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Os principais modelos de orientação profissional

Os principais modelos de orientação profissional, os quais hão de ser eleitos conforme a necessidade de orientação e o momento em que o profissional se encontra.

31/8/2022

Os três tipos principais de métodos de orientação profissional são o coaching, o mentoring e o counseling, sendo certo haver outros tantos. Muito embora o foco deste livro seja o primeiro modelo, creio ser importante traçar a distinção entre os três, facultando a escolha que mais convém àquele que busca referida orientação.

Assim, passamos a tratar, em apartado, de cada um destes principais métodos de orientação profissional, sendo nosso objetivo distingui-los e evitar que a metodologia eleita não seja a mais eficaz.

Na compreensão de Djalma de Pinho Rebouças de Oliveira1 o coaching é a atividade de consultoria e aconselhamento em uma abordagem, geralmente confidencial, entre o consultor – treinador – e a pessoa que está sendo treinada, visando seu desenvolvimento pessoal e, principalmente, profissional, com resultados previamente negociados e estabelecidos.

De forma mais direta e suscinta,  Tim Gallwey2 entende que coaching é desbloquear o potencial de pessoas e maximizar seu desempenho e resultados.

Também como uma definição alternativa e mais simplificada, John Whitmore3 compreende que coaching é um processo de mudança e transformação focado em futuras possibilidades e não em erros do passado.

Em breves linhas, a metodologia do coaching se estabelece entre o treinador (coach) e o treinado (coachee), sendo que aquele auxilia este a compreender o estado e o momento de sua vida pessoal e/ou profissional, a reconhecer suas habilidades (forças) e vulnerabilidades (fraquezas) e, por meio da utilização de ferramentas técnicas, a estabelecer objetivos e metas.

A principal responsabilidade do treinador é despertar o treinado às suas potencialidades e orientá-las com foco ao atingimento daquilo que se propõe. Perceba-se, o coach não irá determinar a meta ou o caminho a ser seguido, mas propiciará que o coachee o faça de per si, de forma organizada e eficaz.

Tendo por foco básico o aconselhamento, o método em tela é sustentado por uma significativa liderança de quem aconselha, razão pela qual o coach há de ter por missão: a) descobrir, esclarecer e alinhar-se com o objetivo do coachee; b) atuar no sentido de favorecer a autodescoberta; c) provocar reflexões e propor soluções e estratégias mais adequadas; e d) gerar no treinado a consciência da autorresponsabilidade.

Perceptível, outrossim, a importância que o coach concentra em suas mãos, haja vista que suas orientações impactarão sim na tomada de decisões por parte do coachee – daí a importância de se eleger um profissional habilitado, gabaritado e ético.

A confiança do coachee em relação a seu coach deve ser integral e o respeito do coach em relação ao seu coachee deve ser pleno.

Como visto, trata-se de uma relação muito franca e ambos devem estar plenamente alinhados e subordinados às diretrizes preestabelecidas e objetivos previamente definidos.

Ainda, não pode o coaching ser confundido com psicoterapia.

Com maior razão nas últimas duas décadas, muito se questiona sobre o limite de atuação de um coach, sobretudo quando se tem por comparação àquela reservada aos psicólogos. Este questionamento é muito salutar, não apenas e tão-somente para impedir o exercício de profissão regulamentada, mas – sobretudo – em defesa dos interesses dos próprios coachees.

Ao início, desde já se afirme com integral convicção: embora haja algumas similitudes, os objetivos e os processos de coaching e de psicoterapia são muitos distintos. Embora ambos se dediquem, grosso modo, ao aprimoramento do ser humano, é preciso guardar cautela e traçar o limite que separa a atuação de um coach e a atuação de um psicólogo – esta condição é de vital importância, sendo relevante estabelecer critérios objetivos que dirimam, por fim, esta questão.

