Atualmente, cada vez mais as indústrias automotivas estão buscando por soluções eficientes e limpas, objetivando a redução de impactos ambientais provenientes da emissão de gases do efeito estufa e sua consequente pegada de carbono. Nesse contexto, carros com propulsão 100% elétricos ou híbridos, que combinam a tecnologia dos motores a combustão interna com a propulsão elétrica, tem se destacado como uma alternativa para reduzir os impactos ambientais e garantir a mobilidade do futuro. Embora atualmente, em termos globais a atenção esteja mais voltada para o desenvolvimento de veículos 100% elétricos, no Brasil, a atenção está mais voltada aos veículos híbridos.
Inicialmente sendo empregados apenas em conjunto com gasolina ou diesel, os carros híbridos proporcionam considerável economia de combustível, reduzindo assim a emissão de poluentes na atmosfera. Atualmente, além de gasolina e diesel, é possível encontrarmos carros híbridos Flex, movidos tanto à gasolina quanto ao etanol, o que proporciona uma redução ainda maior na pegada de carbono desse tipo de carro híbrido. Isso se deve ao ciclo fechado de carbono presente no etanol, uma vez que a cana-de-açúcar ou milho, ou ainda outros vegetais, absorve CO2 da atmosfera durante o seu crescimento, compensando as emissões liberadas durante a queima desse combustível. Dessa forma, o etanol é considerado um recurso de baixo carbono, contribuindo significativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Como se sabe, o Brasil é um dos maiores produtores de etanol no mundo, e conta com uma infraestrutura bastante desenvolvida de produção e distribuição deste combustível. Embora os motivos para isso, inicialmente não estavam relacionados com a questão ambiental. No Brasil, na década de 1970, por conta das consequências das crises do petróleo de 1973 e 1979, foi implementado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), cujo objetivo era diminuir a dependência brasileira do petróleo mundial por meio do impulsionamento da produção de etanol a partir da cana-de-açúcar como solução alternativa aos combustíveis derivados do petróleo. No entanto, pode-se dizer que hoje, a questão ambiental é um fator preponderante para o uso do etanol como fonte alternativa de combustíveis veiculares no Brasil.
Vale ressaltar que o etanol é considerado um combustível renovável, e sua combustão é acentuadamente menos poluente em relação aos combustíveis fósseis. A combustão do etanol libera menos gases nocivos, como dióxido de carbono (CO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado, o que contribui para a melhoria da qualidade do ar e reduz os impactos negativos na saúde pública. Além disso, o uso do etanol como combustível traz benefícios econômicos e sociais, impulsionando o setor agrícola e a geração de empregos no campo.
Adicionalmente, quando consideramos a redução de pegada de carbono de carros híbridos movidos a etanol no Brasil, outro fator inerente ao Brasil e que possui contribuição importante no cômputo dessa pegada de carbono é o fato de que a matriz energética brasileira ser majoritariamente de fontes limpas e renováveis. Um estudo realizado pela Stellantis (conglomerado dona de marcas como Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot) em parceria com a Bosch apresentou que o carro híbrido movido a etanol no Brasil possui uma pegada de carbono menor do que a de um carro elétrico que roda na Europa. Em 240,49 km rodados, o carro a etanol emitiu 25,79 kg de CO2. O número para o veículo elétrico em ciclo europeu foi de 30,41 kg e para a gasolina, de 60,64 kg.
E por conta dessa menor pegada de carbono, tudo indica que os veículos híbridos no Brasil serão movidos a etanol (ou pelo menos contemplarão essa possibilidade – Flex). Dados divulgados pela Anfavea indicam que cerca de 90% dos veículos leves (não híbridos) em 2020 já eram Flex. E algo que corrobora essa afirmação é que a Volkswagen e a Stellantis anunciaram investimentos bilionários (7 bilhões e 16 bilhões de reais, respectivamente) nos próximos anos para desenvolver e produzir veículos híbridos movidos a etanol no Brasil. A Toyota, que atualmente já conta com um veículo híbrido Flex (movido a gasolina e/ou etanol – Corolla Cross Hybrid), também anunciou um investimento da ordem de 1,7 bilhões de reais para a produção de um novo carro híbrido Flex no Brasil. As montadoras chinesas também não ficaram atrás, GWM, BYD e Higer Bus anunciaram aportes que somam mais de 20 bilhões de reais a serem investidos no Brasil até 2026.
