Migalhas de Peso

Sr. N, muito prazer, Dr. T

Num bar na Avenida Paulista...

9/11/2021

(Imagem: Arte Migalhas)

Num bar na Avenida Paulista, no Paraíso, num sábado à noite, numa esquina movimentada da Rua Manoel da Nóbrega, dois Hermanos trocam ideias, filosofam regados à cerveja sobre os rabos de saias, entre baforadas de charutos, conversam sobre política, economia, negócios, literatura, cinema, e acompanham os doces balanços dos gingados dos sambas, que desfilam pela luz da passarela. Não se viam há tempos. Tinham estudado juntos durante o mestrado em direito político e econômico no Mackenzie, idos de 2012 a 2014.

Fazia realmente tempo que não se viam. Terminada a pós-graduação, cada um seguiu seu rumo. Um foi lecionar. Outro foi advogar. Um caia na noite. Outro se casou e teve filhos. Mas, eram amigos próximos e a amizade, com certeza, não acabou com o passar dos anos. Desta vez, quando se reuniram novamente, era como se tivessem se reunido ontem mesmo e o papo simplesmente fluía.

- Saudações mackenzistas! – disseram os dois Brothers, ao mesmo tempo, se abraçando.

- Sr. N!, quanto tempo, meu amigo!

- Dr. T!, digo o mesmo, meu querido!

- E os bambis?!                                                           

- É, pois é, não tão bem quanto os gaviões!

- Ceni, sem dúvida, um grande jogador! Já como técnico...

- Zetti também foi um grande ídolo. Mais tranquilo...

- Voltando no tempo, lembro do Raí e de seu irmão Sócrates.

- Raí... Um ótimo jogador em campo e no campo com as mulheres. Um legítimo são paulino!

- Sim! Tem razão! Já o irmão mais velho, Sócrates, um verdadeiro craque e democrata! Um legítimo timoneiro!

- Com certeza, sem falar que, certa vez, na concentração da seleção, lia um livro deitado na cama, o que causou surpresa e estranhamento ao colega de quarto quando o avistou, imerso na leitura.

- Sim... sim... Tem razão!

Eis que pela frente dos dois amigos... um doce balanço, um doce gingado, um doce feitiço, pura magia!

O assunto então se volta a elas! Mulheres e filmes...

- Lembro de Penélope Cruz, em “Volver”, de Almodóvar, uma bela fotografia panorâmica da moça lavando louças, com os seios à mostra e em movimento! – diz um dos amigos.

- Verdade! – concorda o outro e recorda – Maria Flor, em “Dois Irmãos” – excelente performance no ato da cena!

A seguir, voltam aos tempos de faculdade, quando ainda não se conheciam, para compartilhar informações quentes da época.

Sr. N diz:

- Estagiei na Defensoria Pública na área de Direito de Família. Só barraco. Mulher querendo sacanear o marido. Marido querendo sacanear esposa. Causas legítimas. Sem falar quando o assistido caminhava horas, sem dinheiro para transporte, para chegar e ser convidado a voltar num outro dia, já que nada podia ser feito no momento. Lamentava muito na ocasião não poder oferecer um tratamento melhor e mais digno àquelas pessoas. Mas lembro do trabalho empenhado e dedicado de algumas amigas defensoras, que tinham e defendiam um ideal, uma busca constante por justiça social. Aliás, tive uma chefe gata, inteligente e que tornava o ambiente mais leve. Carinhosamente, me apelidava por “Nikolai”. Também muito paciente, pois, certa vez, com confiança demais, abordei-a com um poema, que resultou num educado e sutil esporro e um delicado chute na bunda...

Dr. T afirma:

- Bacana! Eu, por outro lado, estagiei no Ministério Público. Pude conviver com amigas estagiárias e amigos estagiários fantásticos! Conversávamos bastante! Trocávamos várias ideias não só sobre direito, mas também cinema e literatura. Tínhamos pequenos intervalos, quando sentados à uma mesa de um bar, tomávamos guaraná com café e conversávamos sobre aqueles temas e também sobre futebol e teatro. Sem falar de música... escutávamos Legião Urbana e cantávamos no Karaokê juntos em alto e bom som, às sextas-feiras após o expediente, regados à breja e porções de fritas com maionese temperada. Para minha sorte, tive um chefe muito gente boa! Corrigia o português das petições. Emprestava e sugeria livros. Oferecia o espaço de trabalho para estudarmos para as provas da faculdade. Dava conselhos e sugestões. Organizou um evento sobre Justiça, Ministério Público e Direito Digital, quando ainda os processos eram impressos e encostávamos o umbigo no balcão do cartório para fazer os andamentos. Um verdadeiro, acima de tudo, ser humano e também promotor de justiça! Não um simples promotor de acusação!

