Dar um golpe em uma grande organização privada exige um esquema bem estruturado. Vivemos um tempo em que muitas companhias dispõem de instrumentos para coibir a corrupção empresarial. Contudo, o crime anda à solta, e em vários casos a desconfiança se instala após muito estrago.
Casos robustos de fraude e corrupção empresarial não raro envolvem traição de executivos e colaboradores em função de "kick back". A expressão diz respeito ao dinheiro recebido pelo funcionário ao favorecer um fornecedor. É o "chute de volta", a "gratificação" ou "engraxada" para viabilizar uma transação que, via de regra, lesa a empresa.
Funcionários corrompidos por parceiros ou fornecedores agem, na grande maioria das vezes, em grupo. Em estruturas maiores, uma única pessoa não consegue aprovar sozinha uma compra grande. O mesmo ocorre com quem está vendendo o produto ou serviço. É nesse caldo que surgem os clusters de corrupção empresarial, tanto internos quanto externos.
Quem encabeça o crime precisa envolver outras pessoas, aliciar cúmplices. Se a cultura organizacional e os mecanismos de controle apresentam brechas, instaura-se um sistema com características da Máfia. Nele, todos os envolvidos precisam estar mutuamente comprometidos. Se um abre a boca, envolve a todos. Se um cai, todos caem. Na expressão popular, estão todos "de rabo preso". E, em meio à corrupção empresarial, quem não quer compor é intimidado. Há extorsão, ameaças e, em casos extremos, até "queima de arquivo". Uma vez dentro, nunca mais se pode sair ou se arrepender.
Para alguns, pode parecer exagero, e antes fosse. Em mais de 20 anos de investigações no Top10 das maiores empresas em operação no país, já encontrei situações tenebrosas. A exemplo de um oncologista chamado quando a doença já avança, fiz o trabalho de identificar o câncer e extirpá-lo. O duro é que a corrupção empresarial nunca vem só: ela abre caminho a outras tantas transgressões. A metástase vem na forma de um pacote de crimes complementares – fraude, extorsão, sonegação, lavagem de dinheiro. Quando esses elementos se fazem presentes, o efeito é exponencial.
A prevenção continua sendo o melhor caminho para combater a corrupção empresarial e demais crimes que ameaçam a reputação, a saúde e a sobrevivência das organizações. Não é questão trivial. Requer expertise para mapear a contaminação, sanear as áreas afetadas e identificar potenciais desdobramentos. Então vem a operação rescaldo, com todos os cuidados necessários para prevenir recidivas.