Migalhas de Peso

Avante, amigo

Tenho vários registros inesquecíveis de Luiz Flávio em razão de uma amizade de mais de três décadas, iniciada em Mirassol, quando ele exercia a magistratura e eu o cargo de promotor de justiça, sem a ocorrência de qualquer causa prescricional ou decadencial.

2/4/2020

Os pensamentos se juntam ao longo da vida e, em determinado momento, como num compêndio, surge a necessidade de agrupá-los aos respectivos autores, formando assim uma coletânea a ser editada em qualquer ordem.

Tenho vários registros inesquecíveis de Luiz Flávio em razão de uma amizade de mais de três décadas, iniciada em Mirassol, quando ele exercia a magistratura e eu o cargo de promotor de justiça, sem a ocorrência de qualquer causa prescricional ou decadencial. Pelo contrário, tudo fluiu normalmente, com recíproco coleguismo e admiração.

Sua marca indelével – e isso eu confidenciei a ele em várias oportunidades – era sua marcante tenacidade. Exatamente essa palavra que conseguia expressar sua adequação típica. Não no sentido de teimosia, mas naquele que compreende a vontade firme e inabalável de mirar um determinado objetivo e ir em busca dele, até conquistá-lo, deixando transparecer sua ilimitada dimensão de devastar novos caminhos que até pareciam rotineiros, mas, na realidade, exigiam uma acentuada concentração de esforços. E, pela sua dinâmica, conseguiu disputar contra o tempo batendo inigualáveis recordes.

Assim que, num crescendo, exerceu os cargos de delegado de polícia, de promotor de justiça, de magistrado, acumulando as funções de escritor, professor, empresário e, após sua aposentadoria, advogado. No final, não que fosse o último pedestal, deputado federal. Jamais desprezou cada estágio profissional vivido e sim apreendeu muito com cada um deles, transformando-se, desta forma, num verdadeiro caleidoscópio jurídico, onde os profissionais do Direito e estudantes buscavam o desejado conhecimento pelas várias frestas de saber que oferecia.

E sempre empunhando a bandeira da tenacidade bradando em alta voz o inconfundível “avante” por todos os ventos. Dava a impressão que era fermentado por um dinamismo interno que propulsionava não só a sua vida como também as dos demais, todos irmanados magneticamente por ideais lançados por ele. Um verdadeiro D. Quixote, com vários seguidores atônitos e eufóricos.

Até mesmo no hospital, sabedor que era da gravidade da doença que o afligia, postava vídeos e áudios destilando fundadas esperanças na cura e, ao mesmo tempo, como se fosse um conforto para os amigos, engatava novas e brilhantes propostas para serem realizadas após sua recuperação. Mesmo com as recaídas provocadas pela moléstia, reerguia-se como uma fênix e permanecia irredutível na batalha, querendo vencer e viver.

Via que a tenacidade que lhe era peculiar estava agora aliada ao denodo, que também sempre o acompanhou, revelando uma coragem sobre-humana diante de um perigo invencível. Não deu. Todos sabemos que lutou até findar a última chance. Como um bravo. Um vitorioso com um papel mais do que cumprido por ter deixado um terreno fertilizado pela ousadia e esperança.

Abraços afetuosos a toda família que teve o privilégio de tê-lo como filho, irmão, esposo, pai e avô.

Aos amigos permanece inalterável o brado de “avante”.

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*Eudes Quintino de Oliveira Júnior é promotor de justiça aposentado.

 

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