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Mentir para a imigração pode acabar com as chances de viver nos Estados Unidos

Entrar em qualquer país dessa maneira não é eficiente. É importante lembrar que existe tecnologia e atualmente os agentes imigratórios e os consulados possuem todas as informações necessárias para impedir a entrada das pessoas no país.

20/8/2021

(Imagem: Arte Migalhas)

Eventualmente eu trago em meus artigos algumas histórias de pessoas que tiveram problemas com a imigração, seja por falta de planejamento ou mesmo porque decidiram fazer uma mudança fora das regras imigratórias para os Estados Unidos. O intuito não é dar uma lição de moral ou dizer o que é certo e errado, apenas mostrar este lado da moeda. O que eu recomendo, é realizar esses procedimentos de forma estruturada e legalizada, evitando problemas futuros. O meu objetivo é trazer informação para as pessoas.

Normalmente as histórias são sempre parecidas. As pessoas acreditam em certos profissionais ou até mesmo empresas que oferecem um serviço, contam uma história para imigração que nem sempre condiz com a realidade e depois, quando algo dá errado, nos procuram para consertar e nem sempre isso é possível. Portanto, esse é um alerta para evitar entrar nos Estados Unidos ilegalmente, pois atualmente não há espaço para esse tipo de atividade no país. Além da deportação, existem uma série de outras barreiras.

Nosso protocolo ao receber o contato de um cliente é pedir todo o histórico dele. Pedimos a autorização e uma procuração, encaminhamos para o consulado e solicitamos todas as informações, muitas vezes o cliente nem imagina o que está nesses documentos.

O caso noticiado é totalmente atípico, trata-se de um casal com dois filhos que mora no interior do Rio de Janeiro. No dia 6 de janeiro de 2021, o marido saiu do Brasil e entrou nos Estados Unidos, em Orlando com o visto de turismo. Essas informações, além de relatadas pelo indivíduo, também constam no foia (documento que relata tudo o que acontece durante a visita ao país) enviado pela embaixada. Ao entrar, ele relatou que possuía 8 mil dólares em dinheiro e cartão de crédito. Além disso, explicou que iria para uma exposição chamada Surf Expo, que aconteceria no dia 8 de janeiro no OCC Orlando. O plano seria ficar 12 dias e, inclusive, apresentou a cópia da reserva do hotel para essas datas e entrou normalmente. O foia é encerrado nesse período.

A verdade era que ele tinha intenção de permanecer no país e para os dias seguintes ao que foi relatado à imigração, ele já havia alugado uma casa, comprado um carro, efetuou transferências do Brasil para os Estados Unidos com uma operadora de câmbio, entre outras compras.

No dia 18 de março, dois meses e doze dias depois da entrada do marido, a esposa e as duas crianças chegaram ao país também pelo aeroporto de Orlando. O marido tinha combinado de ficar esperando a esposa do lado de fora do aeroporto, dentro do carro no estacionamento em frente da área de desembarque. Ao passar pela imigração a mãe informou que possuía 7 mil dólares e alguns cartões de crédito, explicou que estava no país a turismo, que iria na Disney e passariam apenas 15 dias lá. Nessa entrevista não foi informado que o pai ou marido já estava no país há pelo menos dois meses. 

O agente então levou o restante da família e os passaportes para a salinha da imigração no aeroporto. Após questionar sobre a viagem deles, começaram a fazer perguntas sobre o marido e a esposa informou, de acordo com o foia, que ele permaneceu trabalhando. Com a insistência dos agentes, ela explicou que o marido de fato estava nos Estados Unidos fazendo compras para as lojas que eles têm no Brasil, de artigos de praia, surf etc e que voltaria ao país de origem junto com o restante da família após 15 dias.

A solicitação seguinte foi para que a esposa abrisse o celular. Vale ressaltar que nesses momentos é importante não apresentar qualquer resistência, caso algum agente imigratório solicite qualquer tipo de informação, mostre tranquilamente, afinal ele está fazendo o trabalho dele. No aparelho havia conversas com o marido, fotos da casa, fotos da cidade e ficou claro que não havia intenção de retorno. Os agentes foram buscar o marido onde ele estava aguardando para que ele pudesse contribuir com a história e então voltaram para a salinha, onde fizeram perguntas para o casal juntos e separados. Em determinado momento, ele confessou que pretendia ficar nos Estados Unidos.

Como ele já estava nos Estados Unidos, os agentes do ICE foram convocados e informaram que ele teria três dias para desocupar a casa, vender os itens que havia comprado e retornar ao Brasil sem mais problemas. O restante da família precisou voltar no voo seguinte.

O marido explicou diversos pontos para os agentes, entre eles que ele teve ajuda de duas pessoas que ofereceram um serviço de assessoria, cada um deles de forma diferente. Um ofereceu ajuda para conseguir trabalho no setor de construção mediante pagamento de uma taxa e o outro ajudou com a implementação de atividades do dia a dia, como o aluguel de casa, compra do carro e outras burocracias.

Portanto, entrar em qualquer país dessa maneira não é eficiente. É importante lembrar que existe tecnologia e atualmente os agentes imigratórios e os consulados possuem todas as informações necessárias para impedir a entrada das pessoas no país. Inventar uma história acaba influindo em diversos problemas para o momento e para o futuro, por isso o ideal é fazer os processos de forma planejada e legalmente para evitar a impossibilidade de conseguir um visto para residir nos Estados Unidos.

Daniel Toledo
Advogado do escritório Toledo Advogados Associados. Especializado em Direito Internacional. Consultor de negócios. Palestrante. Membro da Comissão de Direito Internacional da OAB/SP e Santos.

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