Migalhas de Peso

Cenários econômico e empresarial brasileiros, pandemia, guerra, canal de Suez, logística global e setor de varejo

Importa a aceleração de se implantar medidas que simplifiquem o empreendedorismo no Brasil.

30/5/2022

Breve introdução

Nesta investigação que pretendo me debruçar, trago algumas reflexões iniciais sobre os cenários econômico e empresarial brasileiros, bem como, adiante, trato dos impactos da pandemia e da guerra na Ucrânia em nosso país. Inclusive, procuro abordar a logística global de distribuição de suprimentos e, ainda, conforme veremos, sobre o Canal de Suez e, em tempo, acerca do setor de varejo brasileiro.

Cenários econômico e empresarial brasileiros

Abram Szajman, presidente da Fecomercio-SP (entidade gestora do Sesc-SP e do Senac-SP), reflete sobre as amarras que precisam ser soltas nos cenários social e econômico brasileiros (in: Um Brasil – análises e soluções para modernizar o país).

Segundo ele, as contradições que seguem em nosso país por anos, explicitam a fragilidade do Brasil, diante de várias economias que, apesar de terem potencial de desenvolvimento menor, atingem resultados melhores quanto à produtividade e geração de negócios.

Destaca, assim, a burocracia excessiva e o alto custo tributário, que colidem com o empreendedorismo. Isto é, produção, geração de empregos e melhoria do bem-estar social. Com efeito, o empresário brasileiro, antes de competir, precisa gastar tempo e dinheiro para atender obrigações e quitar tributos injustos, o que dificulta suas possibilidades de sobreviver no mercado global.

Lembra, então, de algumas conquistas para melhoria da atmosfera de negócios, como a redução da atuação estatal em atividades do setor produtivo, o tratamento diferenciado às micro e pequenas empresas e ainda a reforma trabalhista.

Nesta direção, importa a aceleração de se implantar medidas que simplifiquem o empreendedorismo no Brasil. Neste sentido, a Fecomercio SP vem trazendo ao Poder Público as barreiras enfrentadas pela classe empresarial. Como exemplos, propondo caminhos alternativos para modernizar o sistema tributário, flexibilizar a recuperação de empresas (processo de falência) e assegurar financiamento com baixos custos.

Em síntese, alternativas para aprimorar a condição do Brasil como um lugar seguro para investimentos. Com razão, propiciar boas condições para o trabalho, de forma que a iniciativa privada possa auxiliar o Brasil a diminuir o grande desemprego.

O objetivo se trata da correção de distorções no ordenamento jurídico brasileiro, com o fim de transformar o ambiente de negócios mais competitivo e simplificado, sem novos tributos. Busca, assim, superar os entraves das relações comerciais, bem como defender e valorizar as empresas que lutam para sobreviver às cobranças determinadas pelo Estado. O empresário deve, então, ser tido como “gerador de crescimento econômico, e não como um aventureiro que se arrisca em um cenário incerto”.

É preciso, portanto, “trilharmos um caminho seguro rumo ao reaquecimento da atividade econômica. Abertura comercial, simplificação tributária, investimento em inovação e modernização das leis trabalhistas” são certos aspectos que podem favorecer para “soltar as amarras do empreendedorismo no Brasil”.

Por outro lado, podemos dizer que o nosso Brasil, apesar de ser grande produtor mundial de alimentos, depende de fertilizantes e commodities (trigo, milho etc.) exportados pela Rússia. Tais produtos são fundamentais para o agronegócio e a indústria brasileira. Diante disso, vale dizer que não é fácil trocá-los. Os horrores humanos da guerra na Ucrânia são preocupantes e merecem atenção. Porém, o enfrentamento impacta também a logística global de circulação de produtos, além da economia do mundo e do Brasil. Neste cenário, cabe refletirmos sobre o Canal de Suez e sua cadeia de distribuição de suprimentos.

