Migalhas de Peso

Licença-menstruação no direito do trabalho

A licença-menstrual busca reconhecer os direitos das trabalhadoras em períodos de dor, promovendo saúde e inclusão no ambiente de trabalho.

30/9/2024

Introdução

A licença-menstrual é um tema relativamente novo no campo do direito do trabalho, surgindo como uma proposta para reconhecer e regulamentar os direitos das trabalhadoras durante o período menstrual.

Embora a menstruação seja uma condição natural, o seu impacto sobre a saúde e o bem-estar das mulheres no ambiente de trabalho é, todavia, pouco discutido.

A presente análise pretende explorar o conceito de licença-menstrual, suas implicações legais e sociais, e, bem assim, como pode ser integrada no contexto legal trabalhista da atualidade.

O conceito de licença-menstrual

A licença-menstrual consiste em um afastamento do trabalho remunerado durante os dias em que a mulher enfrenta cólicas menstruais intensas ou outras condições relacionadas à menstruação que podem comprometer sua capacidade laborativa. Esse conceito surge como uma resposta a uma necessidade específica das mulheres, considerando que muitas delas podem experimentar e sentir dores e desconfortos significativos durante esse período.

Contexto legal

No Brasil, a legislação trabalhista não contempla, explicitamente, a licença-menstrual. Entretanto, há discussões no âmbito legislativo e social sobre sua inclusão, com algumas propostas já apresentadas na Câmara dos deputados.

A proposta visa garantir que as mulheres tenham o direito a um afastamento sem prejuízo de seus salários, similar ao que ocorre em outras legislações ao redor do mundo.

Comparação internacional

Alguns países já implementaram políticas de licença-menstrual, e reconhecem seu impacto nas condições de trabalho.

O Japão, por exemplo, possui uma legislação que permite às mulheres tirar dias de licença em função de dores menstruais.

Já o parlamento da Indonésia introduziu leis permitindo que as mulheres se afastem do trabalho durante a menstruação, sem perda de vencimento e de salário.

Tais exemplos indicam uma tendência crescente de reconhecimento das necessidades específicas das trabalhadoras mulheres em nível global.

Impactos da licença-menstrual

Social

A implementação da licença-menstrual pode ter efeitos sociais significativos, e pretende contribuir para a desconstrução de clichês e tabus em torno da menstruação, além de promover uma cultura de saúde e bem-estar no ambiente de trabalho.

O reconhecimento da dificuldade enfrentada pelas mulheres pode melhorar a qualidade de vida e, consequentemente, sua produtividade.

Aspecto econômico

Adicionalmente, ao proporcionar um período de descanso, a licença-menstrual pode contribuir para a redução do absenteísmo e do presenteísmo porquanto as trabalhadoras que têm apoio durante esse período podem sim retornar ao trabalho bem mais saudáveis, engajadas e motivadas, favorecendo assim a produtividade a longo prazo.

Desafios e considerações

Apesar dos benefícios potenciais, a implementação da licença-menstrual enfrenta alguns desafios significativos, a saber:

Preconceito e estigmatização: A discussão em torno da menstruação ainda pode ser vista e entendida como tabu em algumas culturas, levando à resistência de empregadores e à estigmatização das mulheres que a solicitam.

Falta de informação: Muitas pessoas ainda não estão familiarizadas com as consequências da menstruação na vida cotidiana, o que pode dificultar a aceitação da proposta.

Abusos e mau uso: Há preocupações sobre possíveis e eventuais abusos da licença, realidade que demandará mecanismos claros e transparentes de regulamentação.

Conclusão

A licença-menstrual vem representar uma possibilidade de avanço nas relações de trabalho, promovendo um ambiente de trabalho mais inclusivo e saudável para as mulheres.

Embora o seu reconhecimento legal ainda esteja em discussão no Brasil, a sua implementação poderia gerar impactos positivos expressivamente significativos, tanto em termos sociais quanto econômicos.

A sensibilização de todos acerca desse tema é um passo crucial para que a realidade da licença-menstrual se torne uma prática estabelecida no cenário legal trabalhista brasileiro.

____________

1. APAMAGIS (Associação Paulista de Magistrados). Legislação e Políticas Públicas sobre Licença-Menstrual.

2. Estudos comparativos sobre políticas de licença-menstrual em diferentes países.

3. Jornais e publicações sobre saúde ocupacional e direitos das trabalhadoras.

Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade
Advogada, sócia fundadora do escritório Figueiredo Ferraz Advocacia. Graduação USP, Largo de São Francisco, em 1.981. Mestrado em direito do trabalho - USP. ExConselheira da OAB/SP.

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Artigos Mais Lidos

Afinal, quando serão pagos os precatórios Federais em 2025?

19/12/2024

Atualização do Código Civil e as regras de correção monetária e juros para inadimplência

19/12/2024

5 perguntas e respostas sobre as férias coletivas

19/12/2024

A política de concessão de veículos a funcionários e a tributação previdenciária

19/12/2024

Julgamento do Tema repetitivo 1.101/STJ: Responsabilidade dos bancos na indicação do termo final dos juros remuneratórios

19/12/2024