Anualmente, por todo o País, centenas de homens e mulheres deixam o sistema prisional pela porta da frente porque pagaram com a reclusão os tropeços que cometeram quando viviam a normalidade de suas vidas, em liberdade. A teoria diz que estes homens e mulheres, já sem saldo devedor com a lei ou com a sociedade, como preferem alguns, estão aptos para o recomeço.
No entanto, o que vemos na prática são obstáculos no percurso dessa nova caminhada. O preconceito, muitas vezes, condena o egresso do sistema penitenciário a outro tipo de prisão, moral e ética, numa sentença de pena perpétua, impedindo-o de retomar a normalidade de suas vidas.
Entendo o sentimento das pessoas. O desrespeito da lei, independentemente da motivação, é sempre uma agressão a toda sociedade, pois representa o rompimento do contrato de convivência civilizada. Mas, seguindo o que determina a lei e compreendendo a lógica do sistema, que aparta o infrator do convívio social por um período variável de tempo para que seja reeducado, o retorno à liberdade significa a quitação da pena e, também, a capacidade de voltar viver em sociedade.
É fato que a sociedade não foi, a meu ver, preparada para acolher aqueles que cometeram um tropeço – alguns mais graves outros menos – em suas vidas, mas que pagaram com o isolamento social. Não existe esta compreensão.
A sociedade raramente vira a página, ou seja, tem dificuldades em dar uma segunda chance. As razões são variadas. Umas passíveis de discussão, outras nem merecem ser consideradas. A vida do ser humano que errou e pagou pelo erro com a privação de sua liberdade, seguindo os ditames da Justiça, não é nada fácil depois que deixa o espaço prisional.
É preciso ser resiliente. E ter paciência até encontrar uma porta entreaberta que se abra de verdade, sem desconfiança, disposta a dar uma nova chance de vida para aqueles que deixaram o sistema prisional. Boa parte dos que estão ainda presos e igualmente dos que estão saindo, foram flagrados e condenados por ilícitos pequenos, sem gravidade.
A reinserção à sociedade evitaria em muitos casos, a reincidência do erro. Muitos dos que deixam o sistema, homens e mulheres, sobretudo jovens, anseiam por pela oportunidade de recomeçar. De reescrever outra história para as suas vidas. Já nos acostumamos a ver nos programas policiais da televisão a polícia no encalço de marginais, de vítimas lamentando perdas e de fora-da-lei jurando inocência diante do flagrante.
Estes programas, não raro, alimentam a nossa gana por Justiça. Por outro lado, jamais vi nestes programas qualquer história de ex-presidiários comuns, que agarraram de corpo e alma a nova chance de vida e deram a volta por cima, seguindo de cabeça erguida o traçado de um novo caminho.
Se não acreditarmos nesta possibilidade, de reeducação e reinserção do infrator, de que adianta todo este aparato prisional?
Deixo a pergunta para reflexão dos colegas.
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