Invasão do Iraque:
“Um boi para não entrar, uma boiada para não sair?”
Mário Gonçalves Júnior*
“O amor é a força mais abstrata,
e também a mais potente,
que há no mundo”.
(Gandhi)
Qualquer que tenha sido o verdadeiro motivo da invasão do Iraque, o cenário que se forma com a tragédia de Madri e a decisão do novo governo socialista de retirar as tropas espanholas, objetivamente falando, é de confirmação da eficácia dos métodos da Al Quaeda: acuaram um dos países do Ocidente, agindo sobre a emoção e o medo do seu povo. Vidas inocentes foram sacrificadas estupidamente para se atingir exatamente esse objetivo.
Se a violência do terror deve estar parecendo útil aos terroristas, da violência dos aliados não se pode ter a mesma sensação de eficácia. Tomou-se um país com a facilidade de roubar doce de criança (guardadas as devidas proporções). Mas o terrorismo segue firme.
O mundo está num mato sem cachorro. Por mais insana que tenha sido a decisão dos EUA e Inglaterra, que se valeram de uma mentira para justificar a derrubada da ditadura sanguinária de Sadam, qualquer coisa que se faça agora dará no mesmo: se os aliados recuarem, os desumanos métodos das organizações terroristas serão coroados de êxito pleno; se for intensificada a guerra contra o terror, este não será banido completamente, por mais cruentas que sejam as batalhas. Alguém já observou, com perspicácia sobrenatural, que o terrorismo não é um grupo de pessoas, mas uma ideologia (“Al Quaeda” significa, aliás, “A Rede”). Ideologia não pode ser eliminada a tiros e bombas.
Entre “dar um boi para não entrar na briga, e uma boiada para não sair dela”, hoje se sabe que a primeira alternativa teria sido mais sensata.
Todos sabem disto, até o Papa João Paulo, que rezou em sua capela particular, chorando de joelhos. Quando a maior autoridade espiritual do planeta recolhe-se em postura de desespero e impotência, pode ser sinal de que a última (ou única) alternativa, agora, seja simplesmente orar.
Quem vive da espada... já dizia Jesus. O ódio realimenta-se.
Gandhi também pregava a doutrina da não-violência, desejava a paz entre hindus e muçulmanos, entre indianos e ingleses. Para o maior líder indiano, “o ahima (amor) não é somente um estado negativo que consiste em não fazer o mal, mas também um estado positivo que consiste em amar, em fazer o bem a todos, inclusive a quem faz o mal”. Jejuava, incentivava greves e desobediência civil, mas jamais a luta armada.
Lições históricas não faltaram. Nem violência. Então, o que faltou?
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* Advogado do escritório Demarest e Almeida Advogados
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