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Enfrentando o futuro da IA na educação: Desafios e orientações da UNESCO

Os resultados da pesquisa destacam a necessidade urgente de uma reflexão mais profunda e de ação coletiva para desenvolver diretrizes claras e eficazes para o uso de IA generativa na educação.

5/6/2023

1. Introdução

As rápidas transformações tecnológicas e o advento de novas ferramentas, como os aplicativos generativos de Inteligência Artificial (IA), estão revolucionando o setor educacional. Contudo, o caminho para integrar efetivamente essas tecnologias em nossos sistemas de ensino ainda não está claramente delineado. Uma recente pesquisa global conduzida pela UNESCO fornece uma visão mais aprofundada sobre como as instituições educacionais, incluindo escolas e universidades, estão navegando neste cenário emergente e desafiador. O estudo, realizado em maio de 2023, oferece uma análise da adoção de políticas e diretrizes institucionais relativas ao uso de aplicativos generativos de IA, destacando as respostas diversas e, em muitos casos, ainda incipientes, das instituições de ensino frente ao rápido avanço da IA.

2. Adaptação à IA na Educação

O avanço da Inteligência Artificial (IA) generativa trouxe uma mudança sísmica para o setor educacional. Com capacidades para produzir conteúdo similares aos humanos, incluindo resumos, ensaios, programas de computador e até arte, esses aplicativos de IA oferecem potencialidades inéditas para enriquecer o aprendizado. Contudo, o ritmo acelerado desses avanços tecnológicos tem apresentado desafios para instituições educacionais em se adaptar e regulamentar o uso dessas ferramentas de maneira efetiva e segura.

A pesquisa conduzida pela UNESCO revela que menos de 10% das instituições educacionais desenvolveram políticas institucionais ou orientações formais sobre a utilização desses aplicativos de IA. Isso indica uma lacuna notável entre o avanço da tecnologia e a capacidade das instituições de responder de forma apropriada. A ausência de diretrizes formais deixa espaço para usos inconsistentes, potencialmente inadequados ou mesmo prejudiciais dessas ferramentas, aumentando os riscos associados a questões como a privacidade dos dados, a qualidade do conteúdo gerado e a equidade no acesso à tecnologia.

Este atraso na adaptação não apenas destaca a dificuldade inerente em acompanhar a rápida evolução tecnológica, mas também a necessidade urgente de ação coletiva para desenvolver uma resposta abrangente e estratégica. Instituições de ensino precisam buscar uma compreensão mais profunda da IA generativa, avaliar seus potenciais benefícios e desafios, e criar políticas e diretrizes que permitam que seus benefícios sejam aproveitados de maneira ética e equitativa. Ao mesmo tempo, é vital que essas políticas e diretrizes sejam flexíveis o suficiente para se adaptar à medida que a tecnologia continua a evoluir.

3. Abordagem Atual das Instituições

A abordagem atual das instituições educacionais em relação ao uso de aplicativos de IA generativa reflete um cenário de incerteza e falta de preparo. Em sua maioria, a resposta tem sido ad hoc, ou seja, as instituições têm lidado com o assunto de maneira pontual, sem uma estratégia unificada ou planejamento de longo prazo. Esta abordagem pode levar a respostas inconsistentes e dispersas, criando ambiguidades e dificuldades na implementação e supervisão efetivas do uso dessas tecnologias.

Além disso, a abordagem tem sido marcadamente descentralizada. Cerca de metade das instituições com políticas permitem ampla discrição do usuário, deixando departamentos, classes e professores individuais decidirem se e como usar aplicativos de IA generativa. Embora esta abordagem possa permitir a inovação e a adaptação local às necessidades específicas, também pode levar a um uso inconsistente ou até inadequado da tecnologia. A falta de diretrizes claras e abrangentes pode deixar os usuários sem orientação adequada, aumentando o risco de violações éticas, de privacidade e de qualidade.

Além disso, a falta de formalização das políticas é evidente, com 40% das instituições relatando que suas orientações foram apenas comunicadas verbalmente. Isso indica uma abordagem reativa e provisória, que pode ser insuficiente para lidar com os desafios complexos apresentados pela IA generativa. As orientações não escritas podem ser facilmente esquecidas, mal interpretadas ou aplicadas de maneira inconsistente, comprometendo a eficácia das políticas.

Em resumo, a abordagem atual das instituições sugere uma falta de preparo para lidar com a rápida evolução da IA generativa na educação. É necessário um esforço coletivo para desenvolver políticas bem fundamentadas, formais e abrangentes que orientem o uso dessas tecnologias de maneira ética e eficaz.

4. Incerteza e Vazio Regulatório

A entrada em cena da Inteligência Artificial (IA) generativa trouxe um conjunto de novas questões que ainda não foram totalmente resolvidas, resultando em um cenário de incerteza e um vazio regulatório significativo. Este estado de ambiguidade é claramente ilustrado pelo fato de que muitos participantes da pesquisa da UNESCO não tinham certeza se suas instituições possuíam ou não políticas ou orientações específicas sobre a IA generativa.

O grau de incerteza reflete tanto a novidade e a complexidade da IA generativa quanto a falta de orientação clara por parte das instituições educacionais. Esta incerteza pode gerar insegurança e confusão entre os membros da comunidade educacional e levar a abordagens inconsistentes ou mal informadas do uso da IA. Por outro lado, o vazio regulatório pode deixar o campo aberto para usos inadequados ou prejudiciais da tecnologia, potencialmente colocando em risco a privacidade dos alunos, a qualidade da educação e a equidade no acesso às tecnologias educacionais.

