A tecnologia tem deixado suas marcas em todos os setores, mudando a produtividade, as relações laborais e até mesmo redefinindo alguns cargos.
Automatização de processos, inteligência artificial e o uso de big data estão alterando a maneira como as empresas operam, permitindo análises mais rápidas e precisas, otimização de tarefas e um aumento notável na eficiência.
Além disso, a digitalização tem transformado o ambiente de trabalho, promovendo o home office e criando novas funções, como gestores de inovação, cientistas de dados e especialistas em cibersegurança, que antes não existiam.
Com isso, as atividades e habilidades exigidas dos profissionais estão em evolução, demandando uma adaptação contínua aos avanços.
Polarização no mercado de trabalho
De acordo com o blog do IBRE da FGV - Fundação Getúlio Vargas há uma tendência crescente de polarização no mercado de trabalho que reflete a reconfiguração tecnológica impulsionada pela automação e inteligência artificial. Funcionários de alta qualificação, especialmente aqueles que desempenham papéis não-rotineiros e criativos, estão experimentando um aumento de oportunidades e salários.
Por outro lado, aqueles de capacitação intermediária, que executam tarefas repetitivas ou que podem ser sistematizadas, estão vendo seus empregos desaparecerem ou seus rendimentos diminuírem. Essa alteração estrutural no ambiente profissional favorece os extremos da pirâmide de qualificação: os trabalhadores altamente capacitados e aqueles que realizam funções básicas e que ainda são difíceis de automatizar.
Nils Nilsson, um dos pioneiros da IA, já apontava que o objetivo desse sistema a longo prazo seria desenvolver máquinas que não apenas executem múltiplas atividades, mas que o façam de maneira mais eficaz do que as pessoas.
Embora essa visão ainda pareça distante em alguns setores, ela já está se tornando realidade em várias indústrias, como a manufatura, transporte, serviços financeiros e, cada vez mais, a área legal. Os dispositivos e algoritmos estão rapidamente se tornando capazes de analisar grandes volumes de dados, interpretar padrões complexos e até mesmo tomar decisões com base em critérios objetivos.
A diretora-gerente do FMI - Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, previu que entre 40% e 60% dos empregos globais poderão ser afetados pelo sistema inteligente nas próximas décadas. Isso significa que um número substancial de ocupações, mesmo aquelas que tradicionalmente dependem de aptidões cognitivas, como o Direito, poderá ser impactado.
Ferramentas de automação jurídica, como sistemas de gestão de processos, redação de contratos e análise preditiva de litígios, já estão começando a alterar como advogados e juízes atuam. A perspectiva é que muitas das responsabilidades de rotina que envolvem pesquisa e análise de documentos poderão ser completamente mecanizadas.
Impactos da tecnologia no trabalho
Apesar das previsões alarmantes, um estudo recente do Laboratório de Ciências da Computação e Inteligência Artificial do MIT sugere que a alteração total de funções humanas por sistemas pode não acontecer tão rapidamente quanto se imagina.
O estudo analisou, por exemplo, a substituição de tarefas que envolvem visão computacional e concluiu que apenas 23% dos salários pagos por essas atividades poderiam ser sistematizadas de forma economicamente viável. Isso significa que, apesar da capacidade tecnológica, há barreiras financeiras e logísticas que retardam a adoção em larga escala desses mecanismos.
As modificações trazidas por esses avanços não são somente técnicas, mas também sociais e culturais, redefinindo como vivemos, trabalhamos e interagimos. As soluções digitais alteram a estrutura de mercados, influenciam o comportamento humano e têm o poder de transformar a dinâmica coletiva, criando novos caminhos, desafiando normas tradicionais e exacerbando desigualdades se não forem bem geridas.
Nesse sentido, com a tecnologia em evidência, o debate sobre suas consequências nas relações laborais tem se intensificado. Isso porque, a sua implementação no ambiente profissional deve vir acompanhada de uma adaptação nas políticas públicas e na legislação trabalhista. Assim, regulamentar os efeitos dessas mudanças, especialmente no que tange à proteção dos direitos dos colaboradores e à redistribuição equitativa dos benefícios, é um dos principais obstáculos do porvir.