Trata-se, como já defendido, o coaching de metodologia por meio da qual se busca gerenciar as habilidades do coachee e direcioná-las à consecução de um determinado escopo. As ferramentas e técnicas aplicadas visam, de forma objetiva, o aprimoramento do potencial humano, capacitando o coachee ao autoconhecimento, auxiliando-o no desenvolvimento de sua inteligência emocional e resiliência, apresentando técnicas de gestão de tempo e organizando o planejamento de metas, dentre outros benefícios.

Perceba-se, a atuação do coach conserva foco no estado presente do coachee e atua no sentido de potencializar sua capacidade de organizar seu futuro por meio de objetivos específicos e mensuráveis; por conseguinte, não se trará de processo de cura.

Já a psicoterapia, ato privativo de psicólogos e psiquiatras, tem por maior – mas não única – razão o tratamento de distúrbios e transtornos mentais. Inclusive, os profissionais conservam a habilidade de ingressar, no decorrer do procedimento psicoterapêutico, em questões pretéritas e profundas da vida de seus pacientes e – após psicodiagnóstico – empregar sobre os mesmos técnicos capazes de fazê-los administrar ou superar desajustes e perturbações da psique.

Evidente que a psicoterapia segue muito além destas breves considerações, mas o propósito da presente manifestação não é o de enfrentá-las de modo absoluto, bastando que seja vinculada a ideia de cura ou de o quanto mais perto dela possa se chegar.

Por que, então, há certa confusão entre coaching e psicoterapia? A resposta é simples: porque ambos os processos atingem o íntimo das pessoas e as fazem conhecer a si mesmas, a ponderar e refletir sobre suas próprias vidas, a reconhecer e enfrentar – se caso – os temores que porventura tenham e reprogramar suas condutas. O desígnio de ambos os processos é determinar o crescimento humano e promover o avanço de uma vida com mais qualidade.  Quais, pois, as diferenças fundamentais estabelecidas – e que devem ser observadas, entre a atuação de um coach e de um psicoterapeuta? Para facilitar a necessária compreensão, buscamos tratar das principais distinções de forma esquemática:

(Imagem: Divulgação)

(Imagem: Divulgação)

Há, por certo, outras tantas distinções, mas cremos ser estas as mais agudas.

Perceba-se, tanto o coaching como a psicoterapia balizam suas ações na mudança comportamental do indivíduo e por esta razão é que alguns coaches acabam por ingressar em seara restrita àqueles profissionais formados em psicologia – não se olvidando a psiquiatria.

Aos coaches se recomenda cautela, não apenas pela possibilidade de vir a exercer atos privativos de profissão regulamentada, mas principalmente para que não ingresse na psique humana e acabe por provocar malefícios ao coachee ou agravar condição de desequilíbrio emocional.

Aos coachees se recomenda cautela maior ainda, seja quanto à escolha do processo ao qual pretende se submeter, seja na eleição do profissional ao qual confiará referido processo.

Um profissional não habilitado ou pouco preparado poderá, certamente, provocar um dano irreparável em desfavor daquele sob sua orientação e, ao invés de ampará-lo em busca do aprimoramento pessoal e profissional, poderá – além de frustrar suas expectativas – guiá-lo por onde não deveria seguir.

Neste aspecto, a reiteração de ressalva, qual seja: não compete ao coach estabelecer as metas de seus clientes (como chegamos a observar) e sim propiciar que o próprio coachee as determine, auxiliando-o – de modo técnico – a organizar seu caminho em direção ao atingimento de seus objetivos.

Coach é mero instrumento à disposição daqueles que não sabem qual caminho percorrer, pois muitas vezes sequer sabem onde querem chegar; coach é meio.

Eis a importância do coachee confiar seu treinamento a profissionais solidamente capacitados e reconhecidos por seu comprometimento ético, a profissionais que sabem reconhecer o limite entre o coaching e a psicoterapia, tutelando e garantindo o bem-estar e a segurança emocional do ser humano.

