O avanço da pauta ESG - environmental, social e governance é, sem sombra de dúvidas, fruto da pressão dos investidores e consumidores (stakeholders, de forma geral), que passaram a avaliar os riscos de cada organização e fazer suas opções de contratação e consumo sob a ótica desses três pilares: ambiental, impacto social e governança.
Tais pilares estão em harmonia com os “ODS - objetivos de desenvolvimento sustentável” fixados pela ONU, em agenda global, para orientação da humanidade até o ano de 2030:
1. Erradicação da pobreza;
2. Fome zero e agricultura sustentável;
3. Saúde e bem-estar;
4. Educação de qualidade;
5. Igualdade de gênero;
6. Água limpa e saneamento;
7. Energia limpa e acessível;
8. Trabalho decente e crescimento econômico;
9. Inovação e infraestrutura;
10. Redução das desigualdades;
11. Cidades e comunidades sustentáveis;
12. Consumo e produção responsáveis;
13. Ação contra a mudança global do clima;
14. Vida na água;
15. Vida terrestre;
16. Paz, justiça e instituições eficazes;
17. Parcerias e meios de implementação.
Por isso, esses temas são hoje métricas fundamentais para avaliação da sustentabilidade das organizações. No entanto, a pauta ainda caminha a passos lentos, especialmente nas empresas brasileiras, que ainda estão muito distantes das boas práticas de governança, de preservação do meio ambiente e de responsabilidade social.
Exemplo disso é a pauta da diversidade. Pesquisa recente realizada pela catho e pela reconnect - hapiness at work, acerca de tendências das áreas de RH para 2022, demonstrou que 60% dos RHs das empresas brasileiras ainda não têm programas de diversidade e inclusão.
Essa informação, ainda, pode ser percebida nos dados publicados pela B3 (bolsa de valores no Brasil) em janeiro deste ano, que, ao analisar e publicar o índice de sustentabilidade de 73 empresas brasileiras, concluiu que “entre as 10 primeiras colocadas, a dimensão com menor média de avaliação foi a de capital humano, que averigua questões como diversidade e direitos trabalhistas por exemplo; seguido pelo índice de capital social, responsável por tópicos como investimento social privado e relações com a comunidade”. Ambos representam, não apenas, mas essencialmente o “S” dentro do “ESG”, é o que demonstrou a reportagem publicada em 02/05/22 no valor econômico.
O que se percebe é que, mesmo quando se toma por base as companhias listadas no mercado de capitais, a grande maioria das empresas brasileiras ainda reluta em compreender genuinamente a diversidade e a inclusão (raça, etnia, gênero, orientação sexual, deficiência, idade, etc.) como um item de sustentabilidade.
A questão cultural nas organizações faz com que exista, hoje, um longo caminho a ser trilhado para que a diversidade seja, de fato, uma pauta real no meio corporativo.
No último dia 22 de abril, o NEXO publicou artigo acerca da tramitação na União Europeia de projetos e propostas que exigem a chamada due diligence de terceiros em direitos humanos e meio ambiente. A prática já é bastante comum em matéria anticorrupção, por força de legislações vigentes em todo o mundo e que exigem que as empresas sejam diligentes na contratação e no relacionamento com terceiros, averiguando e validando a real existência de boas práticas nas empresas e nos terceiros com os quais se relacionam (integridade e anticorrupção). É o que exigem, por exemplo, o FCPA, o UK Bribery Act e a própria lei 12.846/2012, aqui no Brasil.
Certamente uma eventual exigência legal de due diligence aceleraria a pauta ESG e, obviamente, a diversidade nos ambientes corporativos; no entanto, o tema precisa estar inserido na cultura das organizações, sob pena de criação de um aparato de políticas, procedimentos, metas, treinamentos e regras que não propiciarão efetivamente um ambiente diverso e inclusivo, conforme objetivos traçados pela ONU para obtenção de um mundo sustentável.
Quando a cultura da organização reconhece a diversidade como essencial para a sua sustentabilidade, dentro da pauta de responsabilidade social (ESG), a diversidade de fato acontece, com inclusão, permitindo que as pessoas, a empresa e a sociedade como um todo usufruam dos benefícios e potencialidades de um mundo mais plural e democrático.