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O encarceramento e a saúde mental

O cárcere pode agravar ou desencadear problemas psicológicos. Fatores como privação e adversidades prévias influenciam nesse adoecimento.

1/4/2024

O encarceramento promove o aparecimento de sintomas psicológicos ou perpetua e agrava sintomas psicológicos anteriores. Investigações indicam que o adoecimento mental pode ser causado pela privação vivida na prisão, ou importado para a prisão1.

Na perspectiva da importação, as adversidades anteriores à prisão contribuem para doenças mentais subsequentes, como analfabetismo, abuso infantil, falta de moradia, apoio social reduzido, deficiências socioeconômicas e acadêmicas/ocupacionais, uso de substâncias, lesões cerebrais e doença mental2.

Na privação, presos desenvolvem a doença mental devido ao ambiente prisional iatrogênicos, ou seja, por este ambiente ser inerentemente prejudicial à saúde mental.

Fatores de risco do encarceramento a saúde mental

Fonte: Baseado em Quant e Jones3 e Cunha et al4

O ambiente é um determinante social importante no contexto da saúde mental. No caso do ambiente penitenciário, desestrutura o estado emocional das pessoas privadas de liberdade e contribui para o seu desequilíbrio mental momentâneo ou permanente. Isto ocorre porque existem mudanças bruscas que, ao catalisarem fatores estressantes, potencializam as sensações de ansiedade, medo, desamparo, isolamento, rejeição, impotência e diminuição da autoestima. (Grifos nossos)5.

O menor apoio social e relações familiares positivas também é influenciada pela distância do local de prisão da casa da pessoa encarcerada. Esta está relacionada a Depressão, sendo que quando a distância é grande, maior risco de desenvolver o transtorno6.

A separação dos filhos é uma das condições mais estressantes de encarceramento para as mulheres e está associada a sentimentos de culpa, angústia, depressão, ansiedade, medo de perder o apego mãe-filho e pensamentos suicidas7.

A falta de controle sobre a rotina e vida cotidiana geram sentimentos negativos, como de desamparo. É natural que ter poder de decidir sobre quando acordar, o que comer, com que trabalhar, quando descansar e ter lazer seja indicador de maior saúde mental.

Da mesma forma, uma rotina monótona, tediosa, sem estímulos gratificantes, sem significado ou propósito causam sentimentos de frustração, raiva, desesperança, estresse, ansiedade, depressão, inclusive formas desadaptativas de lidar com a situação, como através do abuso de substâncias8.

O estresse pode ser aumentado pelas regras institucionais serem aplicadas de forma variável, dependendo de fatores como as relações presidiários-funcionários, o humor dos funcionários, a gravidade da violação das regras e a conveniência da aplicação das regras.

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1 Armour C. Mental health in prison: a trauma perspective on importation and deprivation. Int J Criminol Soc Theor. 2012;5:886–94.

2 Gonçalves LC, Endrass J, Rossegger A, Dirkzwager AJE. A longitudinal study of mental health symptoms in young prisoners: exploring the influence of personal factors and the correctional climate. BMC Psychiatry. 2016;16.

3 Quandt KR; Jones A. Resumo de pesquisa: O encarceramento pode causar danos duradouros à saúde mental. 2021. Disponível em: https://www.prisonpolicy.org/blog/2021/05/13/mentalhealthimpacts/

4 Cunha O, Castro Rodrigues A, Caridade S, Dias AR, Almeida TC, Cruz AR, Peixoto MM. The impact of imprisonment on individuals' mental health and society reintegration: study protocol. BMC Psychol. 2023 Jul 25;11(1):215.

5 SANTOS, M. V. DOS . et al.. Mental health of incarcerated women in the state of Rio de Janeiro. Texto & Contexto - Enfermagem, v. 26, n. 2,, 2017.

6 Edgemon, T. G., & Clay-Warner, J. (2019). Inmate Mental Health and the Pains of Imprisonment. Society and Mental Health, 9(1), 33-50.

7 Poehlmann, Julie. (2005). Incarcerated Mothers' Contact With Children, Perceived Family Relationships, and Depressive Symptoms. Journal of family psychology. 19. 350-7.

8 A. Goomany, T. Dickinson. The influence of prison climate on the mental health of adult prisoners: a literature review. Journal of psychiatric and mental health nursing. 2015.

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Ana Carolina Schmidt de Oliveira
Psicóloga (PUC Campinas e UNIR Espanha), especialista em dependência química (UNIFESP), máster em psicologia legal e forense (UNED Espanha). Coordenadora pedagógica dos cursos de Pós-Graduação UNIP/Vida Mental.

Hewdy Lobo
Psiquiatra Forense (CREMESP 114681, RQE 300311), Membro da Comissão de Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria. Atuação como Assistente Técnico em avaliação da Sanidade Mental.

Elise Karam Trindade
Psicóloga inscrita no CRP sob nº 07/15.329; graduada em Psicologia (Universidade Luterana do Brasil - ULBRA); especializada em técnicas psicoterápicas psicanalíticas com crianças e adolescentes (NUSIAF - Universidade de Coimbra, Portugal); diplomada em Estudos Avançados (DEA - Universidade da Extremadura, Espanha).

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