Vamos e venhamos, o presidente do STF deu azo à confusão, ao criar o inquérito, sponte sua, ao escolher o relator, sponte sua, e ao pedir, sponte sua, providências em relação à matéria. Um gestor como ele, de primeira linha, que deixou saudades na AGU e no TSE, só pode estar com a visão turva. O STF, com atos assim, só se diminui. O que o Supremo deve fazer é julgar. É isso. Fazer política, e pior, atos de polícia (e ditatoriais), não é seu mister. É preciso, ministro, a propósito da onomatopeia que intitula esta nota, andar apenas nos trilhos, como faziam os vagões da velha Paulista na doce Marília.
É pelo dedo que se conhece o gigante
Há alguns dias, o ministro Alexandre de Moraes resolveu não usar da prerrogativa de embarcar no terminal 2 do aeroporto de Brasília, local que embarcam os ministros da Corte, e foi direto ao terminal 1, usado pelos mortais. Ali, ele subiu a rampa que dá acesso ao raio x. Depositou o aparelho celular no recipiente apropriado e passou. A máquina apitou, mostrando que eram nos pés que havia algum item de metal.
Provavelmente era seu elegante mocassim italiano que, na sola, possui algo de metal. Instado a tirar os sapatos, podendo usar protetores descartáveis para não sujar as finas meias inglesas, recusou-se e seguiu em frente, ignorando a atendente que, em seu ofício, avisou a autoridade do local.
O delegado da PF não se fez de rogado e foi ao encontro do passageiro que já estava embarcado. Solicitou (ao que parece com modos não recomendáveis) que ele voltasse ao raio x. Ao final, depois de muito bate-boca, o ministro consentiu em ser escaneado por uma "raquete", que faz a mesma função do raio x.
Pois bem, contou-se a novela toda para demonstrar que S. Exa. agiu ali com evidente uso abusado de sua autoridade. Era para ser uma exceção. Mas, infelizmente, não é o caso. Parafraseando o título desta longa migalha, é pelo pé que se conhece o ditador.
Ontem, o ministro, ao censurar um veículo de comunicação, agiu da mesma forma.
O site O Antagonista, de controversa razoabilidade, publicou uma matéria pueril, contando que o criminoso Marcelo Odebrecht, esclarecendo à PF um email de 2007, diz que o trecho "amigo do amigo de meu pai", referia-se ao presidente do STF, ministro Toffoli. Na época, Toffoli era AGU e, por óbvio, deveria ser amigo de Lula (senão não tinha sido nomeado AGU). Lula, por sua vez, era reconhecidamente amigo de Emílio Odebrecht, que vem a ser o pai de Marcelo. Ou seja, era, de fato, o amigo do amigo do pai dele.
O que tem isso demais?
Nada vezes nada. O fato é incontroverso. Mas o ministro se apegou a um detalhe da matéria d’O Antagonista, que julgou (ao que parece equivocadamente) errado, e resolveu mandar censurar o veículo. Resultado, quem não tinha visto a reportagem agora viu. O efeito foi totalmente inverso. E codinome é igual apelido: quando não se aceita é aí que ele gruda.
Mas o pior é o ato censório partir justamente de um ministro do STF, que deveria garantir a liberdade.
Ficamos aqui a imaginar o que vai fazer o ministro ao se deparar com essa migalha?
Vai mandar a meganha vir aqui empastelar nosso rotativo?