Ninguém gosta de admitir, mas são poucas as pessoas que sabem trabalhar bem em grupo. Nunca nos ensinaram a fazer isso. Por exemplo, na faculdade, em um time de cinco pessoas, duas de fato faziam o projeto, uma preparava a apresentação, outra fazia farra e sempre havia uma que pedia para colocar o nome no texto final (mesmo sem ter ideia do que constava nele). Essa é uma das nossas referências de atuação em conjunto e que levamos para o dia a dia do escritório.
Na mídia e em diversos artigos acadêmicos é comum ouvirmos falar dos times de alto desempenho. Grupos de pessoas que conseguem excelentes resultados juntas, durante um tempo relativamente grande e no qual as pessoas gostam de trabalhar. Simples? Certamente não. Mas com certeza algo possível de ser alcançado se investirmos nas variáveis certas. E aqui vão elas.
De modo geral, nossos estudos sobre liderança e as observações práticas em inúmeras equipes bem-sucedidas mostram que o alto desempenho segue uma equação similar a essa:
Alto desempenho do grupo = objetivos claros + valores compartilhados + habilidades de relacionamento interpessoal
Os primeiros dois componentes, objetivos claros e valores compartilhados, tive oportunidade de explorar no primeiro artigo dessa série (alinhando as ideias sobre o negócio). Em resumo, o que afirmo lá é que os sócios precisam ter visões convergentes sobre o modelo de negócio em que estão, ou seja, os objetivos de longo prazo, a expectativa de crescimento, etc., e que precisam comungar de valores muito próximos. Quando isso acontece, os sócios param de brigar por picuinhas. Vale à pena ler.
Mas isso não é suficiente. No dia a dia muitos sócios não conseguem se relacionar bem, mesmo quando estão alinhados quanto aos objetivos de longo prazo e possuem valores comuns. Eles se comunicam mal, são pouco polidos no trato e muitas vezes brigam falando praticamente a mesma coisa. O que acontece? Faltam a eles algumas habilidades essenciais de relacionamento.
A primeira e mais importante habilidade para nos relacionarmos bem é termos capacidade de nos comunicar de modo assertivo. Vamos à definição. Assertividade diz respeito à nossa capacidade de ouvir e considerar a opinião alheia e, ao mesmo tempo, de expor nosso pensamento de forma transparente. Isso remete à ideia de que nossa opinião é tão importante quanto à do outro e que para chegarmos a boas decisões, precisamos considerar ambas.
Alguns sócios se colocam diante de seus pares de modo agressivo. No fundo, eles partem do pressuposto de que sempre estão com a verdade. Logo, vociferam o que têm a dizer e esperam que os outros os acatem. Outros, por sua vez, acabam assumindo o papel oposto. Por inúmeras razões, preferem omitir o que pensam e sentem (“não vai adiantar mesmo”, dizem) e depois se queixam pelos corredores ou mesmo sabotam decisões que o grupo tomou.
É possível mudar isso. Há treinamentos que ajudam você e seus sócios a terem comportamento mais assertivos e, por consequência, alcançarem um nível maior de entendimento mútuo. Aqui, uma advertência. Mudanças comportamentais acontecem dento das pessoas e se elas quiserem. Portanto, é preciso escolher programas de desenvolvimento que abordem não apenas técnicas de comunicação, mas autoconhecimento e mudanças de percepção.
Outra capacidade decisiva para que os sócios trabalhem bem em conjunto é que o grupo seja conduzido por um bom facilitador. Alguém que coordene adequadamente as reuniões de sócios, saiba trazer os temas certos, no momento adequado, e que consiga estimular a participação de cada membro para que se alcancem boas decisões.
Dito assim, parece algo trivial. Não é. Em mais de vinte e cinco participando de comitês gestores, já vi sucessos e tragédias ocorrerem devido à condução inadequada de reuniões. Vi sócios abandonarem a sala dando murros na mesa, por se sentirem insultados com o modo como certas afirmações foram feitas. Outros, que diziam irônicos: “obrigado por me trazer aqui para ouvir uma decisão que vocês já tomaram”. E também vi grupos tomarem decisões difíceis, em ambiente tenso, mas de modo respeitoso e, ao afinal, todos saírem satisfeitos.
Conduzir uma reunião de sócios é um misto de técnica e arte. O facilitador precisa ter clareza dos resultados a serem alcançados, e sensibilidade para perceber as vaidades e os jogo de interesses (declarados ou não) que sempre existem. Só assim ele pode conciliar os diversos pontos de vista e chegar a uma decisão que mesmo os sócios divergentes, estejam dispostos a apoiá-la.
Em tempo, quando o grupo alcança esse estágio, dizemos que o consenso foi obtido, o que é um ótimo indicativo que o facilitador realizou bem o seu papel, de que todos respeitam a decisão tomada e de que trabalharão duro para colocá-la em prática. Nesses casos, os conflitos diminuem muito e o desempenho do grupo aumenta exponencialmente.