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Entrelaçando Direitos: A convergência do Direito Tributário, Familiar e Empresarial nas holdings familiares no Brasil

Este artigo explora a complexa interação entre o direito tributário, familiar e empresarial nas holdings familiares no Brasil, destacando sua importância estratégica na gestão patrimonial e sucessão. Ele aborda desde a estruturação jurídica até os desafios e perspectivas futuras dessas entidades.

3/10/2024

1.Introdução às Holdings Familiares

As holdings familiares, dentro do intrincado universo jurídico brasileiro, são mais do que entidades empresariais; elas representam a sinergia de diferentes ramos do direito, moldando-se às transformações legislativas e econômicas do país. Sua função transcende a mera gestão de patrimônio, posicionando-se como um instrumento estratégico para a proteção e transmissão de bens e negócios familiares.

Essas entidades surgem como resposta às necessidades de famílias que buscam eficiência na administração de seus bens, oferecendo soluções para desafios como a complexidade tributária e a sucessão patrimonial. A holding familiar atua como um elo que une o patrimônio familiar, garantindo a gestão centralizada e a otimização fiscal, enquanto simultaneamente resguarda os interesses empresariais e familiares sob uma mesma estrutura jurídica.

No contexto brasileiro, as holdings familiares evoluíram para se tornarem ferramentas essenciais na gestão patrimonial. Elas são fundamentais na transição ordenada de bens e negócios entre gerações, assegurando a continuidade e a integridade do patrimônio familiar. Esta relevância se reflete no ambiente econômico e jurídico, demonstrando sua eficácia em um cenário empresarial e familiar complexo.

As holdings familiares, portanto, não são apenas estruturas empresariais; elas são peças-chave na tapeçaria do direito brasileiro, entrelaçando aspectos tributários, empresariais e familiares de maneira única e eficaz. Elas representam um modelo adaptável e resiliente, essencial para a manutenção e a prosperidade do legado familiar.

 

2.Estruturação Jurídica e Estratégica das Holdings Familiares

Ao delinear as bases jurídicas e estratégicas das holdings familiares, este segmento mergulha nos detalhes da sua implementação e gestão no Brasil. Vamos abordar os procedimentos legais e administrativos para a constituição dessas entidades, além de discutir estratégias para a gestão eficiente do patrimônio e planejamento tributário.

a)     Procedimentos Legais para a Formação

A constituição de uma holding familiar no Brasil é um processo que requer meticulosa atenção aos detalhes jurídicos e conformidade legal. Este processo começa com a decisão estratégica sobre a melhor estrutura jurídica para atender aos objetivos específicos da família. As opções incluem, mas não se limitam a, sociedade limitada ou sociedade por ações, cada uma com suas implicações legais e fiscais.

A elaboração dos documentos societários é um passo crítico, onde se detalham as regras de governança, gestão do patrimônio, direitos e obrigações dos sócios, e mecanismos de resolução de conflitos. Este documento deve ser cuidadosamente elaborado por profissionais especializados, garantindo que todos os aspectos legais estejam adequadamente endereçados e em consonância com a legislação brasileira.

Os requisitos legais para registro incluem a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e a formalização em cartório de registro de empresas. É imperativo que todas as normativas tributárias sejam rigorosamente seguidas para evitar futuras complicações fiscais. Este processo também pode envolver a transferência de bens e ativos para a holding, o que exige uma análise detalhada das implicações tributárias associadas a essas transferências.

b)Gestão Patrimonial e Eficiência Fiscal

A gestão patrimonial e a eficiência fiscal são aspectos cruciais no manejo de holdings familiares, sendo ferramentas estratégicas para famílias que buscam otimizar seu patrimônio e carga tributária. As holdings oferecem um caminho para planejar e estruturar a propriedade de bens e ativos de forma que minimize os impactos fiscais, especialmente em relação aos impostos sobre heranças e doações.

Para atingir essa otimização fiscal, a holding familiar pode ser estruturada de modo a aproveitar os benefícios fiscais disponíveis, como a redução de carga tributária sobre a transferência de bens e a eficiência na administração de investimentos. Essa estruturação deve ser cuidadosamente planejada para estar em conformidade com a legislação vigente, evitando riscos de evasão fiscal.

