Nesse dia 11, várias instituições renderão justas homenagens aos profissionais da área, que já foram representados por grandes nomes da vida nacional, como Rui Barbosa ou Clóvis Beviláqua, para citar apenas dois.
As homenagens, sem dúvida justas, devem servir para ampliar o orgulho daqueles que exercem a advocacia. Sugiro, no entanto, que sirvam também como um momento de reflexão a todos os profissionais da área: qual advocacia estão fazendo? Como a profissão deverá ser exercida daqui a cinco ou 10 anos? Minha inquietude não é à toa.
Nos últimos vinte anos atuando com os escritórios de advocacia, pude observar as transições no modo de trabalho da área. Das mesas privativas de sócios, cheias de pastas com processos físicos, às áreas comuns em que inúmeros advogados compartilham estações de trabalho e mantém os olhos grudados nas telas de computadores. Dos grandes figurões com ternos impecáveis, ao movimento jurídico sem gravata ou mesmo com sapatos sem meia, fazendo estilo.
A advocacia mudou. Antes um privilégio de poucos, a profissão foi popularizada pela enorme quantidade de formandos que as escolas despejam no mercado ano após ano. Onde se praticavam honorários vultosos, agora muitas vezes os preços são decididos em um leilão: que vença o menor.
A advocacia não passou a ser um negócio nos últimos anos. Ela sempre foi. O que ocorre é que as mudanças forçaram seus praticantes a utilizarem novas ferramentas e a se ajustarem às demandas de uma sociedade mais conectada, mais rápida e mais competitiva. Afinal, quem ainda quer esperar cinco dias pelo retorno de seu advogado, quando o livro comprado na Amazon chega em horas? Quem precisa perder horas escrevendo uma peça processual simples, quando a inteligência artificial traz modelos prontos em segundos? É para refletir.
Se a reflexão é necessária, o desespero, não. Diversas pessoas têm alardeados o fim dos tempos: robôs substituirão os advogados. Os incautos se desesperam. Os mais lúcidos regozijam-se. Digo isso porque talvez há muito tempo não víamos um mundo tão desesperado, clamando pela presença de um bom profissional do direito que equacione os problemas complexos que os novos tempos escancaram. Apenas para citar alguns exemplos:
- como lidar com as questões de direito autoral com o uso desenfreado das informações pelos recursos de I.A.?
- como resolver os dilemas entre empregados e empregadores em um mundo de relações trabalhistas fluidas e no qual a CLT parece insuficiente para dirimir os conflitos entre as partes?
- a LGPD veio para ficar, mas quais os limites e como as empresas podem utilizá-la de modo prático sem engessar suas operações;
- e por aí vai.
Mais do que nunca o clichê se manterá vivo: sem um advogado, não se fará justiça. Não haverá relações harmônicas entre partes sem a mediação da lei. Não se realizarão negócios seguros sem profissionais aptos a viabilizá-los legal e eticamente. Os advogados estão salvos, ou, pelo menos, os advogados de negócio da nova era.
Sim, pois se tudo muda, seria ingênuo imaginar que os novos advogados seriam bem-sucedidos utilizando velhas práticas. A nova advocacia exige profissionais antenados, capazes de empregar recursos tecnológicos em prol da operação de suas bancas e da solução dos problemas de seus clientes.
Voltemos ao início. Dia 11 de agosto é um dia para celebrar, refletir e mudar. Celebrar a importância da profissão que você exerce e que apresenta tantas novas oportunidades de atuação. Refletir sobre como você tem exercido seu papel de advogado e como deverá fazê-lo no futuro. Mudar para uma advocacia cada vez mais profissional, prática e orientada para fazer valer a máxima: sem advogado não se faz justiça.
Meus parabéns a todos os advogados que têm feito isso.