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O profundo impacto social da regressividade fiscal - Uma perspectiva da reforma tributária

Para que a justiça fiscal saia do papel e se torne uma realidade, é essencial que as reformas promovam não apenas a simplificação, mas também a progressividade.

7/6/2024

A imperiosa necessidade de reformar o sistema tributário brasileiro é uma pauta recorrente entre especialistas, legisladores e a sociedade civil. O atual cenário tributário do Brasil se apresenta como um verdadeiro labirinto legislativo, uma complexidade que não apenas encarece o custo Brasil mas também engessa o crescimento econômico do país. É incontroverso que a estrutura vigente impõe barreiras significativas ao desenvolvimento econômico e social, colocando o Brasil em um patamar de desvantagem competitiva frente a outras nações.

A regulação tributária brasileira, com suas inúmeras normas que se sobrepõem e frequentemente se contradizem, gera uma elevada insegurança jurídica. Esta litigiosidade exacerbada acarreta custos elevados para as empresas que precisam alocar recursos significativos para gerenciar suas obrigações fiscais, além de impor um ônus desproporcional aos contribuintes de menor capacidade econômica. Nesse contexto, a morosidade e a complexidade do sistema não apenas desencorajam o investimento estrangeiro direto, como também penalizam a eficiência e a produtividade das empresas nacionais.

Além disso, o sistema tributário brasileiro é marcado por uma acentuada regressividade, onde os impostos tendem a consumir uma maior proporção da renda dos mais pobres em comparação aos mais ricos. Isso ocorre porque a maior parte da carga tributária é concentrada em impostos indiretos, que são aplicados igualmente sobre o consumo, independentemente da capacidade econômica do consumidor. Essa estrutura contribui para a perpetuação das desigualdades sociais e econômicas, desafiando os princípios da equidade e justiça fiscal.

Portanto, uma reforma tributária se faz necessária e urgente. É preciso desatar esse nó górdio com uma proposta robusta que simplifique, desburocratize e torne o sistema mais progressivo, alinhado com os objetivos de desenvolvimento sustentável e redução das disparidades sociais. Este primeiro passo na reforma tributária não só é um imperativo legal e econômico, mas também um imperativo moral para o Brasil. A reformulação deve mirar uma estrutura que promova justiça social, incentivando a atividade econômica e distribuindo de maneira mais equânime os ônus tributários.

O Sistema Tributário Brasileiro Atual: Uma análise crítica

A complexidade do sistema tributário brasileiro, com suas múltiplas camadas de legislação e a proliferação de normas fiscais, é uma das principais barreiras ao desenvolvimento econômico sustentável do país. Esta labirintica estrutura tributária, que compreende mais de 460 mil normas editadas desde a promulgação da Constituição de 1988, acarreta um ambiente de profunda insegurança jurídica. Tal cenário é um terreno fértil para a litigiosidade, onde a interpretação das normas torna-se um exercício tanto de exegese jurídica quanto de estratégia empresarial.

Os contribuintes, sejam eles grandes corporações ou pequenos empreendedores, enfrentam um oneroso fardo administrativo para manter a conformidade fiscal. Este panorama exige não apenas recursos financeiros substanciais, mas também um investimento significativo em capital humano especializado. As empresas se veem obrigadas a empregar exércitos de advogados e contadores, criando um verdadeiro "custo Brasil" que reduz a competitividade no cenário global.

Adicionalmente, a complexidade tributária brasileira não é apenas um problema doméstico, mas um empecilho à atração de investimentos estrangeiros. Investidores que consideram o Brasil como um potencial mercado encontram nesse emaranhado tributário um fator de risco e uma possível fonte de litígio. A alta carga tributária e a incerteza quanto à aplicação das leis são vistas como barreiras significativas, desencorajando novos negócios e inibindo a expansão dos já existentes.

A litigiosidade, por sua vez, é outro aspecto que merece destaque. O contencioso tributário no Brasil, segundo dados recentes, equivale a 75% do PIB, uma proporção astronômica se comparada a países membros da OCDE, onde não ultrapassa 0,3% do PIB. Esta alta litigiosidade reflete a falta de clareza das normas e a frequente alteração das regras fiscais, levando a um ciclo interminável de disputas entre o fisco e os contribuintes. As decisões divergentes entre as instâncias administrativas e judiciais apenas exacerbam esse quadro, contribuindo para um ambiente de incerteza que é profundamente prejudicial ao planejamento tributário e à segurança jurídica.

A regressividade do sistema tributário brasileiro constitui um dos maiores paradoxos da política fiscal nacional. Esse fenômeno ocorre quando a carga tributária incide de maneira mais pesada sobre os ombros daqueles que possuem menor capacidade contributiva, uma inversão dos princípios da capacidade contributiva e da progressividade, pilares de um sistema tributário justo e equânime. Em termos práticos, isso significa que quanto menor a renda do indivíduo, maior a proporção de seus ganhos é destinada ao pagamento de tributos.

O Brasil, um país já marcado por disparidades econômicas significativas, vê essa situação exacerbada por um sistema tributário que se apoia fortemente em impostos indiretos, como o ICMS e o IPI. Estes impostos, que são aplicados uniformemente sobre o consumo de bens e serviços, independem da situação financeira do consumidor, penalizando desproporcionalmente os mais pobres. Este grupo, apesar de ter uma renda significativamente menor, acaba por comprometer uma parcela maior de seus recursos no pagamento de tributos que incidem sobre bens de primeira necessidade.

A regressividade é ainda mais evidente quando observamos a tributação sobre a renda e o patrimônio no Brasil. Embora haja uma tabela progressiva para o IRPF - Imposto de Renda da Pessoa Física, as alíquotas e as faixas de incidência não têm acompanhado a evolução da distribuição de renda no país. Isso significa que os muito ricos frequentemente encontram brechas legais e regimes especiais que minimizam significativamente sua carga tributária, enquanto a classe média e os menos afortunados suportam um fardo desproporcional.

Gilmara Nagurnhak
Pós Graduada em Direito Civil e Direito Processual Civil Pós Graduanda em Direito Tributário Uma advogada apaixonada pelo mundo empresarial!

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