Migalhas de Peso

Compreensão a respeito dos desafios e prospecções direcionados ao eVTOL: a ascensão do novo horizonte do táxi aéreo

É evidente que o acesso às tecnologias originais aeronáuticas está no cerne desta transformação à medida que a evolução da aviação geral se apoia nas discussões sobre certificação dos eVTOL (Electric Vertical Take-Off and Landing) e VTOL (Vertical Take-Off and Landing).

10/4/2024

Would you tell me, please, which way I ought to go from here?”

“That depends a good deal on where you want to get to,” said the Cat.

“I don’t much care where—” said Alice. “Then it doesn’t matter which way you go,” said the Cat.

 

"Você poderia me dizer, por favor, qual caminho eu devo seguir a partir daqui?"

 

"Isso depende bastante de onde você quer chegar", disse o Gato.

"Eu não me importo muito com onde." disse Alice.

"Então não importa por qual caminho você siga", disse o Gato.  

 

Esse diálogo, extraído da obra-prima intitulada "Alice's Adventures in Wonderland" (As Aventuras de Alice no País das Maravilhas) (Carroll, 1865), representa como a não definição de um “norte” para qualquer assunto pode representar uma situação estática, dificultando o encontro de um referencial seguro para onde se pretende chegar.  

Em cenários futurísticos contendo “carros voadores” retratados nos cinemas, como “De Volta para o Futuro – Parte II”, “Blade Runner”, e até o renomado “StarWars” trazem à tona reflexões e comparações com o cenário atual da aviação que será escrito neste capítulo. Por meio de uma observação crítica percebemos que tais veículos retratados não possuem fidelidade factual com uma configuração aerodinâmica que permita, por exemplo, a execução de todas as fases do plano de voo e, consequentemente, transmite ao público a falsa percepção sobre a simplicidade de ter um produto como esse no contexto prático do ecossistema do Advanced Air Mobility (AAM) e Urban Air Mobility (UAM) sem a rigidez das normas de trânsito aéreo. Em “Blade Runner - 2049”, o policial interpretado pelo ator Ryan Gosling que dirige seu veículo aéreo transita sobre as cidades sem a preocupação de se reportar a uma torre de controle de tráfego aéreo, sem transmitir sua geolocalização para outras aeronaves próximas, realizando transições de altitude bruscas e repentinas, como se estivesse sozinho no perímetro daquele trajeto. Com todo respeito aos renomados diretores Steven Spielberg e Robert Zemeckis, mas até mesmo o querido veículo DeLorean, do filme De Volta para o Futuro – Parte II (1989), de nada possuí de aerodinâmico que permitiria, por exemplo, uma transição do eixo vertical para o horizontal. É simplesmente irreal. E por fim, para sermos justos, numa visão quase que profética, o diretor James Cameron, no clássico Exterminador do Futuro (1984), retrata uma arquitetura, de certa forma, de um carro voador similar do que está sendo apresentado atualmente por diversas empresas. 

De acordo com Jiang et al. (2023), a indústria da aviação é um setor dinâmico e em constante evolução. À medida que a tecnologia avança e se torna mais sofisticada, a indústria da aviação deve acompanhar as novas tendências. Na história da aviação, é notória que toda e qualquer premissa seja direcionada à constância lógica, com planejamentos, objetivos claros e bem definidos, sendo estes os fatores propulsores impulsionados principalmente por anseios em experimentar possibilidades e pela disposição de aprimorar. Esse cenário representa uma busca incansável por alcançar eficiência, segurança e novos horizontes nas alturas.

Na seara da aviação, a imperatividade e a padronização na realização de procedimentos e testes, a exploração de conceitos e elaboração de projetos transcende a mera conveniência. Fundamenta-se na constituição de alicerces fundamentais para o progresso desta imponente ciência e indústria. A história da aviação testemunha que, desde suas origens, os pioneiros, como Orville e Wilbur Wright, compreenderam que o caminho para o êxito na engenharia aeroespacial é pavimentado por inúmeras tentativas, erros e ajustes (Page, 2021). A máxima de Orville Wright, que ressoa através das décadas, ecoa o princípio intrínseco à aviação de que a inovação requer perseverança e resiliência, instando os visionários a não desistirem perante os revezes iniciais.