Canal de Suez na mídia e novas tecnologias para a logística global

Segundo a revista Exame, o Canal de Suez registra arrecadação recorde em 2021. De acordo com a Época Negócios, a receita do Canal bate recorde em abril, com US$ 629 milhões. Igualmente, o jornal Poder 360 noticia que o Canal bate recorde de circulação de navios. Neste sentido, o portal Portos e Navios expõe que o Canal registra recorde em janeiro com 1.774 navios. Em paralelo, conforme o R7, atentado no Canal provoca a morte de 11 militares no Egito.

Por sua vez, a revista Globo Rural, noticia: Problemas na logística global expandem mercado para startups do setor. Com efeito, traz à tona: “Interrupções em cadeias de suprimentos fez aumentar o grupo de empresas que usam inteligência artificial no transporte de mercadorias”.

A matéria explica que, nos últimos dois anos, várias ocorrências inesperadas impactaram as cadeias de suprimentos globais. A pandemia, a guerra na Ucrânia, o Brexit e um navio porta-contêineres preso no Canal de Suez, atrasaram as entregas. Como resposta a isso, um time de startups e companhias de logística instituiu uma indústria multibilionária que faz uso de quentes tecnologias para auxiliar as firmas a reduzir entraves logísticos. (grifo nosso).

As empresas utilizam inteligência artificial e outros instrumentos com a finalidade de que indústrias e clientes possam lidar melhor com entraves com fornecedores, monitorar a disponibilidade de matéria-prima e lidar também com as teias de burocracia do comércio internacional.

Neste rumo, o mercado de novos serviços de tecnologia direcionado a cadeias de suprimento tem a chance de valer mais de 20 bilhões de dólares por ano nos próximos cinco anos. Igualmente, até 2025, prevê-se que mais de 80% dos novos apps da cadeia de suprimentos utilizarão inteligência artificial e ciência de dados de algum modo.

Importância do Canal de Suez

Realmente, o “Canal de Suez é a principal rota comercial marítima do mundo”. (in: Mundo Educação, UOL, grifos da matéria).

Com efeito, não é de hoje que o Canal de Suez representa grande relevância no cenário da geopolítica internacional, dos jogos econômico e político globais. De fato, o “domínio dessa região é um grande favorecimento econômico para os empenhados no comércio marítimo” (in: InfoEscola)

Com razão, cabe destacar acerca do Canal de Suez:

“A importância do Canal de Suez está atrelada ao elevado trânsito de mercadorias que passam pelo canal todos os dias. A localização marítima estratégica, entre um importante mercado exportador, a Ásia, e um grande centro consumidor, a Europa, reflete-se na concentração de atividades comerciais no canal. O petróleo, por exemplo, é um dos principais produtos escoados por essa via marítima. Nos últimos anos, o Egito tem investido na modernização do canal, projeto que ficou conhecido como “Novo Canal de Suez”. O referido projeto pretende fomentar ainda mais as trocas comerciais pela região.” (in: Mundo Educação, UOL, grifos da matéria).

Breves notas sobre a história do Canal de Suez

O Canal de Suez foi criado em novembro de 1869. Marco do imperialismo europeu do século XIX, centro de crises internacionais e ícone do nacionalismo egípcio. Seu trajeto é ainda hoje uma rota essencial do comércio mundial.

Durante a 2º Guerra Mundial, o Canal de Suez esteve no centro dos interesses das potências em confrontos bélicos. No norte da África, aquilo que se iniciou “como uma tentativa italiana de expandir seus domínios no continente africano, logo se tornou uma corrida dos alemães para tomar o Canal de Suez e os campos de petróleo do Oriente Médio” (in: Aventuras na História, UOL).

Os enfretamentos “eram vitais para manter as rotas de comércio abertas, pois caso caíssem em mãos inimigas, a guerra estaria perdida. O próprio Winston Churchill se referiu a ela como ‘talvez a luta mais essencial de toda essa guerra’.” (in: Aventuras na História, UOL, grifos da matéria).

