Migalhas de Peso

Porque a IA vai, definitivamente, mudar o futuro da advocacia

A evolução tecnológica gera um ciclo contínuo de inovações interligadas. Na advocacia, isso se traduz em transformações significativas, como a digitalização de processos e a automação com IA.

31/7/2024

Cada passo de uma nova tecnologia reforça os demais e leva ao surgimento de inovações adicionais e não previstas. Basta pensar a agricultura, que levou ao ócio e ao excedente gerando o comércio e a escrita, da escrita surge a matemática complexa e do comércio as redes de trocas e compartilhamento de outros métodos e inovações, esses reforçaram e aceleraram a própria agricultura, o ócio e outras tantas inovações. Num círculo virtuoso de reforço contínuo.

O mesmo veio com os computadores, que permitiram criar bases para gerar máquinas melhores, que possibilitaram maior capacidade de processamento, que viabilizaram a materialização da inteligência artificial. E com essa última não será diferente. Ela também gerará novos caminhos para o surgimento de IAs melhores.

Mas o que isso implica na advocacia? Simplesmente em tudo.

Talvez algum dos leitores já tenha vivido a busca de citações em diários oficiais. Muitos viveram as reuniões presenciais regulares com grandes clientes e todos os custos e limitações envolvidos. Mas, certamente, vários outros que estão apreciando este artigo nunca viram um diário oficial impresso, um processo costurado com linha em um outro e, talvez, mesmo sendo advogados, alguns não sabem nem onde fica o fórum da própria cidade.

Todas essas mudanças foram radicais, e são consequências de diferentes inovações. Mas pensar, pesquisar, organizar, entender, criticar, argumentar continuava restrito a profissionais humanos; só que isso também deve ruir.

Se você ainda acredita que as IAs generativas não vão chegar a isso, olhe para essa realidade de outra forma. O que você tem a mão, via ChatGPT, Gemini ou seja o que for, é o equivalente a um arado pesado de metal, puxado por humanos, do início da revolução agrícola. Pela frente ainda vem o equivalente a tração animal, arado mecânico e até a chegada dos grãos geneticamente modificados.

Independente do que afirmam pessoas como Bill Gates, essa tecnologia não vai parar, em breve teremos ela muito mais criativa do que vemos hoje. A consequência: internalização das atividades jurídicas em pelo menos 85%.

Cada real que uma empresa paga a um operador do direito, pode ser dividido como sendo 70% para cobrir atividade criativa de entendimento da demanda, definição da estratégia e criação da argumentação favorável. Vamos estimar que mais 15% seja para atividades como atualizar andamentos, acompanhar processos, gerar relatórios e jurimetrias; restando os últimos 15% para as atividades que ainda são exigidas para serem realizadas fisicamente (diligências, audiência etcetera).

A automação convencional já torna possível internalizar os 15% de atividades não jurídicas (relatórios, andamentos e afins), a IA Generativa cada dia aproxima mais a empresa da possibilidade de internalizar os 70% da parte criativa; devendo restar apenas os 15% da logística jurídica para ser mantido com terceiros. O que não significa que essa parte também não venha a ser atingida por essa revolução.

Sendo o único reduto protegido, os escritórios voltados para atuação empresarial vão lotar esse mercado, e os preços praticados vão cair pela pressão da manutenção de fluxo de caixa para fazer frente aos custos fixos elevados. Devendo ser estudado também automações neste ponto do fluxo de atuação dos advogados para buscar fazer se reduzir cada vez mais o custo envolvido nesta parte da prestação de serviço.

Mas, também não será o paraíso para os advogados das pessoas físicas. Eles também terão concorrentes digitais, presentes em vários pequenos escritórios, e por assinatura para advogados individuais. Isso não tornará maiores as margens para esse segmento, mas sim menor a percepção de valor e, por consequência, o quantitativo que os demandantes vão querer pagar.

Buscar remuneração pelo sucesso também não será uma alternativa viável, uma vez que as pessoas vão ter cada vez mais acesso a capacidade de, sozinhas, identificar a possibilidade de perder ou vencer um litígio, seja ele qual for. A informação estará cada vez mais disponível e ao alcance de uma pergunta simples feita em algum serviço movido por IA Generativa.

Quando do lançamento da unidade de negócio do IBM Watson, em 2015, se afirmava que, se você estava cursando direito, deveria desistir por que aquela tecnologia iria lhe substituir. Mas não foi assim. Mas, desta vez, é diferente; e esse pode ser um bom conselho hoje.

E o que os escritórios de advocacia devem fazer? O mesmo que os de contabilidade, de consultoria, de arquitetura, de engenharia e até clínicas, hospitais, softhouse… Devem se reinventar.

Ou cada uma dessas profissões e negócios se redesenham como digital, generativo, inteligente; ou não haverá espaço para eles frente às opções que estão prestes a surgir por aí.

Olhe para seu negócio como condenado a ser a próxima Xerox, Blackberry ou Kodak. Você é o novo gestor que está se recusando a acreditar que não terá mais espaço para você.

Minha recomendação é correr. Se aproximar da tecnologia e dar os primeiros passos rumo a nova revolução. Se desprender de tudo o que você conhece hoje e reinventar seu negócio e seu futuro.

Paulo Christiano Sobral
Advogado e Administrador, Sócio do Urbano Vitalino Advogados, CEO da NeuroLaw, mestre em administração, LLM em Direito Digital, especialista em Estratégia, Marketing, Finanças, Economia e Negócios.

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