Após 7 (sete) décadas do cenário vivenciado pelos irmãos Wright, Pavel (2022) aponta que os avanços tecnológicos, trazidos no início do século XXI pela revolução na troca de dados, na autonomia computacional, nos sensores, na comunicação sem fio, na internet e na inteligência artificial e de dados, contribuíram para o desenvolvimento de uma nova visão na aviação e é exatamente nesse contexto promissor que insere-se o eVTOL (Electric Vertical Takeoff and Landing), o qual foi iniciado em 2016 com apenas meia dúzia de projetos. Segundo a autora, hoje são mais de quatrocentas e cinquentas (450) empresas que estão em processo de desenvolvimento de protótipos numa competição acirrada entre start-ups, renomados fabricantes de aeronaves, como Uber, Boeing, Embraer e Airbus) e Big Techs, como Amazon, Apple e Facebook. 

No entanto, ainda existe uma lacuna crítica a ser preenchida no que diz respeito aos aspectos jurídicos, normativos e de certificações, principalmente quando são considerados temas que permitirão serviços inovadores como táxi aéreo, médicos e e-commerce inseridos no contexto do ecossistema do Advanced Air Mobility (AAM) e o sub-ecossistema do Urban Air Mobility (UAM) com previsão para iniciar sua operação para os anos próximos já no fim dessa década de 20, e quais países estão nessa corrida tecnológica aliada aos componentes regulatórios. 

Segundo o Federal Aviation Administration o AAM pode ser definido como “um sistema de transporte que transporta pessoas e propriedades por via aérea entre dois pontos usando aeronaves com tecnologias avançadas, incluindo aeronaves elétricas ou aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOL), em espaço aéreo controlado e não controlado.” Na mesma regra, porém restringiu que, para efeitos do plano de implementação no âmbito do AAM, é limitado àqueles que realizam operações de transporte de passageiros ou de carga com 1 piloto a bordo (FAA, 2023). 

1.1 Breve análise a respeito das causas e motivações para o desenvolvimento de eVTOLs

De acordo com Bauranov e Rakas (2021), a ideia da Mobilidade Aérea Urbana (Urban Air Mobility), aliada ao desenvolvimento tecnológico em automação e armazenamento de energia elétrica, impulsionou o crescimento da indústria da aviação urbana. O conceito de UAM compreende um conjunto de regras, procedimentos e tecnologias que possibilitam as operações de tráfego aéreo de cargas e passageiros no ambiente urbano. A UAM faz parte da Advanced Air Mobility (AAM), uma iniciativa conjunta nos Estados Unidos, do FAA, NASA

(National Aeronautics and Space Administration) e da indústria para desenvolver um sistema de transporte aéreo que transporta passageiros e carga com novos veículos aéreos elétricos em potenciais áreas pouco atendidas pela aviação tradicional.

O potencial das aeronaves eVTOL para transformar a mobilidade aérea em uma ampla gama de aplicações governamentais (minimização do tráfego convencional e das emissões de carbono, monitoramento militar, ambiental e de fronteiras, resgates, situações médicas) e privadas (logística de entregas, ampliação de novos mercados e táxis aéreos) precisam ser entendidas no contexto das tecnologias específicas a serem encontradas (NASA, 2021). De acordo com a ANAC há um forte potencial para eVTOLs no mercado de táxi-aéreo urbano – voos de 15 a 50km, sob demanda, entre pontos de pouso disponíveis, para o` transporte para aeroportos (airport shuttle) – voos de 15 a 50km, agendados, com rotas definidas entre aeroportos e pontos selecionados e para voos entre cidades próximas – de 50 a 250km, agendados, com rotas definidas (ANAC, 2023). 

Os esforços para o desenvolvimento de eVTOLs também estão diretamente alinhadas com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 7) da ONU, buscando promover a energia acessível e menos poluente (Kasliwal et al., 2019). Ao eletrificar o transporte aéreo, reduzindo as emissões de carbono e tornando o transporte aéreo mais acessível, os eVTOL desempenham um papel importante na construção de um futuro mais sustentável e na consecução das metas da ONU. Eles representam uma solução inovadora que contribui significativamente para a transição global para uma matriz energética mais adequada (Melo et al., 2020). 

Petros Neto
Advogado do setor da aviação, especializado em compliance, direito digital e contratos, e mestrando em regulação e inovação com foco em mobilidade aérea espacial.

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