Por mais que o foco global esteja voltado aos veículos 100% elétricos, isso não significa que os híbridos perderão mercado, muito pelo contrário. De acordo com dados disponibilizados pela Precedence Research, que é uma organização mundial de consultoria e pesquisa de mercado, o tamanho de mercado de veículos híbridos no mundo todo deve atingir até o final de 2023 um valor próximo a 82 bilhões de dólares (432 bilhões de reais). Ainda, segundo a referida organização, estima-se que o tamanho de mercado de veículos híbridos deve atingir cerca de 444 bilhões de dólares (2,182 trilhões de reais) em 2032.
Como mencionado anteriormente, em termos globais, o foco da indústria automotiva está mais voltado para o investimento em veículos elétricos a bateria, o Brasil sendo um dos poucos países em que as empresas estão priorizando o investimento nos veículos híbridos. Dessa forma, pode-se dizer que, pelo menos relativamente, o Brasil terá uma fatia maior no mercado de veículos híbridos.
E todas essas empresas estão contando com uma bela ajuda por parte da Toyota, que com o objetivo de fomentar ainda mais o desenvolvimento da tecnologia aplicada a veículos híbridos, em 2019, informou que licenciaria de forma gratuita até 2030 muitas de suas patentes direcionadas aos veículos híbridos. A Toyota disse que concederia licenças para quase 24.000 patentes sobre tecnologias usadas em seu Prius, o primeiro carro "verde" produzido em massa no mundo, e se ofereceria para fornecer aos concorrentes componentes, incluindo motores, conversores de energia e baterias usadas em seus veículos com emissões mais baixas.
Com relação ao desenvolvimento tecnológico dos veículos híbridos, segundo o estudo “The global patents dataset on the vehicle powertrains of ICEV, HEV, and BEV” publicado em outubro de 2020, de acordo com dados obtidos utilizando o “Thomson Reuters' Derwent Innovations Index (DII)”, foram concedidas cerca de 10888 patentes relacionadas à veículos híbridos entre 1985 e 2016.
Utilizando o citado índice, em uma metodologia de pesquisa semelhante, e adicionando o termo etanol ou álcool em conjunto com os demais termos empregados na pesquisa, o número de resultados diminui bastante, para apenas 134, o que pode ser um indicativo de que o desenvolvimento de tecnologias relacionadas com veículos híbridos movidos a etanol ainda é bastante incipiente, e tem ainda bastante espaço para crescimento.
Vale destacar ainda que os avanços tecnológicos nos carros híbridos não estão limitados à apenas ao tipo de combustível utilizado. No geral, os avanços tecnológicos têm sido impressionantes, permitindo uma integração mais eficiente entre os motores de combustão interna e elétricos. Os veículos híbridos atuais utilizam sistemas de propulsão inteligentes que alternam entre o motor elétrico e o motor a combustão, otimizando o consumo de combustível e o desempenho. As baterias também estão em constante desenvolvimento, proporcionando cada vez mais uma maior capacidade de armazenamento de energia e uma vida útil mais longa, permitindo uma maior autonomia elétrica. Os sistemas de regeneração de energia, como o freio regenerativo, também têm sido incorporados, aproveitando a energia cinética para recarregar a bateria, tornando os carros híbridos ainda mais eficientes. Além disso, as tecnologias de gerenciamento eletrônico têm se aprimorado, possibilitando um controle mais preciso do fluxo de energia entre os motores e maximizando a eficiência do conjunto híbrido. A conectividade e a digitalização dos veículos também têm contribuído para uma melhor experiência do usuário e para a otimização do consumo de combustível.
Em vista do exposto, pode-se concluir que os veículos híbridos representam uma resposta inteligente e sustentável aos desafios do setor automotivo no século XXI. No Brasil, o etanol tem um papel significativo nessa equação, impulsionando a mobilidade verde e contribuindo para a redução das emissões de carbono. Com avanços tecnológicos constantes, a incorporação de recursos de última geração tem permitido que os veículos híbridos sejam cada vez mais eficientes, econômicos e “amigáveis” ao meio ambiente. A convergência entre a tradição do etanol e a inovação dos motores elétricos é a chave para um futuro promissor, no qual a mobilidade e a sustentabilidade caminham juntas.