A verdade absoluta não existe. A história está repleta de exemplos que confirmam isso, sempre apresentando múltiplas perspectivas em conflito. Portanto, qual é a verdadeira história do nosso país? Muito do que conhecemos sobre a trajetória do Brasil é composto por meias-verdades e, em alguns casos, até inverdades.
Um exemplo claro é a história da escravidão. O que aprendemos sobre isso, geralmente, se resume à lei áurea. Desde cedo, nas escolas, somos ensinados que a assinatura dessa lei pela princesa Isabel "acabou com a escravidão no Brasil". Esta narrativa simplificada é quase um conto de fadas. Mas, e depois? Como os negros passaram a viver após a abolição? Conseguiram empregos?
A figura da princesa Isabel é frequentemente exaltada, enquanto Zumbi dos Palmares e outros que lutaram pela abolição, antes da lei áurea são pouco mencionados.
Recentemente, um projeto de lei propôs incluir João Cândido, líder da Revolta da Chibata, no Livro dos Heróis Nacionais. Isso gerou polêmica, com um comandante da Marinha expressando seu descontentamento e classificou os participantes do motim como "abjetos marinheiros" que desrespeitaram a disciplina militar, usando recursos da Marinha para "chantagear a nação".
Qualquer pessoa com algum conhecimento sobre esse episódio ficaria chocada, ao saber que, no início do século XX, a Marinha brasileira ainda utilizava castigos físicos para punir marinheiros. Tal punição era aplicada aos oficiais de baixa patente, sendo esses, majoritariamente, negros e mestiços.
Esses fatos revelam que o Brasil sempre foi um país paradoxal. É inconcebível que, mais de dez anos após a abolição da escravatura, marinheiros negros ainda fossem submetidos a condições degradantes, como punições físicas.
Essa análise evidencia o descaso que muitos brasileiros têm em relação à história do país. Seja pela falta de conhecimento sobre certos episódios ou por pensamentos como o desse militar em relação à Revolta da Chibata.