Além disso, as holdings familiares permitem uma maior proteção patrimonial. Elas podem ser utilizadas para isolar ativos de riscos operacionais e de negócios, além de estabelecer mecanismos eficazes para a sucessão patrimonial. Este aspecto é fundamental para famílias que buscam preservar seu legado ao longo das gerações, garantindo que o patrimônio seja gerido e transferido de acordo com seus desejos e necessidades.

c)Governança Corporativa e Administração

A governança corporativa em holdings familiares transcende a mera administração de ativos, abrangendo a gestão estratégica e a tomada de decisão dentro da estrutura familiar. Esta governança se baseia em princípios de transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. A sua implementação eficaz envolve a criação de um conselho de administração ou de um órgão equivalente, responsável por estabelecer políticas e diretrizes claras para a gestão da holding.

Para assegurar a transparência e a responsabilidade na gestão, é fundamental que haja uma clara separação entre a propriedade e a gestão. Isto significa que as decisões operacionais devem ser tomadas por gestores qualificados, enquanto os membros da família atuam como acionistas ou investidores. Este modelo ajuda a prevenir conflitos de interesse e garante que as decisões sejam tomadas visando o melhor interesse da holding e de todos os seus stakeholders.

Além disso, a governança corporativa em holdings familiares deve incluir mecanismos eficientes de comunicação e participação, permitindo que todos os membros da família estejam informados e envolvidos nas decisões importantes. Isto pode incluir reuniões regulares, relatórios de gestão e canais abertos de comunicação.

d)    Planejamento Sucessório e Continuidade do Legado

O planejamento sucessório em holdings familiares é uma área crucial que demanda uma abordagem técnico-jurídica detalhada para garantir a continuidade e a preservação do legado familiar. Na holding familiar, o planejamento sucessório é estruturado de maneira a facilitar a transição harmoniosa de bens, ativos e responsabilidades gerenciais entre as gerações, minimizando as disputas internas e os impactos fiscais.

As estratégias empregadas no planejamento sucessório em holdings familiares devem levar em conta as peculiaridades da legislação brasileira, incluindo as regulamentações tributárias e as normas de direito de família. Elementos como a elaboração de um testamento, a definição de cotas de participação, acordos de acionistas e planos de sucessão gerencial são ferramentas chave para assegurar que a transferência do patrimônio ocorra de acordo com os desejos da família, ao mesmo tempo que se alinha com as normas legais.

Além disso, a holding familiar pode ser estruturada de forma a proteger o patrimônio contra riscos externos e assegurar uma gestão eficiente após a sucessão, garantindo assim a longevidade e a prosperidade do legado familiar ao longo do tempo.

3.A Dinâmica Tributária em Holdings Familiares

A identificação e o manejo de conflitos familiares em holdings empresariais exigem uma abordagem técnico-jurídica aprofundada. Conflitos internos, frequentemente originados de divergências sobre a gestão, sucessão e divisão de lucros, podem comprometer a estabilidade e a prosperidade da holding. Para mitigar esses conflitos, é essencial estruturar a holding com políticas claras de governança, definindo diretrizes transparentes para tomada de decisões, distribuição de lucros e resolução de disputas.

A implementação de acordos de acionistas, que estipulam regras sobre a transferência de ações e decisões estratégicas, é uma ferramenta jurídica vital. Além disso, a inclusão de cláusulas de mediação e arbitragem nos documentos da holding pode proporcionar meios eficazes para resolver desentendimentos sem recorrer a litígios públicos, preservando assim a imagem e a união da família.

Essas medidas, alinhadas com uma comunicação eficaz e uma cultura de respeito mútuo, podem fortalecer a colaboração e a coesão dentro da família empresária, garantindo a continuidade e o sucesso da holding familiar.

A adaptação das holdings familiares às mudanças legislativas e econômicas é uma tarefa complexa que exige vigilância constante e uma compreensão profunda do direito empresarial e tributário. Essa adaptação passa pela atualização contínua dos conhecimentos legais e fiscais, garantindo que a holding esteja sempre em conformidade com as leis vigentes. Para isso, é crucial contar com uma assessoria jurídica especializada, capaz de interpretar mudanças legislativas e orientar a holding nas melhores práticas de compliance.

