Existem várias opções de carreira para qualquer advogado após sair da universidade e de se habilitar a exercer sua profissão, mas nesta discussão vou me ater a analisar apenas a carreira daqueles que escolhem se incorporar a um escritório de advocacia. Em cada uma das opções existe sempre um objetivo a ser atingido e que pode ser considerado como um ápice na sua carreira. Ser o “General Counsel” e fazer parte da chamada “C-suite” numa empresa ou chegar a ser um desembargador em um tribunal superior, são apenas alguns exemplos nas outras opções.
Uma carreira bastante comum é se incorporar a um escritório de advocacia e neste caso o objetivo a ser atingido é ser um de seus sócios ou alternativamente, após adquirir experiencia suficiente tendo sua própria carteira de clientes, empreender e abrir seu próprio escritório, começando assim uma nova etapa porém na carreira.
Neste ponto são incorporadas às suas atribuições aquelas que qualquer gestor de negócios deve ter ou seja, entender de finanças e administração em geral além de todas as responsabilidades e riscos inerentes ao negócio. Deste ponto em diante a sua dedicação passa a ser dividida entre gerir seus clientes a assuntos e gerir seu próprio negócio. Mesmo se tornando um empreendedor (seja como dono do seu próprio escritório ou sócio de outro) continua existindo a perene obrigação de atualização técnica jurídica para continuar exercendo e evoluindo na sua profissão e se tornar om profissional mais completo.
Por este motivo o que é chamado de plano de carreira nos escritórios de advocacia deve ser renomeado para “plano de evolução profissional” e não só se ater aos advogados associados, mas sim incluir os sócios neste plano. Em outras palavras o plano de evolução profissional deve começar com os estagiários e somente terminar na “aposentadoria” do sócio.
A metáfora que costumo utilizar para exemplificar esta evolução é a situação de um automóvel que sai de uma estrada menor a acessa uma auto estrada com várias pista de rolamento. Para poder chegar à pista de maior velocidade (normalmente à esquerda, exceto para o ingleses) este o condutor precisa passar por uma faixa de acomodação e à medida que sua velocidade vai se igualando àquela das faixas da auto estrada ele pode ir mudando de faixa até chegar àquela desejada.
Nesta comparação podemos considerar a estrada menor (que pode variar deste uma estrada vicinal até uma de faixa dupla) como a evolução do advogado ainda como associado; a faixa de acomodação como o processo de adaptação à sociedade e as faixas da auto estrada como sua evolução na posição de sócio.
Um outro ponto importantíssimo a ser considerado é a determinação dos atributos (KPI’s) que deverão utilizados para avaliar os profissionais e para que isto seja feito corretamente deve-se começar com a identificação correta da filosofia empresarial praticada neste escritório.
Para que a sociedade evolua e se perenize é fundamental haver uma harmonia e coesão de princípios e valores entre seus sócios e um problema comum de se encontrar (naqueles escritórios que chegaram a esta comunhão) é que esta filosofia está implícita nas atitudes e aplicada de forma subjetiva, tornando difícil a identificação clara desses conceitos e valores.
Esses princípios que regem a sociedade é que devem ser utilizados para balizar seus profissionais (sócios e associados) e os atributos de avaliação devem ser definidos baseados nesses valores sendo a única diferença o grau de exigência para cada categoria de profissional.
Na minha metáfora podemos considerar como os automóveis sendo os profissionais, que são basicamente iguais (4 rodas, um motor, portas, para-brisa, etc.), porém com potencias e características diferentes. Uma Ferrari e um auto de 1.000 cc provavelmente teriam a mesma performance em estradas vicinais devido ás limitações impostas, porém numa auto estrada a primeira tem características para estar na faixa de maior velocidade e o segundo deverá permanecer nas faixas intermediárias de menor velocidade. Estas características de cada sócio é que no futuro definirão suas posições relativas.
Como numa locadora de veículos que deve ter em sua frota veículos com características diferentes para satisfazer as necessidades de seus clientes, para que a sociedade de advogados seja equilibrada a “frota” de sócios deve ter elementos com características complementares e haver uma formula para valorizar cada uma delas. A filosofia empresarial vigente é que vai determinar quais são estas características e qual a importância relativa entre elas, mas na minha opinião devem ser considerados os seguintes conceitos na relativização de sócios e na avaliação de associados:
- Participação no faturamento (individual e de equipe) e na captação de novos casos ou clientes
- Qualidade técnica e profundidade jurídica
- Atendimento de clientes e gestão de casos e assuntos
- Visão empresarial e envolvimento financeiro e administrativo da sociedade
- Envolvimento institucional e Marketing
Os advogados associados para que possam alçar à condição de sócio devem ser treinados e avaliados nas mesmas características utilizadas para relativizar seus sócios. Se numa sociedade, por exemplo, o fator captação de novos clientes é considerado o mais importante, seus advogados devem ser treinados a desenvolver este atributo antes de se tornar sócio, pois senão a falta dele será uma barreira para a entrada na sociedade.
Um bom plano de evolução profissional deve ser capaz de, primeiramente identificar aqueles atributos importantes baseados na filosofia empresarial existente e também definir claramente suas composições e detalhamento; explicitar a forma de obtenção, se forem objetivos; determinar o processo de avaliação e decisão, se forem subjetivos e criar uma metodologia simples e intuitiva para sua aplicação.