Este estado de incerteza e vazio regulatório sublinha a necessidade de uma ação decisiva e coordenada para desenvolver uma compreensão mais profunda da IA generativa e criar diretrizes claras e eficazes. Tais medidas são essenciais para garantir que a IA generativa seja utilizada de uma forma que beneficie a educação, ao mesmo tempo em que minimiza riscos e desvantagens potenciais.

5. Recomendações da UNESCO

A UNESCO, ao reconhecer os desafios colocados pela rápida ascensão da IA generativa, recomenda uma abordagem proativa para lidar com o impacto desta tecnologia na educação. Esta abordagem envolve a formulação de políticas e diretrizes claras que orientem a utilização de aplicativos de IA nas instituições educacionais.

Primeiramente, a UNESCO enfatiza a importância de educar tanto os alunos quanto os professores sobre essas novas tecnologias e suas implicações. Isso envolve não apenas o conhecimento técnico, mas também a compreensão das implicações éticas e sociais do uso da IA. Tal educação pode capacitar os usuários a tomar decisões mais informadas sobre como e quando usar aplicativos de IA generativa, minimizando possíveis riscos e maximizando os benefícios.

Além disso, a UNESCO encoraja as instituições a fornecer diretrizes claras sobre o uso de IA. Essas diretrizes podem servir como uma estrutura para garantir que a IA seja utilizada de maneira ética e responsável. Elas podem também fornecer um caminho para a resolução de quaisquer questões ou dilemas que possam surgir com o uso da IA.

Por fim, a UNESCO destaca a importância de focar na inclusão, equidade, diversidade e qualidade na educação ao se lidar com a IA. Isto significa garantir que todos os estudantes tenham acesso igualitário às novas tecnologias, independentemente de seu histórico ou circunstâncias. Significa também garantir que a IA seja usada de uma maneira que respeite e valorize a diversidade e que melhore a qualidade da educação, em vez de prejudicá-la.

Essas recomendações da UNESCO fornecem uma base sólida para as instituições educacionais enquanto elas navegam pelo complexo terreno da IA generativa, ajudando-as a aproveitar ao máximo as oportunidades oferecidas por essa tecnologia enquanto gerenciam de forma proativa os desafios associados.

6. Considerações finais sobre a Pesquisa

A rápida evolução da Inteligência Artificial (IA) generativa tem apresentado novos desafios e oportunidades para o setor educacional. De acordo com a pesquisa global conduzida pela UNESCO, menos de 10% das instituições de ensino desenvolveram políticas institucionais ou orientações formais para orientar o uso desses aplicativos de IA. Isto evidencia que o setor educacional está lutando para acompanhar a evolução da tecnologia.

Os dados sugerem que a resposta institucional tem sido, em grande parte, ad hoc e descentralizada. Metade das instituições com políticas permite ampla discrição ao usuário, deixando departamentos, classes e professores individuais decidirem se e como usar esses aplicativos. Essa abordagem pode permitir flexibilidade e inovação, mas também cria o risco de usos inconsistentes ou inadequados da tecnologia. Além disso, a existência de orientações comunicadas apenas verbalmente, como relatado por cerca de 40% das instituições, demonstra a falta de formalização das diretrizes.

Além disso, o fato de que uma proporção significativa dos participantes não tinha certeza se suas instituições possuíam ou não políticas ou orientações sobre IA generativa ilustra o grau de incerteza que ainda persiste em torno da regulação dessas tecnologias.

Em resposta a esta situação, a UNESCO tem defendido uma abordagem proativa, aconselhando as instituições de ensino a fornecer orientações claras e ajudar alunos e professores a compreender melhor essas tecnologias e suas implicações. Isso é crucial para garantir que o poder da IA seja usado de maneira que apoie a inclusão, a equidade, a diversidade e a qualidade na educação.

Em conclusão, os resultados da pesquisa destacam a necessidade urgente de uma reflexão mais profunda e de ação coletiva para desenvolver diretrizes claras e eficazes para o uso de IA generativa na educação. A adoção de políticas institucionais mais robustas e de orientações formais será fundamental para garantir que essa poderosa tecnologia seja usada de forma eficaz e ética para enriquecer o processo de aprendizagem, ao mesmo tempo que protege a diversidade, a equidade e a inclusão.

7. Dados da Pesquisa

Esta pesquisa foi realizada entre os membros das redes globais da UNESCO de Escolas Associadas e Cátedras universitárias, no período de 4 a 19 de maio de 2023. No total, pouco mais de 450 instituições responderam, com distribuição de 11% provenientes da África, 5% dos Estados Árabes, 23% da Ásia e do Pacífico, 44% da Europa e da América do Norte, e 17% da América Latina e do Caribe.

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UNESCO. UNESCO survey: Less than 10% of schools and universities have formal guidance on AI. Disponível em: https://www.unesco.org/en/articles/unesco-survey-less-10-schools-and-universities-have-formal-guidance-ai?hub=32618. Acesso em: 04 jun. 2023.

Thiago Ferrarezi
Advogado, Contador e Engenheiro de Produção. Especialista em Direito do Estado (UFRGS). Mestre em Gestão e Políticas Públicas (FGV). Doutorando em TIDD com foco em Inteligência Artificial (PUCSP).

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