Reconhecer o coach até que momento pode seguir é medida de segurança que se impõe; reconhecer o coach as ferramentas e técnicas a serem utilizadas é medida de eficácia a ser observada e, reconhecer o coach a eventual necessidade de interrupção do treinamento e encaminhamento do coachee a psicoterapeuta, é medida de maior acerto.

Haverá os coaches de empregar técnicas e ferramentas científicas, jamais olvidando qualquer oportunidade para que os coachees, por si só, tenham condições de reprogramar comportamentos, estabelecer metas factíveis e mensuráveis e desenvolver atividades voltadas ao atingimento destas. Entretanto – enquanto a profissão de coach ainda pende de regulamentação4 – de se ter extremada cautela em seu exercício e, independentemente de qualquer amparo legal, de se ter responsabilidade.

Em suma, coaching não é psicoterapia; coach não é psicólogo e coachee não é paciente, razão pela qual recomenda-se aos coaches que busquem a capacitação adequada e atuem no limite destas.

Ainda sem enfrentar o Coaching Jurídico propriamente dito – o qual será tratado em capítulo próprio – eis a noções introdutórias acerca do coaching em geral.

Diferentemente do coaching, a mentoria se traduz em uma abordagem pessoal e/ou profissional mais ampla, exercida por um profissional de vertical experiência teórica e prática em determinada área (mentor), o qual orientará profissional menos experiente (mentorado) por meio de seus conhecimentos empíricos.

Mentoring e coaching são atividades que se relacionam, mas não se confundem. No coaching, o treinador não precisa, necessariamente, ter experiência na área de trabalho do cliente; além, o profissional não aconselha o treinado e sim o orienta dentro de suas próprias expectativas. Já no processo de mentoring, o mentor deve conservar experiência na área do mentorado e, sob esta expertise, o aconselhará.

O processo de mentoria pode se dar em cinco momentos: mentoria formal; mentoria informal; mentoria situacional; mentoria de supervisão; e mentoria de momento.

O mentoring formal se desenvolve com base em um planejamento prévio, considerando-se seu início e término e, sobretudo, se preestabelecendo os objetivos e os resultados que se aguarda sejam alcançados.

O mentoring informal, por sua vez, tem por base a confiança entre o mentor e o mentorado e transcorre com menos formalidade e mais naturalidade, não se desenvolvendo sob planejamento; tende a ser mais amplo e generalista.

O mentoring situacional – ao contrário dos anteriores – tem por motivo uma situação específica e momentânea. Com o foco em uma única questão, a mentoria esgota seu objetivo quando a questão é dirimida.

O foco do mentoring de supervisão é voltado à capacitação do mentorado para o exercício de uma determinada habilidade exigida para a consecução de tarefas específicas; geralmente se desenvolve de forma natural.

Por fim, a mentoria de momento – flash mentoring – considera um encontro específico e esporádico entre um profissional experiente e um profissional em treinamento, oportunidade na qual tratarão, de forma célere, de uma determinada questão. Não se trata de uma mentoria vertical e sim de aconselhamento mais raso, gerando um insite a partir do surge a solução para o mentorado.

A mentoria, como vimos, tem por finalidade ajudar o mentorado a alcançar objetivos por meio do balizamento de condutas, as quais são delineadas à luz da experiência de profissional em grau maior na carreira e que, muito provavelmente, já superou as mesmas questões enfrentadas pelo profissional orientado.

Diferentemente dos métodos anteriores, o counseling se traduz em uma abordagem – pessoal e profissional – cujo objetivo específico é enfrentado em contexto clínico, médico ou psicológico.

O aconselhamento é um processo de interação entre duas pessoas – um profissional especializado e o cliente –, que tem como objetivo ajudar a pessoa a fazer escolhas acertadas no âmbito pessoal ou profissional.

O profissional do counseling, conhecido como counselor (conselheiro), tem por objetivo clarificar opções numa altura de crise pessoal ou profissional do cliente, ajudando-o de forma rápida e pontual, por intermédio do aconselhamento.

