Lembro como se fosse hoje, há exatamente um ano atrás, quando me pediram para escrever um texto em homenagem às mulheres pela passagem do 08/03. Na época eu estava numa correria desenfreada (trabalho, estudos, casa, compromissos sociais) e havia até pensado comigo mesma: poderiam ter escolhido outra pessoa, afinal de contas, eu estava abarrotada de coisas para fazer. Mal sabia eu o que estava por vir.
Aos trancos e barrancos escrevi uma breve crônica. Passou o 8 de março de 2020 e logo começou a famigerada pandemia. Se eu já “não estava lá aquela coisa”, o novo normal conseguiu piorar a situação, para mim e para uma infinidade de mulheres. Mas sempre há males que vêm para o bem...
Fomos obrigadas a nos adaptar: em 24 horas tivemos que alterar por completo a nossa rotina, o escritório virou a sala de casa, o restaurante é a nossa cozinha, com o detalhe que somos nós que temos que cozinhar, servir, lavar. A academia virou os degraus da escadaria do prédio, ou o agachamento feito com a cadeira da sala de jantar ou até mesmo com o pegar no colo e tirar do colo as crianças, mil vezes, no período de 24 horas, 1440 minutos e 86400 segundos diários.
Tivemos que aprender em tempo record a nos adaptar com as mais variadas tecnologias, seja para conseguir nos comunicar no trabalho, para dar apoio às crianças com as aulas online ou até mesmo para matar a saudade dos entes queridos que não pudemos mais visitar.
E a mulher do 8 de março virou “a mulher da pandemia”. Para quem achava que ficar em casa daria um “fôlego”, se decepcionou, e como!
A mulher da pandemia muitas das vezes teve que despertar antes do sol nascer para deixar pronto o almoço da família. Teve que dar um pause no trabalho para tentar fazer as crianças prestarem atenção nas aulas, teve que pegar no colo o bebê que ainda dependia de mamar no peito e ao mesmo tempo escrever um parecer de 20 páginas para o trabalho cujo prazo finalizava em duas horas. Lava roupa, passa roupa, guarda-roupa, cozinha, trabalha, estuda, cuida, dorme, se arruma, da atenção, educa, brinca, se exercita, e, será que dorme? – Às vezes, talvez.
A mulher da pandemia teve que concluir seu dia de trabalho em dedicação a seu empregador e começar a aula online de uma pós-graduação que precisava concluir, e foram mais 20 páginas de leitura, de um trabalho ou uma monografia. Nesse ínterim, precisava comer, tomar banho, se exercitar, cuidar e alimentar os filhos, dar atenção para o marido e toda família. Sem surtar, por favor!
Mas a mulher da pandemia, pelo simples fato de ser mulher, se reinventou. Teve quem saiu do emprego e empreendeu, teve quem se aventurou no mundo das lives e aumentou exponencialmente seu faturamento, teve virou chef de cozinha e triplicou sua renda, teve quem aproveitou ao máximo a oportunidade de estar com a família a maior parte do tempo, teve inclusive quem reaprendeu fórmulas matemáticas apenas ouvindo as aulas das crianças enquanto preparava o almoço ou trabalhava na mesa da sala.
A mulher da pandemia também foi aquela que sofreu, que acalentou corações quando entes queridos foram perdidos, mesmo quando o que ela mais precisava era um abraço afetuoso.
Por fim, a mulher da pandemia trabalhou, ensinou, cuidou, deu amor, se fortificou, se reinventou, aconselhou, sorriu e chorou, e por isso, apenas pelo fato de ser mulher merece ser reverenciada, não apenas no dia das mulheres, mas em 365 dias do ano.
À todas aquelas que diariamente combatem o bom combate, um feliz dia da mulher, crendo veementemente que este seja o último “dia da mulher da pandemia”.