- Mudando de assunto. Tem visto algum filme bom? – pergunta Sr. N.

- Na verdade, lembrava esses dias de filmes das antigas. – responde Dr. T.

- Quais? – indaga Sr. N.

- Lembrava de American Pie e, antes ainda, de Porky’s – A casa do amor e do riso. – diz Dr. T.

- Sim... sim! Desenterrou! O primeiro anos 90 e o segundo anos 80. – prossegue Sr. N.

- Excelentes filmes! – afirma Dr. T.

E os dois amigos lembram às gargalhadas das estórias dos filmes. Aliás, Kim Cattrall, famosa pela personagem Samantha em Sexy and the City, antes, atuou não só em Loucademia de Polícia, como também no próprio Porky’s, aos uivos em cena épica, verdadeira loba, hoje em dia.

- Ah! À propósito, temos eleições para a Oab sp agora em novembro. – lembra Dr. T.

- È vero! – concorda Sr. N.

E os dois amigos concordam nesse aspecto. Os dois votarão na chapa da oposição. Patrícia Vanzolini e Leonardo Sica são os cabeças da chapa. Os dois, advogados criminalistas. Uma pequena grande mulher como presidente. Para representar nós advogados à frente. Não atrás, nem ao lado. Mas, sim, à frente. Uma profissional competente. Já Leonardo Sica, por sua vez, foi um notável presidente da Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), com uma gestão eficiente e marcante, preocupado com o bem-estar dos associados, providenciando e disponibilizando todo o suporte necessário para a advocacia.

Finalmente, a hora voa. Os dois Hermanos não veem a hora passar. Não se dão conta do tempo. Quando olham o relógio, já havia passado horas. A madrugada já chegava de repente. Cogitam, assim, emendar no boteco uma ida a um pub da região. E, de fato, a noite lhes convidava a mergulhar em seu sutiã. Não puderam recusar tal honroso convite! E assim seguem a caminhada...

Já no dia seguinte, pela manhã...

Um deles decidi ir à Igreja. Levanta, toma café, se veste e vai à missa. Uma bela missa, sim. As altas abóbodas preenchidas pelo som imponente, forte, pulsante e alto do órgão (piano) tocado, bem como os cantos gregorianos dos religiosos, causam impacto nos fiéis, que acompanham o ritual atentos.

Esperava ouvir mensagens sensatas que lhe trouxesse amparo espiritual. Porém, o que restou foram lorotas e groselhas, reflexões sobre ser Santo. Que todos deveríamos querer ser Santos. Que Santos também pecam, mas devem querer se tornar Santos, buscar o perdão. Ora! Não somos Jesus! Ninguém é Jesus! Jesus é muito ocupado com causas nobres! Quem me dera querer ser Santo. Quem sou eu para ser Santo? Quem somos nós para querer ser Santos? Não somos Padre Pio, Frei Galvão, ou Madre Teresa de Calcutá. Tentemos, sim, fazer o bem sem ver a quem e isso não tem nada a ver com querer ser Santo. Aliás, antes de aceitarmos tudo goela abaixo, devemos, sim, refletir se queremos ser ovelhas por vocação. Rebanhos guiados com a rédea presa. Ou termos liberdade, Fé e razão – uma Fé racional razoável. Não apenas Fé burra!

Por fim, por outro lado, tem apenas outra coisa... É sabido que altas autoridades eclesiásticas gastam verdadeiras fortunas com advogados para certos religiosos que frequentam, dentre outros locais, saunas gays e participam de certas festinhas reservadas – mas nada contra quanto a isso, o importante afinal é ser feliz. Todavia, aí pior e abominável. Há alguns que se insinuam a jovens, algumas vezes, quando sozinhos em confissão, ou ainda pior, em situações delicadas e de fragilidade. E agora José? Ou seria, Jesus... 

Nicholas Maciel Merlone
Advogado | Professor na Pós-graduação do Senac & Escritor. Mestre em Direito Político e Econômico pelo Mackenzie. Bacharel em Direito pela PUC/SP. Autor de artigos, ensaios e análises.

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