“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
Brilhante e tão atual é o pensamento de autoria de Leon C. Magginson, professor emérito de Negócios da Universidade da Luisiana, muito embora o senso comum atribua tal verdade a Charles Darwin.
Tal pensamento expressa a prerrogativa deste ano de 2020: adaptação. Palavra que vale para a vida. Palavra que vale para o Direito.
Sempre imaginei a advocacia como algo dinâmico, interativo e adaptativo. Considero que o mood turrão e sisudo dos advogados das "antigas" é um modelo obsoleto.
Sou advogada formada pela PUC do Rio Grande do Sul e pós-graduada na mesma instituição em Direito Empresarial. Advogar me expôs a conflitos dos mais variados e a disputas judiciais intermináveis. Como ser mais efetivo diante dessa triste, morosa e árdua realidade? Existiria outra forma de manejo para os conflitos inerentes ao mundo do direito? Se sabemos que as negociações mais importantes não são decididas no Judiciário, parece inteligente levar conflitos familiares ao crivo de um terceiro que não conhece a fundo a realidade dos envolvidos?
Esse questionamento me impulsionou a buscar outros caminhos. Por liberalidade, optei por entregar um trabalho completamente diferente. Privilegiando as pessoas, separando-as dos problemas, priorizando o relacionamento entre elas e toda a extensão da família. Em 2017, concluí uma especialização em Negociações na Escola de Negócios de Harvard. Etapa de aprimoramento que chancelou a minha forma de atuação.
Infelizmente, há uma deficiência de profissionais com expertise em negociar. Essa é uma tarefa arrojada, que abarca técnicas de diferentes áreas. Assertividade, intuição e escuta ativa para entender as faltas por trás dos fatos. Foco total em compreender os reais interesses dos envolvidos com uma escuta empática e compassiva alicerçada em equilíbrio emocional. Esse cenário constrói um ambiente seguro, para que as dores expressas em formas de demandas possam ser sanadas com mínimo desgaste.
Afirmo que a maior barreira para a advocacia mais eficiente é o próprio advogado. Em especial aquele profissional que acredita que a solução virá pela destreza em mostrar apenas um lado da moeda e na habilidade em transformar o processo litigioso no octógono de vale tudo.
Em conflitos que têm como partes entes da mesma família, que não deixarão de ser parentes por conta do litígio, a briga não é razoável. Especialmente se existirem crianças que dependam da harmonia entre os pais para crescer saudáveis.
Isso é o que eu não faço! Eu não brigo. Eu não estimulo a brigar. Ao contrário, levanto informações e ofereço alternativas para que as pessoas entrem em acordo. Isso é viável através de uma advocacia mais atuante e menos procrastinada. É viável através de aplicação de técnicas que estabeleçam uma negociação equilibrada para os clientes. Meu papel é depurar, através de uma escuta ativa e interessada, as reais demandas em forma de propostas, implementos e acordos.
Essa advocacia de vanguarda não invalida a advocacia clássica como menos capaz ou eficiente. Apenas se mostra uma alternativa mais macia para conflitos que envolvam alta carga de afeto entre pessoas que continuarão se relacionando para além do Judiciário. Um advogado com um olhar mais complacente, apurado, evoluído e cuidadoso consegue ser eficiente em acordos sem macular vínculos. Já foi o tempo em que transformar a crise em guerra era a forma mais inteligente de obter sucesso. Na verdade, nem sei se um dia foi.
Como acontece na prática?
Um casal em crise, com filhos ainda pequenos, decide se separar. Essa escolha traz consigo dores não resolvidas expressas através de picuinhas da convivência. O somatório de pequenos e constantes "não solucionados" se tornaram pesados demais. Mas esse casal está vinculado eternamente pela consanguinidade do filho. O que não mudará por conta da separação.
Eu ofereço espaço para que eles esvaziem a angústia e falem sobre o problema. E os ajudo a acolher que a raiva é parte do processo, assim como reconhecer as qualidades do parceiro. O outro que não é um adversário! Eles estão do mesmo lado, lutando sobre a mesmíssima coisa, o que faz com que a perda de um seja também a perda do outro.
Agora imagine esse mesmo casal, com a carga emocional da separação que está por vir, sendo escutado por alguém que vai apenas potencializar sua raiva e direcionar o acervo de informações que momentaneamente danificam a imagem do outro, em um processo judicial em que a imagem negativa se consolida. Qual a probabilidade de sereestabelecer harmonia entre eles?
Como será a convivência pelos filhos e com os filhos? Quando o processo enfim acabar, eles se darão conta que todos perderam, inclusive aqueles por quem deveriam zelar.
Por isso reforço que a advocacia, por exercer um papel fundamental para a sociedade, precisa se adaptar às necessidades atuais, e não ignorar o mal que pode causar aos seus próprios clientes. O papel do advogado não se resume a representar em juízo, ele é mais extenso. Precisamos orientar, esclarecer, mostrar caminho e trabalhar para que o conflito tenha uma solução à altura de nossos clientes. Uma abordagem que vai em direção oposta à de bombardear o Judiciário com ações que afundam a família.
Por outro lado, as pessoas também precisam se questionar sobre que tipo de profissional representará seus interesses. Sobre os reflexos que suas decisões podem causar nos familiares. Como tomadores de um serviço, devem exigir entrega de qualidade compatível com as prerrogativas da categoria e com o valor que pagam pelo trabalho do advogado.
A tecnologia avança e, de certa forma, ameaça extinguir os trabalhos obsoletos. Na advocacia não é diferente. Ela não deixará de existir, mas exigirá dos seus profissionais muito mais do que corretores de peças processuais prontas. E, como bem disse Leon C. Magginson, os adaptáveis sobreviverão.