Migalhas de Peso

Dr. T – As Origens!

Trabalho braçal também faz parte!

29/10/2021

(Imagem: Arte Migalhas)

Fevereiro de 2004. Gloriosa Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Dr. T, na ocasião, simplesmente, T., o jovem calouro desajeitado e tímido, ingressa num universo paralelo, totalmente diferente do que estava habituado.

Tinha acabado de passar no vestibular. Fui admitido no curso da Faculdade de Direito da PUC/SP. Um novo ambiente. Escadarias, rampas, prainhas, piscina no último andar e... sim! Muitos umbiguinhos e sainhas à mostra. O que, certamente, mexeu com meus hormônios reprimidos, levando-os à tona, ao ponto de explodirem de pura emoção e alegria.

Jogava xadrez no Centro Acadêmico de Psicologia, nas aulas vagas. Escrevia e começava a me posicionar nos jornais da universidade, causando furor e causando, com posições polêmicas. Escrevia também minhas primeiras poesias, incomodando a todos e a todas, sempre procurando melhorá-las. Além disso, começava a frequentar a Casa das Rosas, curso Rascunhos Poéticos, aos sábados e a suntuosa biblioteca da Fiesp, na avenida Paulista, que, infelizmente, foi depois desativada.

Fui também capturado pelo mágico piano, na biblioteca, tocado por uma jovem veterana, com a qual fiz passeios, um deles num fim de semana ensolarado pela Sala São Paulo.

Algumas manhãs de sol matava aulas, para frequentar parques, onde lia o Valor Econômico, assinatura do jornal adquirida de graça, por me aventurar no simulador da Bolsa de Valores da Folha de S. Paulo.

Comecei, enfim, a me inteirar da localização precisa dos livros na biblioteca. Não os de direito, para os quais, na época, não dava muita atenção, confesso, exceto os das disciplinas propedêuticas.

Fiz amizade com um vendedor de livros de um pequeno sebo, localizado no Centro Acadêmico da Faculdade de Letras. O rapaz guardava e separava os livros para quando eu tivesse dinheiro suficiente para pagá-los.

Dois livros marcantes foram adquiridos. Os dois de Vinícius de Moraes. Um de sua obra completa, em capa dura verde, com papéis de bíblia, da editora Nova Aguilar. Outro, pequenino, de poesias das mulheres e os signos. Guardo os dois até hoje em meu banker (quarto com livros empilhados).

Me interessava, sim, de verdade, pelos de literatura. Sabia de cor onde encontrar os de Bandeira, Drummond, Clarice, Rubem Fonseca, Garcia-Roza, Garcia Marquez, Pedro Juan G., entre outros. A Puc era realmente um ambiente fértil! Trocava ideias de autores e leituras com as amigas e os amigos.

Certa vez, peguei uma obra de Florbela Espanca. Um livretinho de capa dura vermelha. Para minha surpresa, um pequeno marcador dobradinho das bordas de uma página de caderno evidenciava o poema Amar da autora portuguesa.

Anos depois, numa manhã de sol, lia sentado à Prainha o romance “Casamento” de Nelson Rodrigues, às gargalhadas. Um professor de direito civil, que passava, me perguntou o motivo das risadas. Expliquei que se tratava de uma sátira e de uma crítica à Família da época.

Tempos depois, em uma aula de direito de família, o dito professor citou a obra em suas lições, sem me dar os devidos créditos da sacada. Fiquei um pouco chateado, sim. Mas, as reflexões e ensinamentos do mestre que nos ensinava a pensar o direito, superavam o evento.

Na realidade, neste momento, estávamos no último ano. Todos preocupados com o exame da ordem. O mestre trazia novidades e tendências do direito, quando a maioria dos alunos só queria saber da Oab. Por falar em Oab, demorei um pouco para tirar a “vermelhinha”. Não tirei de primeira. Levei tempo, o que demonstra que é possível passar. Estudar até passar! Para aqueles que levam anos, sendo até que amigos próximos ainda levaram mais anos!

+++

Hoje, vários verões e invernos depois, tive de ir ao Fórum. Pela manhã, fui à Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), onde a atenciosa atendente, Sra. Sangalo, me ajudou a imprimir algumas petições.

Processos não digitalizados. Protocolos, consultas processuais nos cartórios, cargas de processos físicos e despachos com juízes. Trabalho braçal também faz parte! Ossos do ofício! Apesar disso, um grande prazer realizar tais tarefas! E poder Trampar!

Aliás... para encerrar a conversa de botequim... não custa lembrar! Trampar é importante! Trampar muito faz bem à Saúde! Eu procuro trampar todos os dias! Trampo! Trampo! E Trampo! Sem medo de ser feliz! Graças a Deus! E Deus, na verdade, não tem nada com isso! Não quero incomodar a Deus, com meus problemas de Trampo! Deus tem problemas mais sérios para lidar! Trampo, pois! E sempre tramparei!

Nicholas Maciel Merlone
Advogado | Professor na Pós-graduação do Senac & Escritor. Mestre em Direito Político e Econômico pelo Mackenzie. Bacharel em Direito pela PUC/SP. Autor de artigos, ensaios e análises.

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