Migalhas de Peso

A relação entre a cadeia produtiva na indústria da moda e a biodiversidade

Como a sustentabilidade e a moda coexistem? E como é possível garantir, a partir dessa relação, tal preservação?

11/2/2022

(Imagem: Arte Migalhas)

Podemos considerar a moda como sendo uma tendência, em suas mais diversas nuances, que reflete determinado período histórico, sendo bastante comum sua associação ao imenso consumo, status social e, consequentemente, desigualdade. Contudo, deve-se entender que a moda também se encontra cada vez mais ligada às questões que abarcam a sociedade, não apenas em suas perspectivas superficiais, como também à crítica social como um todo.

Os principais problemas dentro da cadeia produtiva na indústria da moda e suas interferências no meio ambiente

Importa mencionar que a cadeia produtiva dentro da moda abrange o sistema têxtil, bem como o de confecção e vestuário, sendo governada por aqueles que a consomem, estando, de certa forma, à mercê da estima que o produto a ser comercializado passe a obter. Todo o processo produtivo irá envolver três elementos, sendo estes o produtor, o produto em si e o consumidor.

Embora o mercado têxtil, de confecção e vestuário apresentem números expressivos quando mencionamos sobre seu destaque na economia, deve-se entender que o desenvolvimento das atividades dentro da indústria da moda também se encontra atrelado a riscos no que diz respeito ao meio ambiente, podendo ser citado o uso insustentável do solo para produção de fibras provenientes de recursos vegetais, ou seja, a produção do algodão, como exemplo.

É possível ter o entendimento da cadeia produtiva do vestuário a partir de uma categorização que consiste em quatro eixos: matéria prima, fabricação, transporte e assistência ao consumidor, sendo avaliado o prejuízo que cada um destes realiza dentro da biodiversidade. Um dos mencionados, ao qual consta inserido no primeiro eixo, como matéria prima, é o próprio algodão, conforme citado anteriormente. Porém, existem diversos outros elementos dentro das demais divisões que interferem, direta e indiretamente, no meio ambiente.

O segundo eixo trata do estágio de processamento e montagem dessas matérias primas mencionadas, citando-se a fiação, tecelagem, bem como o corte e acabamento do produto, ao qual é necessário cuidado, principalmente no que tange à potabilidade da água que advém desse processo, muitas vezes levando à poluição dos rios de países onde tais produtos são consumidos e lavados, sendo extraídas substâncias nocivas à saúde dos que lá se encontram sitiados.

Quanto ao terceiro eixo, que trata quanto o transporte de mercadorias, é possível mencionar quanto a todo o fluxo existente no que diz respeito à distribuição e entrega desse produto, havendo, consequentemente, a liberação de gases de efeito estufa. Ainda podendo ser destacado o transporte marítimo, sendo ele o principal meio utilizado neste processo.

O quarto e último eixo diz respeito à assistência ao consumidor, abarcando também o descarte da mercadoria produzida não apenas por apresentar imperfeições, como também por meio do final natural de sua vida útil, podendo ser mencionada imensa quantidade de produtos descartados e encontrados em aterros, ou até mesmo incinerados, tendo este número aumentado significativamente nos últimos anos e colaborado com o aumento da poluição.

Tal eixo nos atenta ao fato da vida útil dos produtos ser muito curta, existindo assim um ciclo muito breve e estando atrelado, principalmente, à maneira inconsciente ao qual os indivíduos enxergam o consumo. Importa mencionar, ainda, que tal forma de pensar acaba fazendo com que, consequentemente, esse ciclo, composto pelos eixos acima mencionados, se torne cada vez mais recorrente.

A importância da sustentabilidade dentro do processo produtivo na moda

Assim, sendo observado o ciclo acima e analisados tais eixos e suas problemáticas, passaram a existir iniciativas que visam, de fato, proteger o meio ambiente, fazendo com que essa cadeia produtiva se torne a menos nociva possível para o meio ambiente e a sociedade que nele habita.

Pode-se destacar, dentro dessas iniciativas, a utilização de fibras mais ecológicas, como o algodão orgânico, que atualmente vem tomando força e alcançando uma visibilidade muito importante para grandes marcas, muitas vezes responsáveis pelos números alcançados nos últimos anos.

Já no segundo eixo, é possível observar uma possível solução trazida, sendo esta o de utilizar menos energia na produção destas mercadorias. Ainda é uma solução a tomar forma no que diz respeito à confecção de roupas, contudo, a ideia do “zero waste”, que possui como intuito o desperdício zero dentro do processo produtivo, vem sendo analisada, sendo buscadas maneiras de trazer tal ideia cada vez mais à realidade da produção de vestuário.

Dentro deste mesmo eixo, há a iniciativa que cuida da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, visando desenvolver um plano de gerenciamento de resíduos sólidos, sendo organizada assim uma coleta destes resíduos advindos da confecção destas mercadorias nas localidades próximas.

Ainda, é possível citar quanto ao incentivo da reciclagem, que pode, de certa forma, auxiliar no que se trata do curto ciclo de vida da mercadora, podendo esta ser reutilizada, ou até mesmo doada, dependendo de suas condições. Pode-se perceber que as duas últimas soluções se encontram totalmente ao alcance da própria sociedade, que se pode se envolver com estas questões e se organizar para seu próprio interesse, o que não exclui a responsabilidade das grandes companhias responsáveis pela cadeia produtiva.

Conclusão

Conclui-se que, apesar dos significativos números alcançados, no que diz respeito à pressão ambiental sofrida por meio da cadeia produtiva dentro da indústria da moda, é possível compreender que as estratégias para que a sustentabilidade, de fato, se mantenha nesse processo de produção sempre abarcarão o produtor, o produto e o consumidor, sendo o envolvimento positivo destes essencial para a diminuição dos riscos que ainda permeiam o meio ambiente.

Manuela Weckelmann Faria
Graduanda em Direito da Universidade Presbiterana Mackenzie. Experiência na área de Contratos e Proteção de Dados.

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