Jayme Vita Roso*
À palavra, de origem duvidosa, ao longo desta última década, cada vez mais, dá-se-lhe sentido pejorativo. E não é que, afrouxando-se os costumes, não vingando os clássicos princípios éticos, enterrando-se sem glória as maravilhas da vida em família e a vida da família como valores sem valia econômico-social, o amor se banalizou.
Quando se banalizam difusamente os sentimentos-valores e os valores-sentimentos, ficamos na posição estática de meros espectadores da desenfreada e incontida perversão de atos e comportamentos, abrangendo todas as idades, todas as classes sociais, todos os povos, graças à disseminação dos veículos mediáticos.
Não é de causar espanto, mas calafrio, quando se nos apresentam os espetáculos proporcionados pela Policia Federal, com uma seqüência desmoralizante para os valores democráticos, mostrando que Michel Foucault, quando discursava no Colégio da França (1978/1979), sobre as racionalidades governamentais e, antes, em 1977, sobre a prisão, sobravam-lhe razões para explorar as muitas das modernas manifestações de governo. É, a partir de então, que se cunhou o Efeito Foucault e, sobre ele, o criticismo argüido contra o sistema e que passou a representar a verdadeira força para mudança de atitudes e ações e que, estendendo-se e ampliando-se os limites de algumas práticas, consegue-se a invenção de outras. É o que estamos precisando neste país: derrubar mitos, com atitudes e exemplos, para inventar-se um outro país, já que este, coitado, não se supera.
Mas, eu queria, ao iniciar, falar de amor brega e passei ao meio ambiente deteriorado pela hipocrisia e pelo cinismo de todos os atores dos poderes.
Amor brega é amor que nasce do coração, estoura no olhar, circunscreve-se na palavra macia e provocada, aquece a medula, faz gaguejar, dá vertigem, quer e sabe querer o que quer, amarra, instiga, sacode, balança e treme... É bom, porque cafona, para muitos arrumadinhos, nada vale. Um porém: na maioria dos casos, acontecimentos, sucessos, o amor brega é sincero e fiel, uma vez que a explosão interna eleva os sentimentos nobres e sufoca o mau caráter. Por isso, a música brega é tocada, cantada, dançada e compartilhada pelo povo, pelo povão, dispensando a luz psicodélica e seus efeitos. Às vezes, entretanto, dá com as fuças no charco, como aconteceu com o Besame mucho. Mas, é da condição humana.
Aos namorados, se enamorados, ouso recomendar que transformem seus sentimentos no mais brega dos bregas e vivam os sentimentos, ao som de Nelson Gonçalves, recitando, com a mineira poeta, mineiramente, no ouvido:
“Eu quero amar feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
Não teologa mais...
Amor feinho é bom porque não fica velho”1.
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1PRADO, Adélia. Amor feinho. In O sempre amor. CD e livro Poemas sobre o amor, pela autora. Participação da Orquestra Sinfônica de Sesiminar. Sonopress Rimo da Amazônia Ind. e Com. Fonográfica Ltda..
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*Advogado do escritório Jayme Vita Roso Advogados e Consultores Jurídicos
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