaro tem outro nome, completamente fora das hostes palacianas, embaralhou completamente as cartas e deixou a imprensa mais perdida que cachorro quando cai da mudança.

6 - Sendo assim, e como já dito que ele é imprevisível, pode ser que a indicação se confirme e tudo não passe de uma teoria da conspiração, como pode também ser mais uma jogada de enxadrista, bulindo com a mídia, e protegendo as peças.

7 - Dia 14, pela madrugada, quando o DOU trouxer como indicado o nome do desembargador Kassio Nunes Marques, aí sim poderemos dizer que, pela primeira vez, Bolsonaro fez algo sem escamotear. É que aprendemos com o apóstolo Tomé: ver para crer. Até lá, leitor amigo, coloque as barbas de molho.

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