Além disso, as holdings familiares devem estar preparadas para responder às flutuações do mercado e às transformações econômicas. Isso envolve estratégias de diversificação de investimentos, análise de riscos e oportunidades, e uma abordagem proativa na gestão de ativos. A sustentabilidade a longo prazo depende da capacidade da holding de se adaptar rapidamente a novos cenários, mantendo a estabilidade e a prosperidade do patrimônio familiar.

A diversificação de investimentos em holdings familiares é uma estratégia fundamental para a gestão eficaz do patrimônio. Esta abordagem envolve alocar investimentos em diferentes tipos de ativos, setores e mercados, visando reduzir os riscos associados à concentração em um único tipo de investimento ou mercado.

Do ponto de vista técnico-jurídico, a implementação de uma estratégia de diversificação requer análise detalhada das implicações legais e fiscais de cada tipo de investimento. A holding deve considerar os aspectos tributários de diferentes classes de ativos e a conformidade regulatória ao investir em mercados variados, tanto nacionais quanto internacionais.

Essa diversificação não só protege o patrimônio familiar contra flutuações de mercado e riscos setoriais, mas também posiciona a holding para aproveitar oportunidades de crescimento em diferentes áreas, promovendo um crescimento sustentável do patrimônio ao longo do tempo.

A incorporação de tecnologias emergentes e inovações na administração de holdings familiares é um campo em expansão, fundamental para melhorar a eficiência operacional e a tomada de decisão. A aplicação de softwares de gestão patrimonial, ferramentas de análise de dados e plataformas de inteligência artificial permite uma visão mais ampla e detalhada do patrimônio e dos investimentos, facilitando o monitoramento e a avaliação de riscos e oportunidades.

Ademais, tecnologias como blockchain e contratos inteligentes podem oferecer novas formas de segurança e transparência nas transações financeiras e nos processos administrativos. A adoção dessas inovações tecnológicas deve ser acompanhada de uma compreensão jurídica aprofundada para assegurar conformidade e aproveitar ao máximo seus benefícios, alinhando as holdings familiares com as práticas mais avançadas de gestão no mercado global.

Neste capítulo, abordamos as dinâmicas internas e externas que impactam as holdings familiares. De conflitos familiares a adaptações legislativas e econômicas, passando pela diversificação de investimentos e a integração de tecnologias inovadoras, destacamos estratégias e soluções para garantir a resiliência e o crescimento sustentável dessas entidades. A complexidade destes desafios requer uma abordagem multifacetada, combinando expertise jurídica, gestão estratégica e adaptação tecnológica, assegurando assim que as holdings familiares possam não apenas sobreviver, mas prosperar em um ambiente em constante mudança.

4.Aspectos do Direito de Família na Gestão de Holdings

A integração do direito de família na estrutura de holdings familiares é um aspecto jurídico complexo que desempenha um papel crucial na organização e operação dessas entidades. Este processo envolve a aplicação das normas do direito de família na formulação de estruturas societárias que administram os bens e direitos dos membros da família. Elementos-chave incluem a definição de direitos de propriedade, participação nos lucros, e a gestão de ativos dentro do contexto das relações familiares.

Por exemplo, na estruturação de uma holding familiar, é fundamental considerar as regras de sucessão e a distribuição de bens, alinhando-as com as expectativas e necessidades dos membros da família. Isso pode envolver a criação de acordos de acionistas que especificam a divisão de ações entre herdeiros, a administração de bens em caso de divórcio, e a proteção de ativos familiares de possíveis disputas legais.

Além disso, o direito de família influencia a forma como as transferências de propriedade são conduzidas dentro da holding, especialmente no que se refere a doações e heranças. As holdings familiares frequentemente servem como um mecanismo para facilitar a transferência de patrimônio entre gerações, proporcionando uma estrutura legal que minimiza a carga tributária e assegura a continuidade dos negócios familiares.

O planejamento sucessório em holdings familiares é um processo essencial que requer cuidadosa consideração e planejamento detalhado para garantir uma transição suave e eficiente do patrimônio entre gerações. Este processo envolve a elaboração de estratégias que levem em conta tanto as disposições legais quanto as dinâmicas familiares específicas.

No contexto das holdings, o planejamento sucessório frequentemente inclui a criação de estruturas e mecanismos jurídicos que facilitem a gestão e transferência de ativos. Isso pode envolver a utilização de acordos de acionistas, trusts familiares e outras estruturas legais que proporcionem uma gestão clara e a proteção dos ativos. Tais estruturas devem ser cuidadosamente elaboradas para estar em conformidade com as leis de herança e tributação, ao mesmo tempo que respeitam as intenções e objetivos da família.