Em resumo, o Canal de Suez se trata, assim, de: “uma ligação artificial entre os mares Mediterrâneo e Vermelho. Ele está localizado no Egito, mais precisamente na Península do Sinai, região de ligação entre o Norte da África e o Oriente Médio. Foi construído com o objetivo de interligar por via marítima os continentes europeu e asiático. A nova rota criada com o Canal de Suez evitaria assim a necessidade de contorno de todo o continente africano para acessar a Europa por via marítima partindo da Ásia. Desse modo, o Canal de Suez se consolidou como uma das mais importantes rotas marítimas de comercialização de produtos no mundo.” (in: Mundo Educação, UOL, grifos da matéria).

O futuro do varejo

O setor do varejo ocupa papel de destaque na economia brasileira. O segmento vem sofrendo impactos das concorrentes chinesas e dos juros altos e da inflação galopante. Neste panorama, há ainda a questão da logística da cadeia de distribuição de suprimentos. Não menos relevante, por certo, o impacto também da pandemia e da guerra na Ucrânia. Vejamos!

A revista Você S/A, de maio de 2022, trata do futuro do varejo, trazendo as perspectivas para o setor. Trata, com razão, da “encruzilhada do varejo”. “Magalu, Americanas e Via enriqueceram muitos investidores – até que suas ações implodiram, num banho de sangue setorial.”, noticia. A matéria, então, aponta “o combo de problemas que as companhias brasileiras do varejo enfrentam”, e sinaliza “se há uma saída para elas”.

“Até 2020, a Magalu era a Tesla brasileira” (grifos da revista), informa a notícia. A matéria expõe que as ações do varejo “decolavam”. Via havia subido 150% em três anos. Americanas, 490% e Magalu, 950%.

Todavia, as empresas caíram muito em 2021, “tombo de 60% para Americanas, 66% para a Vila e 71% para a Magalu”. Buscam, assim, culpados. E a culpada da vez foi a China.

Os consumidores comprar “direto da fonte”, “sem pagar os impostos de importação que elas pagam, é concorrência desleal”. Há uma brecha que possibilita a aquisição de pechinchas importadas, elevada pelo câmbio desfavorável para o real e preços extremamente baixos dos portais eletrônicos chineses.

O Ministério da Economia disse que interviria nisso, mas não adotou providências. O receio possui base: as aquisições de brasileiros em sítios hospedados fora do Brasil cresceram 60% em 2021. Dentre os usuários que realizam compras virtuais, 68% afirmaram que fizeram compras de produtos importados neste período.

Porém, o entrave do varejo não é somente a concorrência com os jogadores do sudeste asiático. Há, de fato neste cenário, os juros altos e mais a inflação exorbitante, sendo as principais barreiras para o avanço das varejistas brasileiras.

A alta da inflação surgiu no fim de 2020. O Banco Central brasileiro elevou, assim, os juros, para conter a alta de preços, em março de 2021, com a primeira alta de juros desde 2015. Neste momento, os juros se encontram na faixa de 12% ao ano. Além disso, o crédito se tornou bem mais caro. Em março de 2022, o IPCA anual atingiu 11,30%. E ainda a renda do trabalhador caiu muito, restando pouco para o comércio eletrônico.

Infelizmente, a inflação deve se manter em níveis elevados por um bom período. E o desemprego, apesar de ter se reduzido, desde a pandemia, alcança 11,9 milhões de brasileiros.

O questionamento do momento é que, ao passo que o comércio brasileiro está em crise, as varejistas da Ásia vêm chegando. E seu truque é o preço baixo, o que tem grande importância em um panorama em que a renda do brasileiro está em queda.

Quanto à logística, não “é trivial montar um sistema de entregas que cubra o país de norte a sul, menos ainda com frete grátis”.

“50 dólares é o valor de compras no exterior isentas de imposto. Varejistas querem mudar isso para evitar concorrência da Ásia”. (grifos nossos).

A reportagem alerta que, no momento em que o consumidor voltar a ter dinheiro, pode ser que tenha alterado seus hábitos de consumo. Tenha se habituado a adquirir produtos de varejistas estrangeiras. E, com isso, elas permaneceriam como potentes concorrentes para as varejistas brasileiras, mesmo após a crise ter se reduzido.

