Dias atrás encontrei um professor de faculdade. E a ótima conversa evoluiu para um papo sobre a sua frustração de lecionar nos tempos atuais. Hoje em dia, dizia ele, admite-se todo tipo de diversidade, menos a de pensamento. E a universidade, que deveria ser o palco máximo da liberdade de expressão, converteu-se em lugar de vigília e intimidação.
Cuidado ao falar de raça, cuidado ao não falar de raça, cuidado ao falar de gênero, cuidado ao não identificar gêneros, cuidado ao falar de características físicas, cuidado ao ignorá-las, cuidado ao falar sobre ideologia e política, cuidado para não parecer alienado politicamente; cuidado ao cobrar bom desempenho acadêmico, cuidado ao reconhecer quem o tem (e quem não o tem).
Os tempos modernos querem abraçar as diferenças, desde que estejamos todos de acordo sobre quais são as diferenças endereçáveis, ou sobre qual a melhor forma de abordá-las. E somos tão inclusivos que não pensamos duas vezes em linchar publicamente aqueles que ousam expressar um contraponto, tecer uma crítica ou trazer ao debate uma visão polêmica. O cidadão será cancelado, sem chance de defesa ou contraditório. E merecerá arder na fogueira, junto com outras bruxas já queimadas.
Receio que estejamos perigosamente caminhando para longe do Iluminismo e de volta à idade das trevas, gradativamente confiscando um dos maiores patrimônios da sociedade evoluída: a liberdade de expressão. Só que agora trucidamos as divergências “em nome do bem” e não mais em nome de Deus.
A noção de politicamente correto pressupõe – antes de tudo - ser político (e a dialética é elemento nuclear da política). Temo, contudo, que estejamos rumando para o ditatorialmente correto. Salvemo-nos, portanto, do homem massa e da homogeneização do pensamento. Quero lugar de fala para as minorias que exercem o ato subversivo de pensar. Temo pela ciência, se esse almejado “bem comum” for monocórdio. A ciência é problemática por definição. Aliás, tenho tanto medo desse policiamento que escrevo esta coluna para que seja lida em voz baixa...