Além disso, o planejamento sucessório eficaz nas holdings familiares deve incluir a preparação e formação das futuras gerações para assumirem responsabilidades dentro da holding, garantindo assim a continuidade do legado familiar e dos negócios. Este aspecto é crucial para a sustentabilidade a longo prazo da holding e para a preservação harmoniosa do patrimônio familiar.

A proteção patrimonial dentro das holdings familiares é uma área de grande importância, envolvendo a elaboração de acordos familiares que estejam em conformidade com as disposições legais do direito de família. Esses acordos são projetados para salvaguardar os ativos da família contra riscos externos, como disputas legais, divórcios ou instabilidades de negócios. Eles estabelecem regras claras e estruturas para a distribuição de ativos, gerenciamento de investimentos e transferência de patrimônio.

A eficácia desses acordos depende da sua habilidade em equilibrar os interesses de todos os membros da família, ao mesmo tempo em que asseguram a integridade e a continuidade do patrimônio familiar. Isso pode incluir cláusulas sobre divisão de ativos em caso de dissolução de casamento, regras para a transferência de ações dentro da família e estratégias para a resolução de conflitos internos.

Além disso, a proteção patrimonial nas holdings familiares também envolve aspectos tributários e de planejamento sucessório, garantindo que a transferência de patrimônio ocorra de maneira eficiente e com a menor carga tributária possível. Ao combinar estratégias jurídicas e financeiras, as holdings familiares conseguem proteger e manter o legado da família ao longo das gerações.

  1. Papel do Direito Empresarial

As estruturas de governança em holdings familiares, especialmente no contexto do direito empresarial brasileiro, são fundamentais para assegurar uma gestão eficaz e transparente. A formação de conselhos de administração é um aspecto central dessa estrutura. Esses conselhos devem ser compostos por membros com experiência diversificada e competência tanto em questões empresariais quanto familiares, garantindo uma visão abrangente e equilibrada nas decisões.

A função do conselho é supervisionar a gestão, estabelecer diretrizes estratégicas e assegurar que as práticas de negócios estejam alinhadas com os objetivos da holding e da família. A implementação de comitês de auditoria é outra prática recomendada. Estes comitês são responsáveis por monitorar a integridade financeira da holding, revisar relatórios financeiros, supervisionar a aderência às normas contábeis e regulatórias, e avaliar a eficácia dos controles internos.

Neste contexto, a transparência é crucial. A governança eficaz exige comunicação clara com os stakeholders, incluindo membros da família, acionistas e gestores, sobre as operações, desempenho financeiro e planos estratégicos da holding. A responsabilidade corporativa, sustentada por um forte sistema de governança, é vital para manter a confiança e a credibilidade entre todos os envolvidos, assegurando a estabilidade e o sucesso a longo prazo da holding familiar.

A implementação de políticas e controles internos em holdings familiares é uma área que demanda uma abordagem meticulosa e detalhada. Estes controles são projetados para manter a integridade operacional e financeira da holding e são cruciais para prevenir riscos e garantir a conformidade com as regulamentações vigentes.

As políticas internas devem abranger aspectos como a gestão financeira, alocação de recursos, distribuição de lucros, e normas éticas de conduta. Elas devem ser claramente documentadas e comunicadas a todos os membros e gestores da holding, garantindo a aderência e o entendimento uniforme.

Os controles internos, por sua vez, são ferramentas para monitorar e validar a eficácia dessas políticas. Eles envolvem procedimentos como auditorias internas, revisões de compliance e sistemas de controle financeiro. Esses mecanismos ajudam a identificar e mitigar potenciais irregularidades, desvios ou fraudes, assegurando a saúde financeira e a operacionalidade eficaz da holding.

A criação e implementação dessas políticas e controles requerem um conhecimento profundo das práticas de negócios, bem como das normas jurídicas e regulatórias aplicáveis. Portanto, a consultoria de especialistas em direito empresarial, tributário e familiar é fundamental para assegurar que as holdings familiares operem dentro dos padrões mais altos de integridade e eficiência.

b)Gestão Estratégica de Negócios:

O planejamento estratégico em holdings familiares é um processo multifacetado que requer uma análise aprofundada e uma abordagem adaptativa para assegurar o crescimento e a sustentabilidade dos negócios familiares. Esta etapa envolve uma avaliação detalhada do mercado e do ambiente de negócios, identificando oportunidades de crescimento e áreas de risco. O planejamento estratégico deve considerar a missão e visão da holding familiar, alinhando os objetivos de negócio com os valores e expectativas da família.

