Migalhas de Peso

Precisamos cultivar a tolerância e acabar com os discursos de ódio

Cabe a reflexão se por uma preferência política torna-se aceitável ofender o outro, que também é brasileiro, com os mesmos direitos e obrigações. É hora de cultivarmos a tolerância, embora essa ideia não seja aceita por muitos atualmente.

10/10/2022

A maioria dos cidadãos do nosso país conhecem os direitos individuais e coletivos previstos na Constituição Federal, já os operadores do Direito, principalmente por dever do ofício, têm a obrigação de conhecê-los e observá-los com rigor.

O juízo comum da sociedade não necessita de tecnicidades para saber que todos são iguais perante a lei, que o tratamento a todos deve ser isonômico e que nenhum tipo de discriminação - seja em razão de raça, indenidade de gênero, cor e religião - é permitido. E não deve ser tolerado.

Nós, advogados, temos o Direito como ferramenta de trabalho, somos guardiões auxiliares da sociedade em seus direitos constitucionais e, por muitas vezes, denunciamos quando nossos direitos ou prerrogativas profissionais não são respeitados.

Sabemos também que apesar de avanços nos últimos anos, a mulher sofre ainda muita discriminação na sociedade, tendo que lutar por igualdade de tratamento e isonomia salarial, dentre outras lutas, algumas inclusive para preservação da própria vida (o número de feminicídio tem apresentado crescimento).

Pois bem, o que dizer então quando uma discriminação é proferida por uma mulher? E mais, por uma mulher que se diz advogada? E se essa mesma mulher for advogada e vice-presidente representante da Mulher Advogada na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Uberlândia/MG?

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra três mulheres em um bar e uma delas seria mencionada vice-presidente da Mulher Advogada da OAB proferindo uma série de ofensas contra os nordestinos, em função dos votos que teriam sido dados a um dos candidatos no primeiro turno das eleições presidenciais naquela região.

Como advogado, obviamente repudio a fala xenófoba e discriminatória de tal profissional e caso se confirme que a fala tenha partido de tal profissional não entendo que tal postura seja compatível com uma representante da OAB e nem mesmo como uma advogada.

Obviamente, cabe aos órgãos responsáveis (a OAB no âmbito profissional e as demais autoridades em caso de outros ilícitos) a apuração das eventuais responsabilidades, mas a repercussão nas mídias sociais já é enorme. Cabe a reflexão se por uma preferência política torna-se aceitável ofender o outro, que também é brasileiro, com os mesmos direitos e obrigações. É hora de cultivarmos a tolerância, embora essa ideia não seja aceita por muitos atualmente.

Francisco Gomes Júnior
Advogado na OGF Advogados. Graduado pela PUC/SP. Pós-graduado em Processo Civil (GV Law) e em Direito Regulatório das Telecomunicações (UNB - Universidade de Brasília).

Veja mais no portal
cadastre-se, comente, saiba mais

Leia mais

Migalhas Quentes

OABs do Nordeste repudiam falas de advogada: "xenófobas e covardes"

6/10/2022
Migalhas Quentes

Advogada diz que Nordeste "vive de migalhas" e que não viajará para lá

5/10/2022

Artigos Mais Lidos

O Direito aduaneiro, a logística de comércio exterior e a importância dos Incoterms

16/11/2024

Encarceramento feminino no Brasil: A urgência de visibilizar necessidades

16/11/2024

Transtornos de comportamento e déficit de atenção em crianças

17/11/2024

Prisão preventiva, duração razoável do processo e alguns cenários

18/11/2024

A relativização do princípio da legalidade tributária na temática da sub-rogação no Funrural – ADIn 4395

19/11/2024