Se nos últimos 20 anos os softwares jurídicos tinham soluções quadradas, pouco intuitivas e difíceis de serem usadas, o mesmo não pode ser dito de soluções tecnológicas de outros setores. Largando na frente do jurídico, diversas áreas introduziram plataformas cada vez mais inteligentes, adaptadas e intuitivas. Se o financeiro hoje emite boletos e controla o saldo por bancos digitais e não mais nas plataformas caras e antigas, por que o jurídico precisa manter os mesmos hábitos?
É muito comum ouvir no setor jurídico queixas como: “a gente contratou essa ferramenta para o jurídico, mas ninguém usa muito”, “o comercial usa esse software mas a gente não conseguiu se adaptar” ou até “a gente não gosta muito do sistema, mas como foi caro, a gente tem que usar”. Mas a dúvida que fica é: por que, pelo menos até pouco tempo atrás, era tão comum “aceitar” um software caro e que não entregava os resultados esperados? Por que era normal aceitar soluções que tinham “cara de sistema”? Pior ainda, por qual motivo departamentos jurídicos passaram anos se "contentando" com pouco?
A resposta não é simples e pode estar ligada a dois grandes fatores. O primeiro refere-se à falta de perspectiva e ao natural desapontamento com tecnologia, fruto de como se deu a chegada da tecnologia ao trabalho jurídico. E o segundo, relacionado com a visão, que só surge agora, do jurídico mais como um setor estratégico, e menos como um apagador de incêndios.
Há mais de duas décadas, quando surgiram as primeiras iniciativas de se tentar implementar algum software aos setores jurídicos de empresas, esse mercado ainda era tímido. Nesse contexto, ainda não será claro, tanto pelo lado da demanda quanto da oferta, como um software poderia auxiliar o trabalho jurídico. Havia a seguinte situação: as empresas contavam com soluções muito incompletas, ou então, softwares de outros setores, que, quase como em uma gambiarra gerencial, eram estendidos ao jurídico.
O objetivo não é fazer a “crítica pela crítica”. Inclusive, há muito mérito em quem olhou lá atrás para as oportunidades do setor e conseguiu, de alguma maneira, criar soluções. O caso é mais de uma constatação de que o jurídico nunca foi o foco desses grandes sistemas e as primeiras soluções específicas do mercado apresentavam um descolamento (natural para o começo) das necessidades dos advogados.
No entanto, isso deixou sequelas. Muitas estruturas e processos dos departamentos jurídicos foram, por vários anos, feitos nesse cenário nada promissor. Não à toa, a aversão ao uso da tecnologia e a dependência ao trio (essencial, diga-se de passagem) Word, Excel e E-mail foram aumentando com o passar do tempo.
O “foi caro, não gostamos, mas temos que usar”, passou para “foi muito caro, ninguém se adaptou e precisamos de alguma coisa nova - custe o que custar”. E, sem dúvida, um reconhecimento do jurídico como uma engrenagem cada vez mais estratégica nas empresas trouxe poder de barganha para o setor. Não mais se trata da área que usa softwares improvisados, ou que "contrata qualquer coisa". Já é o momento de refletir em como melhorar a experiência desses usuários.
Essa necessidade fica cada vez mais evidente na medida que novas soluções, focadas nas demandas dos jurídicos, passaram a pipocar no mercado. Muitas dessas soluções, inclusive, foram criadas pelos advogados da “nova geração” que sentiam a necessidade de mudar como a tecnologia impulsionava o direito. Nasceram, dessa forma, softwares muito mais intuitivos, amigáveis, focados no usuário e, acreditem, muito mais baratos que os do primeiro movimento de tecnologia jurídica.
Isso significa que esses “primeiros softwares” não servem mais? Não, muito pelo contrário. Eles têm um aprendizado de anos acumulado e um acesso a uma clientela muito relevante. Mas o nascimento dessas soluções novas, que dialogam com o “novo departamento jurídico”, muito mais ágil, fácil, acessível e integrado, ligam o sinal de alerta para o fim da era de “softwares com cara de sistema”.