O ano é 2021, mas já se parece muito com 2020. Ou até pior. A vacina chegou junto com a esperança por dias melhores, mas a realidade momentânea é outra. Não temos vacina disponível para todos e a imunização até então é insuficiente para barrar o vírus. Falta UTI e vivemos uma segunda onda de contágio e mortes. A pandemia avança forte no nosso país, infelizmente. Apesar de todos já estarem, em tese, habituados com as restrições da pandemia, que no Brasil se acentua com diversos lockdowns, o cenário se mostra o pior possível, eis que a fragilidade psicológica, física e principalmente econômica, é muito maior.
Neste contexto, conforme o título proposto e sem o intuito de ignorar todos os demais problemas interligados ao covid-19, destaco como já estão sendo as aulas no ano de 2021 e os desafios de agora, bem como outros tantos que se avizinham.
Não é novidade que a dinâmica das relações humanas muda com o início das aulas presenciais e depois pela mudança para o ensino à distância. Seja por conta da compra de materiais escolares ou a mudança da rotina familiar, ou até mesmo pela quantidade de veículos trânsito: tudo muda. Diferente, contudo, dos outros anos, por força do momento histórico representado pela ampla tentativa de adoção da modalidade híbrida de ensino, o retorno das atividades estudantis este ano se demonstrou como um desafio, ainda que adiado pelo mais recente segundo lockdown decretado em algumas unidades da Federação.
Diferente do início da pandemia, quando tivemos dificuldades de adaptação a aula online e ao home office, às aulas, ainda que de forma híbrida, promete testar ainda mais a capacidade humana de conviver com adversidades e inovações. São incontáveis as novas regras para o retorno presencial de atividades, não só sanitárias. Certamente, todas são indispensáveis. Transformou-se, porém, o simples ato de assistir aula em algo complexo, burocrático e extremamente oneroso para os proprietários de instituição de ensino.
Dentre as exigências, além dos procedimentos sanitários inerentes, chama-se a atenção a permanente imposição de distanciamento mínimo entre alunos na sala de aula, mesmo usando máscaras. Ora, o que a princípio é visto salutar preocupação com a integridade física dos alunos, sob o ponto de vista econômico ocasiona sério desequilíbrio contratual se mantido os valores cobrados anteriormente a título de mensalidade.
Trocando em miúdos, se num primeiro momento a pandemia justificou a redução de custos ao ponto de obrigar as escolas e universidades a dar descontos na mensalidade por não estarem gastando como antes, agora estamos em situação antagônica: O custo foi ampliado, eis que mantidos os aparatos tecnológicos em conjunto com os custos anteriores a pandemia, sendo acrescidos de valores relativos aos procedimentos de higiene que não se resumem apenas em ao álcool gel e máscara.
Máquinas de desinfecção de cadeiras, de mochilas, de estrutura física em geral foram adquiridas e consumirão muita energia e insumos. Novos produtos químicos, tapetes sanitizantes e uma quantidade inimaginável papel e álcool. Vários novos gastos para cada aluno. Tudo gera custo. Custo este que se repete várias vezes no mesmo dia. E até então, praticamente nenhum valor foi ou será repassado aos pais. Certamente, no entanto, em algum momento a conta vai chegar ao usuário do serviço de ensino.
De outro giro, sob o ponto de vista do professor, temos que a tensão representada pelo cuidado extra com o ambiente, com os alunos ou com a própria saúde, sendo esta última uma preocupação que tende a reduzir se, de fato, houver a inclusão destes profissionais como classe prioritária na vacinação, resulta em sérios problemas físicos e psicológicos. Isso porque a pressão pela excelência na prestação do serviço educacional é exercida diretamente sobre o professor.
Essa “cobrança” pressionadora atinge não só quem assiste vídeo aula (com o acompanhamento dos pais, na maioria das vezes), mas também o aluno que está em sala de aula, a diretoria da escola e, por último, até os órgãos sanitários. Essa conta também vai chegar, tanto para a instituição de ensino que lidará com problemas trabalhistas ou previdenciários, quanto para o empregado, que poderá sucumbir dentro da nova realidade.
Sem sombra de dúvidas, a realidade é outra e nunca mais teremos a “escola” como antigamente, eis que muito do preconceito contra a aula não presencial caiu por terra. É incontestável, entretanto, que todos precisam ter empatia e conversar na busca pelo equilíbrio que irá garantir a continuidade do ensino de qualidade sem sacrificar as instituições que o promovem. Esse é o ponto central da reflexão ora proposta e o que se espera.