Brasil 2010
Almir Pazzianotto Pinto*
O Distrito Federal continuará tendo à frente o governador José Roberto Arruda. Em São Paulo permanecerá José Serra, em Minas Aécio Neves, no Rio Sérgio Cabral, Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul, todos, e outros mais, em pontos estratégicos ao se iniciar a batalha eleitoral de 2010.
No plano federal, o Presidente Lula estará na última metade do segundo mandato. Dizem os analistas que o PT lutará para lhe assegurar o terceiro, ainda que ao preço de mais uma ferida no texto constitucional. Para alguns o partido lançará a candidatura, embora reconheça inexistir nome à altura do ex-metalúrgico no quesito popularidade. Habituado a tirar proveito das habilidades de Lula, na arte de manipulação das massas, o PT teme a perda da Fazenda e da prerrogativa de livres nomeações para cargos bem remunerados, solução adotada para recompensar os serviços de militantes.
A oposição, formada pela coligação PSDB-DEM, unir-se-ia em torno de um só candidato, sem o que estará fadada à derrota.
As condições reais da economia determinam os rumos e as regras das práticas políticas (Marx). Ao tempo de "vacas gordas" (Gen., 41.9), quando a economia oferece resultados positivos, o comando tende a ser deixado em mãos irresponsáveis no controle do erário. Recursos evaporam em desvios de verbas, corrupção, viagens, diárias. Multiplicam-se ministérios, cargos comissionados, secretarias, diretorias, e todo o País é levado a crer na vida farta, despreocupada e sem limites. Como sempre acontece, faltam, porém, verbas para saúde, educação, transporte, segurança, previdência, portos, ferrovias, aeroportos, Forças Armadas.
A época é de futricas palacianas, grampos telefônicos, compra de votos, infidelidades partidárias, com o propósito de ganhar prestígio e dinheiro.
Ao se avizinharem, porém, notícias sobre a chegada de anos de "vacas magras" (Gen., 41.17), o governo se mexe e tenta fazer acreditar que os problemas estão controlados. Revolve o baú das idéias velhas, baixa medidas provisórias, atribui a culpa a inimigos, e se empenha em transmitir a imagem de que a crise é fruto de imaginação.
Como estará a economia em 2009 e 2010? Esta interrogação martela o cérebro de empresários, investidores, trabalhadores, donas de casa. Em cada um acumulam-se temores, não se encontrando pessoa sensata que duvide da possibilidade de encararmos período amargo de recessão. Há algumas semanas ninguém acreditava em dificuldades. A "Veja", por exemplo, na edição de 23 de julho, escrevia sobre o "Show dos Bilhões – As vitórias do Brasil na Globalização". Descrevia os "oito motores do desenvolvimento sustentável que estão revolucionando o Brasil longe dos grandes centros".
Passados 90 dias, entretanto, toda a mídia começou a indagar se o Brasil está preparado para enfrentar a crise, e o governo federal admitiu, finalmente, que o caso é grave, e partiu em busca de enigmáticas soluções internacionais.
A "Constituição Cidadã" (clique aqui) não veio como solução. Apesar dos avanços democráticos, inoculou esperanças irreais no povo, e suscitou problemas de regulamentação. A Lei Orgânica da Nação é multifacetada colcha de retalhos, produto de prolixidade vazia, onde inexistem recursos que possam ser invocados em épocas de extremas dificuldades. Temos a Medida Provisória, mas trata-se de instrumento autoritário, desmoralizado pela banalização do uso.
Nesta fase de "vacas magras", três inimigos acossam as classes trabalhadoras: a aceleração do desemprego, o retorno da inflação, a alta de preços.
Na passagem do século Brasil possuía 170 milhões de habitantes. Hoje somos 190. Ao invés dos 20 milhões de postos de trabalho prometidos, tivemos quantidade equivalente de novas almas. Ocorre que as almas sentem fome, sede, frio e calor, e outras necessidades que o País em crise não terá como prover.
As eleições de 2010 ocorrerão com o mundo e o Brasil em recessão. Como se comportarão os eleitores? Oferecerão nova carta de crédito ao PT, ou sairão à procura do Barack Obama caboclo?
São as perguntas que lanço ao ar, para especialistas em economia, política e futurologia.
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*Ex-Ministro do Trabalho e ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho