Migalhas de Peso

Socialismo, Socialistas

Deixa que eu empurro, é como chamam em São Paulo aquele enorme monumento à saga dos bandeirantes, no Ibirapuera. Acabei de passar por lá. Um olho no taxímetro que me mordisca o bolso a cada tic do seu tac, o outro nas placas das ruas para me certificar que não estou indo por um caminho mais longo, portanto mais caro, me interesso muito na conversa do taxista.

23/10/2007


Socialismo, Socialistas

Edson Vidigal*

Deixa que eu empurro, é como chamam <_st13a_personname productid="em São Paulo" w:st="on">em São Paulo aquele enorme monumento à saga dos bandeirantes, no Ibirapuera. Acabei de passar por lá.

Um olho no taxímetro que me mordisca o bolso a cada tic do seu tac, o outro nas placas das ruas para me certificar que não estou indo por um caminho mais longo, portanto mais caro, me interesso muito na conversa do taxista.

Os motoristas de táxi aqui, em Arari, <_st13a_personname productid="em Nova Iorque" w:st="on">em Nova Iorque, em qualquer lugar, são bons termômetros da realidade social e política.

Não só porque implico com a falta de cinto de segurança no banco traseiro, também para ir checando o mapa imaginário do meu destino, que eu, estando só, me sento no banco ao lado do motorista.

O rádio do carro fala sobre o horário de verão e diz a hora em Brasília. É o mote para o discurso da indignação. Nunca vi o Brasil tão esculhambado, começa assim o taxista. E eu cá comigo, só pensando, não sabes nada sobre o Maranhão, amigo.

E essa Brasília, continua, ô lugar bom pra cabra safado. Como tem malandro, senhor, naquele lugar. Não vem de lá uma notícia que preste, é só safadeza, comilanças, lambanças. Para que tanto deputado? Para que tanto senador? Tudo mamando do nosso, a gente aqui embaixo se matando de trabalhar e eles mamando. Cada um ainda leva 100 mil por mês, por fora.

O meu ímpeto é sair em defesa da reputação dos nossos homens públicos, de explicar que nem todos são safados, que não é bem assim, o povo que mora em Brasília é gente boa e que os políticos, bons ou ruins, estão lá pelo voto livre e consciente do Povo, representam a maioria do Povo.

Aprendi que nessas horas o melhor que se faz é não puxar a corda. Reclino-me mais para a porta buscando apurar, por trás das lentes escuras dos meus óculos, o perfil do taxista. É um senhor de idade. Aposentado, ainda trabalha, e muito, para manter a família numerosa.

Minha pressa inicial se dilui no interesse pelo discurso do taxista. Saudade do Castelo Branco, evoca. Onde ele quer chegar? Especulo. Conta que estava em Recife com uns colegas amarrando uma carga quando correu a notícia da prisão de Miguel Arraes. Vamos sair fora que o pau vai quebrar. Prender um governador é muito sério, o pau vai quebrar, o pau vai quebrar, e feio.

Depois, um boca-larga na praça foi falando das prisões, país a fora, de outros políticos. Vendo que não quebrou pau nenhum propôs então aos colegas do caminhão, vamos para Cabrobó, gente, vamos para Cabrobó, cuidar da nossa vida.

Está <_st13a_personname productid="em São Paulo" w:st="on">em São Paulo há 39 anos. Seu sonho é ir numa marcha a Brasília para um grande quebra pau. Quer ver sangue escorrendo da moleira dos políticos safados, que não trabalham, levam o povo na conversa. Nunca imaginei que isso fosse se passar pela cabeça de algum trabalhador brasileiro. Nunca antes neste País.

Saudade do Castelo Branco, resmunga. Aquele, sim, sabia ser autoridade. Saudade, sim, repete, do Castelo Branco, não do regime militar. Seu sonho para o Brasil é um regime socialista, com um homem sério que nem o Arraes governando.

Eita Brasília, lugar bom pra cabra safado, repete. E o senhor, é de onde? Vou é apanhar aqui se disser que fui Deputado e depois Ministro por vinte anos, <_st13a_personname productid="em Brasília. Sonorizo" w:st="on">em Brasília. Sonorizo aquela pigarreada de quem quer uma calmaria no clima. E como quem busca uma confluência, vou devagar. Sou do Maranhão, companheiro. Sou do Partido Socialista. Do Maranhão? Reage meio raivoso, meio incrédulo.

E me dano a rir só de imaginar o nosso querido Maranhão sob o socialismo de alguns socialistas e ex-socialistas que, como diria o português da anedota, por estas bandas ainda estamos a encontrar.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA.





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