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Impacto da lei orçamentária nos precatórios e as alternativas viáveis

A indefinição sobre a lei orçamentária afeta o pagamento de precatórios, comprometendo a liquidez e a atratividade desses ativos no mercado.

27/3/2025

A indefinição sobre a lei orçamentária é um dos principais desafios para o pagamento de precatórios no Brasil, afetando diretamente credores, investidores e, claro, o próprio mercado financeiro. Como os precatórios dependem de uma estimativa orçamentária para serem quitados, qualquer atraso ou impasse nesta definição impacta diretamente a liquidez desses ativos e a confiança no sistema.

A previsibilidade é essencial no mercado de precatórios, porque ela permite que os requerentes programem seus recebimentos e os investidores avaliem os riscos e retornos das operações. No entanto, a falta de uma regulamentação mais rigorosa e de clareza sobre o montante destinado a essas dívidas, cria um ambiente de muita instabilidade e de reprogramações constantes, enfraquecendo todo o setor. Porque sim: as consequências negativas dessa insegurança não atingem só os credores diretos. 

Os precatórios representam um segmento importante no mercado de investimentos, sendo utilizados como garantias em operações financeiras e servindo de base para estratégias de diversificação de aplicações. Portanto, quando há incerteza sobre os pagamentos, esses ativos perdem valor e se tornam menos atrativos, comprometendo a liquidez do mercado como um todo.

Diante desse cenário, algumas alternativas vêm ganhando força para diminuir os riscos e tornar os precatórios uma solução mais acessível e viável, mesmo em tempos de incerteza. Uma delas é a cessão de créditos, permitindo que os requerentes vendam seus precatórios para investidores especializados, que assumem os riscos em troca de um desconto no valor de face do título. Além disso, o mercado secundário de precatórios também tem se consolidado como uma alternativa eficiente para a negociação desses ativos, permitindo que os investidores comprem e revendam precatórios de forma contínua. Isso amplia a liquidez do setor e oferece novas oportunidades para credores que desejam antecipar seus recebíveis sem depender das incertezas do orçamento público.

Outra possibilidade é o uso de precatórios para compensar débitos tributários, uma prática que, quando regulamentada adequadamente, pode beneficiar tanto os credores quanto a própria Administração Pública, reduzindo o passivo estatal de forma mais eficiente. Porém, esse tipo de solução precisa de um avanço na regulamentação e de maior estabilidade política para ser efetivamente implementado em larga escala.

A incerteza sobre o pagamento de precatórios é reflexo de um problema maior da gestão fiscal no Brasil, que afeta todo o ecossistema financeiro em torno desses ativos de alto potencial, de uma ponta a outra, levando os credores a buscar alternativas mais ágeis, capazes de transformar direitos judiciais em oportunidades reais — seja para investir, empreender ou simplesmente ter mais tranquilidade financeira.

Renata Nilsson
CEO e sócia da PX Ativos Judiciais | Consultora especializada em fundos de investimentos (FIDCs) e plataformas focadas na aquisição de créditos judiciais incluindo trabalhistas, cíveis e precatórios.

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