As atividades do counseling são estruturadas e envolvem diagnóstico, aconselhamento, acompanhamento e avaliações técnicas da realidade do ser humano.

Na compreensão de Renata Christian5, “counseling é um processo extremamente focalizado, em tempo limitado e específico. Através do diálogo e interação pessoal que ajuda as pessoas a resolverem ou controlarem os problemas e obterem resultados da forma mais racional possível, de acordo com a capacidade de cada indivíduo.”

O counseling é um processo de interação entre duas pessoas, counselor e cliente, cujo objetivo é aquele de habilitar o cliente a tomar uma decisão em relação a escolhas de caráter pessoal: é um conjunto de habilidades, atitudes e técnicas para "ajudar a pessoa a ajudar-se", partindo do pressuposto de que uma pessoa já tem em si os recursos necessários, propõe-se criar as condições para fazê-las emergir.

Como se pode perceber, coaching, counseling e mentoring são técnicas que – muito embora conservem alguns aspectos convergentes – se distinguem.

Em perfunctória análise, o treinamento se vale de ferramentas específicas, cuja aplicação permite o desenvolvimento de habilidades e despertar de uma nova consciência e postura; a mentoria se assemelha ao “apadrinhamento” por parte de um profissional com maior expertise; o aconselhamento é mais imediatista.

Importa compreender as diferenças entre tais métodos para que as soluções sejam mais eficazes. Cada situação em nossas vidas pede uma abordagem diferente. As três técnicas – coaching, mentoring e counseling – podem contribuir efetiva e positivamente para que aquele que busca orientação profissional alcance as metas a que se propõe.

Valemo-nos do quadro apresentado por Djalma de Pinho Rebouças de Oliveira6 para traçar, em forma esquemática, as características de cada um destes métodos:

(Imagem: Divulgação)

Além dos métodos tratados com maior atenção, certamente há outras modalidades de orientação, as quais são consideradas de forma sintética, mais a título de informação do que de enfrentamento propriamente dito.

São outros tipos de orientação profissional7:

Estes são, pois, os principais modelos de orientação profissional, os quais hão de ser eleitos conforme a necessidade de orientação e o momento em que o profissional se encontra.

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1 Coaching, Mentoring e Counseling – Um modelo integrado de orientação profissional com sustentação da universidade corporativa – São Paulo: Editora Atlas – 2ª edição – página 4. 

2 Apud Arnaldo Marion in O que é coaching? Entenda o conceito e os fundamentos da prática: https://gennegociosegestao.com.br/o-que-e-coaching-entenda/ consultado em 15/02/20.

3 Idem. 

4 Tramita no Senado Federal sugestão de projeto, de iniciativa popular, para criminalizar a atividade do coach. A sugestão legislativa (SUG 26/2019) tramita prante a Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A relatoria é do senador Paulo Paim (PT-RS), ainda pendente de análise. Fonte: Agência Senado (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/05/23/criminalizacao-ou-regulamentacao-do-coaching-esta-em-discussao-no-senado) 

5 In O que é Counseling? Visão geral. http://renatachristian.blogspot.com/2011/01/o-que-e-counseling-visao-geral.html consultado em 16/02/20. 

6 Coaching, Mentoring e Counseling – Um modelo integrado de orientação profissional com sustentação da universidade corporativa – São Paulo: Editora Atlas – 2ª edição – página 33. 

7 Djalma de Pinho Rebouças in Coaching, Mentoring e Counseling – Um modelo integrado de orientação profissional com sustentação da universidade corporativa – São Paulo: Editora Atlas – 2ª edição – página 42 a 44. 

Fernando Borges Vieira
Advogado desde 1997 - OAB/SP 147.519, OAB/MG 189.867, OAB/PR 94.745, OAB/RJ 213.221 - Sócio Administrador de Fernando Borges Vieira Sociedade de Advogados, Mestre em Direito (Mackenzie).

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