A formulação de possíveis cenários é importante para a compreensão das implicações dessas modernizações, como a criação de uma estrutura legislativa sólida para assegurar que a automação e a IA não resultem em desproteção ou precarização do trabalho.
Além disso, as normas laborais precisam evoluir para assegurar que as vantagens trazidas sejam distribuídas de forma justa e que os funcionários afetados por reformas estruturais tenham o apoio necessário para se requalificar.
No entanto, a aceitação e o sucesso dessas normas dependem da participação ativa da comunidade em sua elaboração. O diálogo entre tecnólogos, formuladores de políticas, cientistas sociais e a população colaboram para que as soluções digitais atendam aos interesses coletivos e não beneficiem apenas uma parcela da sociedade.
Um processo colaborativo e transparente pode ajudar a construir um futuro mais justo e equitativo, onde as inovações sirvam ao bem comum e promovam um desenvolvimento inclusivo e sustentável, priorizando o bem-estar coletivo ao lado do avanço econômico.
Tecnologia como estratégia na advocacia
No campo legal, onde a demanda por eficiência e precisão é constante, o uso da inteligência artificial muitas vezes gera preocupações sobre a substituição de cargos humanos.
No entanto, a automação pode, na verdade, ser uma aliada dos profissionais do direito, possibilitando que se concentrem em funções que demandam mais estratégias. Ao sistematizar tarefas repetitivas, como o controle de prazos, a gestão de documentos e a comunicação com clientes, é possível aumentar a produtividade e ainda melhorar a organização do escritório de advocacia.
Por meio de ferramentas como o Taskscore, que monitora o desempenho da equipe e prioriza atividades, a plataforma garante que as operações diárias sejam realizadas de forma eficiente e sem erros. Essa automação ajuda a liberar os juristas de encargos burocráticos para que eles foquem em questões mais elaboradas, como a análise de casos e a criação de abordagens.
Além disso, o uso do software tem um impacto direto na qualidade de vida dos advogados. Ao proporcionar uma gestão mais organizada do fluxo de trabalho, ele contribui para evitar sobrecargas, reduzindo a necessidade de horas extras e minimizando o estresse. A plataforma oferece uma visão clara das funções pendentes, ajudando os colaboradores a manterem um equilíbrio entre suas vidas pessoais e profissionais.
A IA não precisa ser vista como uma ameaça, mas sim como uma facilitadora da atuação advocatícia. Ao delegar responsabilidades para ferramentas, os defensores podem aprimorar suas aptidões em áreas insubstituíveis, como a argumentação jurídica e a interação com clientes, onde o fator humano é essencial.
Humanizando o trabalho na era digital
O futuro moldado pela inteligência artificial e automação não é simplesmente sobre a substituição de funcionários, mas sim um conjunto de novas possibilidades e desafios. Em vez de ver a tecnologia como um risco, podemos encará-la como uma ferramenta para transformar o trabalho e a sociedade.
A questão não é apenas quem perderá empregos, mas como podemos usar essa revolução para criar um cenário mais inclusivo e voltado para o progresso. O caminho à frente exige mais do que adaptação técnica – requer uma redefinição dos valores que orientam nossas políticas e práticas laborais.
Se usados com responsabilidade, os avanços têm o potencial de redistribuir responsabilidades, possibilitando que as pessoas se concentrem em atividades mais criativas e intelectualmente gratificantes, enquanto as máquinas assumem tarefas rotineiras. Assim, as soluções digitais deixam de ser somente um meio para mais eficiência e passam a ser um instrumento de valorização do indivíduo.
Portanto, em vez de temer as mudanças, a questão que se coloca é mais profunda: como podemos garantir que a revolução digital sirva para humanizar o trabalho, elevar as habilidades e oferecer a todos um futuro mais justo e promissor? A resposta depende de como decidimos prosseguir– com inclusão, colaboração e atenção ao impacto social.