Uma parte crucial do planejamento estratégico é a análise financeira, que inclui a projeção de fluxos de caixa, avaliação de investimentos e gestão de dívidas. Esta análise financeira ajuda na tomada de decisões informadas e na alocação eficiente de recursos.

Além disso, o planejamento estratégico em holdings familiares deve ser flexível e capaz de se adaptar às mudanças nas condições de mercado e no cenário econômico. Isso implica em revisões periódicas dos planos e estratégias para garantir que a holding permaneça relevante e competitiva ao longo do tempo.

A gestão de riscos nas holdings familiares é um componente crucial que exige uma abordagem técnica e detalhada. Este processo envolve a identificação, monitoramento e mitigação de riscos operacionais, financeiros e de mercado que podem impactar a holding. Primeiramente, é necessário realizar uma análise abrangente dos riscos potenciais, que inclui a avaliação da exposição da holding a flutuações do mercado, riscos associados a investimentos específicos e vulnerabilidades operacionais.

Após a identificação dos riscos, é essencial implementar um sistema de monitoramento contínuo, que permita à holding detectar rapidamente mudanças nas condições de mercado ou operacionais e responder de forma eficaz. Este sistema deve incluir indicadores de desempenho, alertas e mecanismos de controle que ajudem na rápida identificação de desvios ou problemas.

A estratégia de mitigação de riscos deve ser integrada ao planejamento geral da holding. Isso pode envolver a diversificação de investimentos, a implementação de seguros adequados, a revisão periódica de estratégias financeiras e a adoção de práticas operacionais que reduzam a vulnerabilidade a riscos externos e internos. A gestão eficaz de riscos é vital para assegurar a estabilidade e a longevidade da holding familiar.

c)Sucessão Empresarial em Holdings Familiares:

O planejamento de sucessão em holdings familiares é uma área complexa que demanda uma abordagem estratégica e legal minuciosa. Este processo começa com a identificação de potenciais sucessores dentro da família, o que envolve avaliar suas habilidades, interesses e aptidões para liderar a holding no futuro. A preparação desses sucessores é um passo crítico e deve incluir uma formação abrangente em gestão de negócios, finanças e direito, bem como experiência prática nos diferentes aspectos da holding.

Além disso, o processo de transição de liderança deve ser cuidadosamente planejado para garantir uma passagem de comando suave e sem interrupções. Isso envolve não apenas aspectos legais e financeiros, mas também a preparação psicológica e emocional da família e dos colaboradores da empresa. Estratégias como mentorias, programas de liderança e envolvimento gradual dos sucessores nas decisões estratégicas são essenciais para uma transição eficaz.

Os aspectos legais da sucessão em holdings familiares abrangem uma variedade de questões críticas que vão além da mera transferência de ações. Este processo complexo requer uma análise detalhada das implicações legais para assegurar que a sucessão esteja em conformidade com o direito societário e as leis de herança. Um dos desafios mais significativos é a gestão de conflitos de interesses que podem surgir entre os herdeiros e outros stakeholders.

A transferência de ações deve ser feita de maneira que preserve a estabilidade e a integridade da holding, respeitando as disposições legais e os direitos dos acionistas. Além disso, é crucial estabelecer mecanismos para resolver possíveis disputas, assegurando que a transição não apenas esteja em conformidade com a lei, mas também com os valores e objetivos da família. Este processo deve ser cuidadosamente planejado e gerido para evitar litígios e manter a harmonia familiar.

6.Desafios e Soluções Práticas

A governança corporativa e legal em holdings familiares enfrenta desafios únicos, particularmente na tentativa de equilibrar os interesses familiares com as necessidades empresariais. A complexidade surge na formulação de estruturas de governança que sejam adequadas tanto para a gestão eficiente do negócio quanto para acomodar as dinâmicas e expectativas da família.

