Na literatura sempre a temática do crime, da polícia, dos tribunais, o conflito entre a Ética e o Horror, fascina o escritor e o leitor. Conan Doyle provocou a imaginação obrigando os fatos cotidianos a tomarem a proporção da estética que a palavra cobre e descobre numa interminável investigação na busca duma verdade ilusória tanto nos cartórios como nos escaninhos da alma.
No Brasil se destaca pela singularidade a obra do romancista e médico Paulo Rosenbaum que no seu mais recente livro “Navalhas pendentes” entrelaça todos os elementos de perquirição erudita como insólitos devaneios que a concretude registra em narrativa perturbadora.
O livro faz parte de uma vasta arquitetura cultural do autor na qual se inclui desde uma filosofia médica até os artigos publicados na mídia e cuja configuração se distingue por uma percepção sensorial cósmica da existência.
Paulo Rosenbaum não se intimida na inspiração judaica de sua criação que por isto mesmo, mergulha nas raízes brasileiras as profundas, num resultado surpreendente.
Salomão, Barthes, Huxley convidam o leitor de início a um passeio mágico no compasso de Kafka.
A perturbadora paisagem do livro se introduz de forma chocante “Como faz tempo que parei ficção, naquela madrugada havia adormecido folheando uma velha coletânea de artigos científicos intitulada O mero respirar. Foi lá que descobri a existência de um estado mental peculiar e que, na ausência de uma outra classificação, estava sendo chamado provisoriamente de “chave dupla onírica”.
O autor que alinhava é um genuíno quebra-cabeça que qualquer advogado ou policial pode encontrar num inquérito sinuoso sobre um crime misterioso ou então nos devaneios perturbados que se abriga como oásis no deserto da loucura.
Por tudo isto, paradoxal e contraditoriamente, se entende uma ponderação sensata como remédio caseiro para o leitor “Tenha menos coisas”.
Talvez uma lição cabalística de um médico caipira do Grande Sertão de nosso outro romancista, tanto quanto, Guimarães Rosa, médico e filósofo.