“A concorrência asiática pode mudar os hábitos dos consumidores. E causar danos permanentes nos resultados dos e-commerces nacionais”. (grifos nossos)

Apesar disso, pode haver lugar ao sol para todos. Os consumidores podem ter em mãos diversas escolhas. É o que argumenta Larissa Quaresma, analista da Empiricus.

No que se refere aos investidores, a questão é que as ações das empresas em pauta se encontram em baixos patamares, porém não necessariamente baratas. Em que pese isso, tem-se recomendado a aquisição de ações das varejistas brasileiras, mesmo com sua grande queda. Em suma, o mercado financeiro recomenda a compra das ações, porém alerta que “não dá mais para apostar que uma das nossas varejistas será a Tesla brasileira”.

Considerações finais

Os cenários econômico e empresarial brasileiros, apesar de algumas conquistas, necessita de mudanças estruturais, para prosperar e se desenvolver mais. É preciso redução da burocracia, simplificação das relações tributárias e modernização das leis trabalhistas, dentre outras alterações, como investimentos em micro e pequenas empresas, com tratamento favorecido, e estímulo ao empreendedorismo.

A pandemia e a guerra na Ucrânia impactaram decisivamente as economias global e brasileira. O Brasil depende, por exemplo, de fertilizantes e insumos exportados pela Rússia. Neste contexto, a cadeia global de distribuição de suprimentos sofre abalos, já que se impõem embargos e restrições aos russos.

No cenário, o Canal de Suez se trata de relevante rota comercial marítima, indispensável para as transações econômicas globais, o que merece atenção redobrada. Quanto à logística mundial de circulação de mercadorias, ainda cabe frisar o uso de novas tecnologias em seu benefício, como visto por nós.

Em terras brasileiras, por seu turno, o setor de varejo sofre impactos das varejistas chinesas, com preços extremamente baixos, além dos juros altos e da inflação galopante. A logística, em âmbito nacional, também requer atenção, como assim tratado nesta investigação. Importa dizer que os hábitos dos consumidores podem mudar, passando a privilegiar a compra online de produtos alienígenas, mais baratos. Porém, como visto, pode haver espaço para todos, com mais opções e oportunidades.

Finalmente, é preciso termos esperança e fé num mundo melhor, num Brasil melhor, com os pés no chão. Um olho na razão e o outro no coração. Isto tudo para buscarmos o desenvolvimento nacional e a redução da pobreza, conforme previstos em nossa Constituição. E, além disso, não menos relevante, a busca pela paz e harmonia global, sem ameaças internacionais, com cooperação entre os países.

Todavia, vale alertar que, no tabuleiro mundial, o jogo da geopolítica, o seu xadrez, se traduz na disputa pelos poderes político e econômico, o que é algo complexo, que, realmente, não é simples.

As forças reais do poder (Ferdinand Lassalle) nas esferas global e brasileira, se impõem e articulam, determinam os rumos das relações envolvidas. Não se trata de um mero ato de vontade para se modificar estas questões, que, na verdade, possuem raízes profundas e estruturais, incorporadas nas engrenagens e mecanismos institucionais dos Estados e das sociedades.

Porém, apesar de tudo isso, acredito que, para se atingir o bem-estar social global e nacional e que estes se concretizem, é preciso, primeiro, uma mudança interna de cada um de nós, com mais esperança e crença racional num mundo melhor. Daí parte-se para o exterior. As coisas podem piorar, sim. Mas precisamos ver o copo meio cheio, sem falso otimismo. É preciso darmos o primeiro passo. Vamos juntos nesta caminhada?

Nicholas Maciel Merlone
Advogado | Professor na Pós-graduação do Senac & Escritor. Mestre em Direito Político e Econômico pelo Mackenzie. Bacharel em Direito pela PUC/SP. Autor de artigos, ensaios e análises.

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