Um dos principais desafios é assegurar que a governança corporativa não apenas cumpra com as exigências legais e regulatórias, mas também respeite os valores e a cultura familiar. Isso envolve estabelecer políticas claras de tomada de decisão, distribuição de lucros e gestão de conflitos, que devem ser alinhadas tanto com as melhores práticas empresariais quanto com as tradições familiares.

Ademais, a implementação de tais estruturas frequentemente exige um delicado equilíbrio entre a autoridade dos membros seniores da família e a inovação e as ideias trazidas pelas gerações mais jovens. A gestão eficaz dessas tensões é crucial para manter a coesão familiar e a prosperidade do negócio.

As complexidades na gestão de holdings familiares são multifacetadas, abrangendo desde a gestão de ativos diversificados até a conformidade com uma miríade de regulamentações. Administrar um portfólio diversificado de ativos exige uma compreensão aprofundada dos mercados financeiros, bem como estratégias de investimento adaptadas às necessidades e objetivos da família. Além disso, a conformidade regulatória em múltiplas jurisdições apresenta um desafio significativo, dada a variação nas leis e regulamentos que podem afetar diferentes aspectos da holding, desde questões tributárias até normas societárias. Isso requer uma vigilância constante e uma adaptação proativa às mudanças legais e regulatórias.

Na gestão de holdings familiares, a sucessão empresarial e a resolução de conflitos de interesse representam desafios significativos. A preparação de herdeiros para a sucessão envolve não apenas a transferência de conhecimento e habilidades de gestão, mas também a inculcação dos valores e a visão da família empresária. Um planejamento sucessório eficaz deve considerar a aptidão e o interesse dos herdeiros potenciais, proporcionando formação adequada para aqueles que assumirão papéis de liderança.

A gestão de conflitos internos, frequentemente decorrentes de divergências entre membros da família sobre a direção do negócio ou a distribuição de ativos, requer um sistema de governança robusto e mecanismos de mediação. A adoção de abordagens de resolução de conflitos, como a mediação familiar e o diálogo aberto, é essencial para manter a harmonia dentro da família e a estabilidade do negócio.

Para abordar os desafios identificados nas holdings familiares, as soluções jurídicas e estratégicas devem ser inovadoras e robustas. Uma análise de casos relevantes e decisões jurídicas sugere que a adoção de estruturas legais flexíveis e adaptativas é crucial. Isto pode incluir a revisão periódica de acordos societários e a implementação de cláusulas de arbitragem para resolver conflitos. Estrategicamente, as holdings devem se engajar em planejamento contínuo e revisão de práticas, garantindo que permaneçam ágeis e resilientes diante das mudanças do mercado e do ambiente regulatório.

7.Conclusão e Perspectivas Futuras

Refletindo sobre as tendências futuras nas holdings familiares, observamos três áreas principais de desenvolvimento:

a)     Desenvolvimentos Tecnológicos: A integração de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, blockchain e análise de big data, está revolucionando a maneira como as holdings gerenciam ativos e tomam decisões estratégicas. Estas tecnologias prometem aumentar a eficiência operacional, melhorar a precisão na previsão de tendências de mercado e otimizar a gestão de riscos.

b)    Mudanças Regulatórias: O cenário regulatório está em constante evolução, influenciando significativamente a forma como as holdings operam. As holdings devem estar preparadas para se adaptar a mudanças nas leis tributárias, normas de governança corporativa e regulamentações ambientais. A capacidade de antecipar e responder rapidamente a essas mudanças será crucial para o sucesso a longo prazo.

c)     Novos Desafios no Ambiente de Negócios: As holdings familiares enfrentam desafios únicos no ambiente de negócios moderno, incluindo questões de sustentabilidade, responsabilidade social corporativa e a crescente competição global. A habilidade de adaptar-se a esses desafios, ao mesmo tempo em que se mantém fiel aos valores familiares, será determinante para o futuro sucesso.

Essas tendências indicam um futuro desafiador, mas também cheio de oportunidades para as holdings familiares que conseguirem se adaptar e inovar.

Destacamos a importância de uma abordagem holística e integrada, ressaltando a necessidade de sinergia entre essas áreas do direito para garantir a estabilidade, conformidade e prosperidade das holdings familiares.

Gilmara Nagurnhak
Gilmara Nagurnhak é advogada e fundadora do Escritório de Advocacia & Assessoria Empresarial Gilmara Nagurnhak, Mestranda e especialista em Direito Tributário, com formação pela PUCRS.

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